Enquanto isso, numa casa de família…
– Mãe, com quantos amigos eu posso marcar no shopping?
– Ué, meu filho. Pode marcar com todos.
– Os 5.000?
– 5.000!? Ninguém tem 5.000 amigos, filho.
– Como não, mãe? Eu tenho. O Leandrinho tem. O Guga tem… O Luca… A Betina… Um monte de gente tem. E eu nem contei os seguidores.
– Filho, amigo de Facebook não é amigo, né…
– Como não, mãe?
– Seus amigos são o Leandrinho, o Guga, o Luca, a Betina, o… como é mesmo o nome daquele que faz as batidas com a boca?…
– Pirulito.
– Isso. O Pirulito. Seja lá qual for o nome dele, ele é seu amigo.
– Eu não sabia que você gostava do Pirulito, mãe.
– Eu não gosto. Mas é seu amigo. Mamãe respeita os seus amigos. Os que gostam mesmo de você. Os do Facebook, não.
– Você não respeita os do Facebook?
– Só estou dizendo que não são seus amigos de verdade. Por que você precisa deles para ir ao shopping? São coleguinhas de internet.
– Ah, mãe, qual é a graça de sair só com os parça?
– Só com quem?
– Com os parceiros, mãe. Tem que ter mais gente. Gente nova. As mina tudo…
– Se você quer festa, por que não vai a uma festa? Shopping não é lugar de…
– Festa já é festa, mãe. Que graça tem? A gente quer é FAZER a festa. Dar um rolé, uma tumultuada…
– O-lhá-bô-ca, hein. Filho meu não dá tumultuada em lugar nenhum. Muito menos no shopping. Onde já se viu, João Carlos? O lugar aonde seu pai levava você pra tomar sorvete, com o pouco dinheiro que guardava! Tenha vergonha! Aliás, isso é ideia de quem? Só pode ser do Pirulito.
– Tá bom, tá bom! E onde a gente pode fazer festa, então?
– Pra 5.000 “amigos”? Vai ter que estudar muito, trabalhar muito e comprar uma mansão bem bonita pra sua mãe…
– Pra 500, então.
– Só se pedir a escola emprestada à diretora. Mas depois da sua última suspensão…
– Tá bom, mãe, 50.
– 10, meu filho.
– 10 o quê?
– Eu deixo você convidar 10 amigos aqui pra casa. Se você deixar o Rex com a vizinha, acho que cabe. Mas na primeira tumultuada, eu boto todo mundo pra fora, tá me ouvindo?
– Tá bom, né… Que jeito?…
– Agora vai lavar a mão pra almoçar, garoto.
João Carlos vai ao banheiro lavar a mão pra almoçar, tira o celular do bolso e manda pro grupo “8 Parça” no whatsapp:
– Funcionou! E ainda dá pra chamar mais 2.
Felipe Moura Brasil – https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil
* Crônica de domingo, originalmente publicada e repercutida no Facebook.
** Leia também o artigo: O rolé dos ‘parça’ e o dos ‘companhêru’.
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