Jean Wyllys apagou o post que comentei aqui no blog e pediu “desculpas aos eleitores de Aécio que se sentiram colocados na mesma parte dos racistas e classistas e, por isso, ofendidos”. Isto, para quem sabe ler, não é pedido algum de desculpas, por dois motivos:
1) Wyllys não retira sua acusação de racismo e classismo a boa parte dos eleitores de Aécio; apenas se “desculpa” (entre aspas, já explico por quê) com aqueles inocentes que se sentiram incluídos nesta boa parte supostamente existente.
2) Uma pessoa sinceramente arrependida por cometer uma ofensa pede desculpas por ter ofendido (exemplo: “Eu errei. Eu ofendi os eleitores de Aécio. Peço desculpas por ter feito isso.”). Uma pessoa incapaz de reconhecer seus próprios erros pede desculpas a quem SE SENTIU ofendido com o que disse. No primeiro caso, subentende-se um “eu”, uma responsabilidade individual pela ofensa, reconhecida através do exame de consciência. No segundo, sutilmente se transfere para o outro a responsabilidade de ter vestido a carapuça.
O trecho seguinte de Wyllys comprova o que digo:
“Boa parte” não significa “todos” ou “a totalidade” nem mesmo “a maioria”. Logo, a minha intenção não foi generalizar. Mas reconheço que a maneira com que eu me expressei poderia dar lugar a essa interpretação.
Para Jean Wyllys, como se nota, há eleitores de Aécio classistas e racistas, de modo que ele apenas se corrige para dizer que talvez não sejam a maioria, como possa ter parecido. E o que ele faz em seguida? Substitui “boa parte” por “um número não pouco significativo de eleitores do Aécio” e pronto: já começa a xingar de novo, com aquele ar de quem está apenas constatando um fenômeno demonstrável, muito embora sem prova alguma.
Esse número, segundo ele, “está demonstrando intolerância e um terrível preconceito contra negros, nordestinos, homossexuais e pobres… Isso é fato!”
E cadê o fato? Jean Wyllys não mostra. Apagou a mensagem racista de um perfil fake e, em vez de incluir mensagens de perfis verdadeiros para provar o que diz, apenas afirma que eles existem em algum lugar, gritando: “Isso é fato!” Não é. Isso é propaganda.
Antes, tínhamos que “boa parte dos eleitores de Aécio são racistas e classistas”. Agora temos que “um número não pouco significativo de eleitores do Aécio está demonstrando intolerância e um terrível preconceito contra negros, nordestinos, homossexuais e pobres (…) E há o fato de que a direita mais fascista está com o Aécio”. Isso mesmo: ainda veio o “fascista” de sempre de brinde. E ainda tem gente que acha que Jean Wyllys pediu desculpa.
O deputado, como linha auxiliar do PT, repete também a acusação petista de que FHC “se referiu com desprezo” aos eleitores mais pobres, “desqualificando o valor dos seus votos ‘porque são menos informados’”. Jean Wyllys é assim: constatar a pouca informação de eleitores que votam no PT acreditando na mentira de que a oposição vai acabar com o Bolsa-Família é “desqualificar e desprezar”, ainda que eles próprios confirmem em entrevistas que votaram por causa disso. Já chamar de “racista e classista” primeiro com base em 1 perfil fake e, depois, sem base em perfil algum, seria apenas uma constatação.
E este é o mesmo sujeito, como lembrou um leitor, que achava que a população não deve ser consultada sobre o aborto e os “direitos LGBT” por ser – imagine! – DESINFORMADA.
Quanto cinismo, não é mesmo? E ele continua:
“…e o mapa de votação divulgado pela imprensa contribuíram irresponsavelmente com essa onda de classismo e racismo que é muito ruim para a democracia”.
Supõe-se que responsável, para Jean Wyllys, seria omitir a informação de que Dilma obteve mais votos onde há mais beneficiários do Bolsa-Família. Essa é a “liberdade de imprensa” nos moldes do PSOL: informações desagradáveis aos partidários e aliados não devem circular. Pergunte a Rachel Sheherazade.
Mas o melhor vem agora:
“E eu confesso que, depois de ler esse tipo de comentários nas redes sociais, pouco depois da meia-noite de um dia muito cansativo, após uma campanha muito cansativa, fiquei extremadamente indignado, chateado, triste, apavorado, revoltado, e aquela postagem foi a minha reação sincera e espontânea a esse absurdo!”
Puxa vida, como está cansadinho o Jean Wyllys! Curioso é que ele nunca deu a seus adversários a chance de se explicar assim. O PSOL nunca dá. Sheherazade esclareceu o que queria dizer, mas os psolistas entraram com representação no Ministério Público para calá-la. Agora Wyllys se justifica e, mesmo assim, não se arrepende. Pelo contrário: faz da sua “reação sincera e espontânea” um mérito diante do suposto absurdo que ele atribui aos adversários.
Acusando-os, como fiel seguidor do leninismo, daquilo que ele próprio faz, termina o post com a demagogia que lhe é peculiar:
“Eu sou jornalista, mestre em letras, professor universitário, com vários livros publicados, e não considero, por isso, que o meu voto valha mais do que o de uma lavandeira não escolarizada, um pedreiro ou um cortador de cana. A democracia é feita por todos nós e quem se acha superior aos outros ainda não entendeu de que se trata.”
O sujeito que xingou os outros de tudo quanto é nome sem provas acusa indiretamente FHC de achar-se superior, como se constatar a verificável falta de informação de parte do eleitorado fosse uma afetação de superiodade moral – e como se ele não tivesse feito muito pior naquele vídeo, este sim relativo a questões morais, com a população do Brasil inteira! Eu não sou idiota o bastante para dizer que Jean Wyllys não entende o que é democracia. Ele deve entender, sim. Apenas chama outra coisa pelo seu nome, como é de praxe entre socialistas do PSOL.
Com gente do naipe de Sarney, Renan, Collor, Maluf, Garotinho, Stédile e, last but not least, o embusteiro intolerante Wyllys, não se pode negar que Dilma tem os apoios que merece.
Felipe Moura Brasil ⎯ https://www.veja.com/felipemourabrasil
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