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Felipe Moura Brasil

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Análises irreverentes dos fatos essenciais de política e cultura no Brasil e no resto do mundo, com base na regra de Lima Barreto: "Troça e simplesmente troça, para que tudo caia pelo ridículo".
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ANÁLISE: Já vai tarde, Francisco Bosco

Entenda aparelhamento de Estado e Cultura pelo exemplo do ex-presidente da Funarte

Por Felipe Moura Brasil Atualizado em 5 jun 2024, 01h40 - Publicado em 25 Maio 2016, 00h17
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  • Em 29 de julho de 2013, montei a seguinte imagem ilustrativa para meu artigo “O vale-crime de Francisco Bosco” – o mais completo que já escrevi sobre a legitimação moral da criminalidade por parte de militantes de esquerda:

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    Sim: o então colunista do Globo afirmou, em 2013, que os saqueadores Black Blocs nos representam, tendo já afirmado, em 2011, que a prisão de Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, à época líder do tráfico de drogas na Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, havia sido injusta.

    Em 30 de janeiro de 2015, relembrei a imagem e o artigo (os meus) quando o então ministro da Cultura do governo de Dilma Rousseff, Juca Ferreira, anunciou Bosco como o novo diretor da Funarte (Fundação Nacional de Artes), cuja verba anual era da ordem de R$ 250 milhões.

    O cabo eleitoral de Marcelo Freixo (PSOL-RJ) e autor do artigo “Odeio o Brasil” – um piti em que projetava sobre o país sua frustração com o “governo supostamente de esquerda” do PT – era finalmente acalmado com uma boquinha no “governo supostamente de esquerda” do PT.

    Título do meu post: “A cultura do crime: colunista que trata bandidos como vítimas assume Funarte. Vai ter edital para eles também?

    Menos de seis meses depois, em julho de 2015, Bosco confessou sua inexperiência como gestor, naturalmente compensada pela seu compromisso em cumprir uma função de militante no aparelhamento esquerdista do Estado:

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    “Eu nunca tinha tido nenhuma experiência em gestão e sou suficientemente não ingênuo para saber das dificuldades que me aguardavam. Mas o fato de ter sido chamado pelo Juca Ferreira, cujo trabalho eu já acompanhava de longe há anos, e essa convicção que eu tenho da necessidade de contribuirmos para tornar o Estado brasileiro mais de acordo com as ideias que temos me colocaram aqui. (…)

    Tem determinados setores que vão defender determinados interesses. Nesse sentido eu, enquanto presidente da Funarte, sempre procurarei fazer uma política que privilegie uma perspectiva de esquerda, que é a de tentar produzir um equilíbrio maior no conjunto da sociedade. Então é natural que quem não tem posições de esquerda se levante contra essas ideias.”

    O “natural”, na verdade, é que nós nos levantemos contra o privilégio confesso a qualquer perspectiva político-ideológica no gasto milionário de verbas públicas – especialmente quando elas são destinadas a artes e espetáculos, naturalmente capazes de disseminar, transformar e até inverter no ambiente cultural ideias, valores, crenças e sensos comuns que servem de base para a tomada de decisões dos indivíduos nas esferas privada e pública, com potencial de mudar os rumos de todo o país.

    O “natural”, também, é que nos levantemos contra o vício militante do presidente de qualquer órgão de Estado de atribuir à sua ideologia uma perspectiva supostamente meritória contra a qual só se levantariam os que aderem a outras correntes, como se não houvesse cidadãos independentes capazes de distinguir, com senso prático e moralidade comum, o que é melhor ou pior para o Brasil.

    Em suas declarações e atividades, Bosco exemplifica com exatidão uma das facetas e resultados da estratégia de fazer a “Revolução Cultural” para tomar (e manter) o poder político, proposta pelo ideólogo comunista italiano Antônio Gramsci e seguida à risca pela esquerda brasileira desde a virada dos anos 1960/70: a da infiltração de militantes em centros disseminadores de ideias da sociedade (escolas, universidades, mídia, show business, mercado editorial) para espalhar somente as ideias que interessam ao Partidão até o povo inconscientemente manipulado apoiá-lo voluntariamente, inclusive nas eleições.

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    Décadas de “ocupação de espaços” resultaram na “hegemonia cultural” esquerdista (expressões de Gramsci) que serviu de base para a ascensão do PT ao poder e para que Bosco, mais tarde, viesse a ocupar o referido espaço no seio do Estado para mantê-las.

    Em 12 de maio de 2016, no entanto, veio o afastamento de Dilma Rousseff.

    A conjuntura que nele culminou teve duas frentes.

    De um lado: a institucionalização da corrupção no governo Lula, o descaramento de petistas e apaniguados em assaltar o Estado e promover a divisão da sociedade, a competência dos integrantes da Operação Lava Jato e do juiz Sérgio Moro em revelar e punir esses crimes, o aumento indiscriminado dos gastos públicos sem a menor precaução para o cenário de queda do preço das commodities, e, claro, a inépcia e as fraudes fiscais de Dilma que resultaram na previsão de maior recessão da história do Brasil.

    De outro lado: todo um movimento intelectual independente que desmascarou os métodos e engodos do PT encobertos pela esquerda dominante nos meios de informação e cultura; o advento de internet, blogs e redes sociais que permitiram a esses autores e a cada cidadão construir um grande público, contradizer o oficialismo, espalhar refutações, convocar manifestações de rua, abrir uma fresta no mercado editorial para a circulação de obras e ideias antes boicotadas, e cobrar de veículos e políticos uma postura condizente à gravidade do quadro político e econômico do país.

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    Só tem um detalhe: o afastamento de Dilma não implicou o afastamento integral de petistas, apaniguados, infiltrados e “artistas” que garantiram suas boquinhas estatais e seus meios de ação no ambiente cultural durante os períodos de ascensão e manutenção do projeto criminoso de poder do PT.

    Resultado: eles agora reagem e tentam sabotar o governo de Michel Temer, embora Dilma tenha deixado um rombo de R$ 170,5 bilhões nas contas públicas, que prejudicou inclusive o repasse de recursos à Funarte.

    Em 13 de maio, quando entregou o cargo, o próprio Bosco publicou nota no site, afirmando que a Funarte está em situação “desastrosa”.

    “Todos os editais de 2015 estão empenhados como ‘restos a pagar’ porque a Funarte não tem independência financeira. Isso significa que o Estado é obrigado a pagar esses editais, na medida em que for entrando dinheiro”.

    Segundo Bosco, “os repasses financeiros do governo federal ao MinC – e desse à Funarte – se concretizaram até o momento em valores drasticamente mais baixos do que os repasses feitos no ano anterior no mesmo período”.

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    Tem mais: “Em 2016, a Funarte deve operar em nível de custeio. Ou seja, pagando apenas a sua estrutura – funcionários, contas etc. A Funarte não terá quase nada para investir em linguagens artísticas.”

    Mesmo assim, em 20 de maio, três dias após sua exoneração, Bosco deu um piti no Facebook, anunciando que se recusa a dialogar com o novo ministro da Cultura.

    Comento abaixo seu post:

    Marcelo Calero “me procurou ontem para conversarmos. respondi a ele que, embora considere muito boa a sua gestão como secretário municipal do rio, e embora goste dele pessoalmente, é impossível pra mim aceitar o pedido de diálogo”.

    Escrevi aqui que Calero era queridinho da esquerda carioca, núcleo principal dos protestos contra o fim do MinC, e Temer apostou em seu nome justamente por causa disso. Escrevi também que, mesmo assim, produtores antes encantados com incentivos públicos do então secretário municipal a rodas de samba, cineclubes, borboletários e outros projetos para além da zona rica da cidade ainda podiam considerar Calero um traidor por entrar no governo “golpista”.

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    Bosco é um exemplo dessa gente.

    “como conversar com alguém que pactua com um governo que derrubou o governo anterior de forma ilegal e ilegítima?”

    Dilma foi afastada de forma legal e legítima não pelo novo governo, mas pelo Congresso Nacional, conforme preveem os artigos constitucionais ignorados por Bosco e o rito de impeachment avalizado pelo Supremo Tribunal Federal. O resto é esperneio de quem não aceita a lei e a derrota.

    “é uma contradição em termos propor o diálogo a partir do lugar de quem silenciou a voz mais fundamental de qualquer democracia, que é a sua constituição.”

    Quem “silenciou a voz” da Constituição foram Nem e os Block Blocks, defendidos por Bosco. Outras vozes também foram silenciadas durante o reinado de terror do líder do tráfico na Rocinha. Pelo menos dezoito pessoas acabaram condenadas ao sumiço eterno – pessoas pobres que a “perspectiva de esquerda” sobre a bandidagem ignora.

    Quem considera injusta prisão de traficante e se diz representado por saqueadores não tem legitimidade para falar em nome da Constituição.

    “dialogar, nesse contexto, implicaria reconhecer a legitimidade desse lugar – e esse governo eu não reconhecerei nunca.”

    Ótimo. Já pode largar a boquinha.

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    Francisco de Castro Mucci, o Francisco Bosco, tinha remuneração bruta mensal de quase 14 mil reais, segundo o Portal da Transparência

    “portanto disse ainda que infelizmente não posso nem mesmo lhe desejar boa sorte, já que meu único desejo e minha única luta é para que esse governo caia.”

    Este blog deseja e luta para que o Brasil se recupere do rombo deixado pelo governo defendido por Bosco.

    “hesitei em postar isso porque geralmente repudio a publicização de conversas privadas;

    Quando defendeu saqueadores de lojas, legitimando moralmente o crime, Bosco usou recurso semelhante: “é claro que eu preferiria obter transformações estruturais sem as injustiças e as confusões decorrentes dessas passagens ao real (que não é o mesmo que ‘passar ao ato’), mas isso não me parece possível, justamente”.

    Bosco repudia o que faz, ou preferiria fazer outra coisa, mas sabe como é: quando os interesses políticos estão em jogo, ele acaba fazendo mesmo.

    “mas nesse caso penso que tenho o direito de tornar público o meu posicionamento político.”

    Este blog tem dificuldade de lembrar quando foi que Bosco fez outra coisa.

    “ps: tenho lido muitos artistas defenderem o minc com uma argumentação completamente destituída do contexto político mais amplo e do sentido político do ministério. acho essa postura lamentável e, em alguns casos, oportunista.”

    Bosco já tinha a boquinha fixa na Funarte, mas os supostos artistas fazem questão da boquinha esporádica em projetos aprovados pelo MinC.

    “para mim, a luta pelo minc é inseparável da luta por um minc dedicado a políticas públicas abrangentes e inclusivas. um minc para financiar as velhas elites lobbistas é tudo que não precisamos -“

    Esta é a suposta “perspectiva de esquerda” de que falava Bosco. Seu ponto positivo é voltar-se contra os próprios artistas esquerdistas que, na verdade, constituem o que ele chama de “velhas elites lobbistas” com dois bês. Como afirmou em embate com a atriz Fernanda Torres, “o Estado, de modo geral, não deve usar dinheiro público para viabilizar projetos que o mercado já viabiliza”. É o único posicionamento de Bosco que este blog generosamente endossa.

    O resto da “perspectiva” inclui o filtro ideológico de sempre e a plataforma para propaganda política. Bosco reclama até que a Funarte está sem dinheiro para trabalhar com “minorias de gênero”.

    “nós que defendemos um estado democrático no sentido profundo da palavra.”

    “Profundo”, sim, como o fosso onde devem estar enterrados os desaparecidos da Rocinha.

    “a luta pelo minc não pode ser separada da luta contra o golpe e da luta por uma sociedade profundamente democrática.”

    A luta pela recuperação do Brasil e pela sobrevivência do governo Temer não pode ser separada da “despetização” e da “despsolização” da máquina pública e da cultura.

    Nesta terça, 24 de maio, ao traçar a diretriz da nova gestão em sua posse como ministro, Calero alfinetou o PT e seus apaniguados, aludindo ao uso do MinC como bunker da propaganda petista:

    “Os programas da Prefeitura do Rio são vivo exemplo de gestão republicana. Modelo que será observado com máximo rigor. O partido da cultura é a cultura, não qualquer outro. Estaremos sujeitos àquilo que a sociedade demanda, nunca a serviço de um projeto de poder”.

    O primeiro passo, portanto, é demitir todos os ‘boscos’ e tirar de uma vez as ‘bosquinhas’.

    (* Veja também:O vale-crime de Francisco Bosco“.)

    Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil

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