É tradição do PT usar especialistas ou representantes religiosos supostamente desvinculados do partido para conferir às posições políticas petistas a autoridade técnica ou moral que lhes falta.
Em praticamente todos os casos, tratam-se de militantes partidários afetando isenção como “juristas”, “católicos” e “evangélicos” para ludibriar a opinião pública, com ajuda da imprensa amiga.
A Folha de S. Paulo, por exemplo, publicou a seguinte manchete nesta segunda-feira:
Obviamente, “católicos e evangélicos” de um modo geral não condenaram impeachment algum.
A condenação veio em notas divulgadas por apenas dois órgãos aparelhados pelo PT:
1) Conic: Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil.
2) CNBB: Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
Este blog comprova o que diz.
1) Conic:
Luzmarina Garcia, que, na reportagem um pouco mais cuidadosa do Estadão, defende a posição do Conic contra o impeachment, foi cabo eleitoral de Dilma Rousseff na campanha de 2014.
Aos 2min11seg do vídeo abaixo, ela dá um discurso político afinado com a propaganda populista do PT:
“Meu nome é Luzmarina Campos Garcia, sou pastora luterana, presidente do Conselho de Igrejas Cristãs do estado do Rio de Janeiro. Eu voto em Dilma, porque ela fez por uma opção clara pelos pobres. Este é um governo, juntamente com o governo de Lula, que optou pelos pobres de uma maneira como nenhum outro governo havia optado antes. É o governo que mais se aproxima dos valores mais profundos do Evangelho. Por isso, voto Dilma. Dilma, você é a mãe dos pobres do Brasil.”
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=YNUk_g8B6RU?feature=oembed&w=500&h=375%5D
Na matéria “Conselho de igrejas critica impeachment”, o Estadão pelo menos acrescentou que “a posição da entidade não é acompanhada por lideranças evangélicas” ouvidas pelo jornal.
A Folha, não.
2) CNBB:
O assessor político da CNBB é o velho conhecido deste blog Daniel Seidel, ex-candidato (adivinhe!) petista(!) a deputado federal (2002) e distrital (2014).
Ele é também o secretário-executivo da Comissão Brasileira Justiça e Paz, braço da CNBB que divulgou a nota na semana passada para manifestar “imensa apreensão” com a abertura do processo de impeachment contra Dilma Rousseff.
Daniel Seidel se aproveita da suposta representatividade da comissão entre os católicos para fazer, como se falasse em nome da Igreja, propaganda de Dilma e do projeto de poder do PT, incluindo a reforma política.
Nunca é demais lembrar o vídeo – que virou hit no Youtube após a divulgação neste blog em abril – no qual o estudante Marco Rossi Medeiros reage à pregação de Seidel e de seus comparsas de CUT, CTB e MST no seminário A Reforma política que o Brasil precisa, realizado na PUC de Goiás em 24 de abril.
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=cRYdJ88NqXs?feature=oembed&w=500&h=281%5D
3) Juristas
Dilma Rousseff precisou reunir 30 juristas para defendê-la contra um pedido de impeachment assinado por três – sinal evidente de que precisa da quantidade para deslegitimar a qualidade.
A suposta presidente deu palanque nesta segunda-feira para que os “especialistas” em Direito (petista) se pronunciassem a respeito da medida, num ato de escancarado viés político, que incluiu a velha atribuição da culpa do desastre econômico do governo do PT à crise internacional.
Após os discursos, o advogado de Dilma disfarçado de ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, frisou justamente a suposta neutralidade dos “professores”, dizendo que eles “não integram o governo nem foram eleitos”, ao contrário do vice-presidente e também constitucionalista Michel Temer.
Ou seja: Cardozo escancarou a estratégia do PT descrita neste post.
Só faltou explicar ao distinto público que vários daqueles “especialistas” têm suas boquinhas em universidades federais que recebem dinheiro do governo.
Por exemplo: Marcelo Neves é professor da UnB; Francisco de Queiroz Bezerra Cavalcanti, da Faculdade de Direito do Recife, parte da Universidade Federal de Pernambuco.
Já a criminalista Rosa Cardoso é ex-presidente da Comissão Nacional da Verdade – aquela que apontou 434 mortos durante o regime militar e ignorou pelo menos 121 pessoas assassinadas por grupos terroristas, inclusive os três que Dilma integrou.
Celso Antônio Bandeira de Mello e Pedro Estevam Serrano, ambos professores da PUC/SP, são dois exemplos de cabos eleitorais de Dilma: eles assinaram o manifesto dos juristas que declararam voto na petista nas eleições de 2014.
Assim como vários outros da tropa contra o impeachment, especialmente Dalmo Dallari, eles são também figurinha fácil nos blogs sujos do PT, onde cada um costuma aparecer, claro, como “um dos mais importantes juristas brasileiros”, sempre sustentando os embustes do partido.
No caso do mensalão, Mello disse que “as condenações foram políticas”, “feitas porque a mídia determinou”; e, no do petrolão, Serrano repete que “delação premiada é confissão sob tortura psicológica”.
[* Atualização: Duas horas após este post, a Época informou que o advogado Marthius Lobato, também entre os 30 de Dilma, “é amigo do ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares e do ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, preso em Curitiba na Lava Jato desde o começo de agosto. Lobato também advogou para o mensaleiro Henrique Pizzolato, preso na Papuda desde o fim de outubro”.]
Eu poderia continuar a dar as referências dos outros nomes, mas 30 são demais e eu tenho mais o que fazer. Dilma e Cardozo, sim, deveriam explicar quem pagou a viagem desses militantes a Brasília.
* Outros comentários feitos em tempo real:
* Relembre também aqui no blog:
– Função da OAB: produzir manchetes a favor do PT
Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil
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