Golpe de Sorte em Paris é seu 50º filme. Como se sente ao atingir esse número impressionante na carreira? Olha, eu não sou uma pessoa que gosta de tirar férias, nem nadar, caçar ou esquiar. Só fico em casa. Logo, não tenho nada para fazer além de filmes. Meus filmes não custam muito caro. Sempre consegui financiamento. Assim, fiz um atrás do outro e, do nada, bang!, foram cinquenta filmes. Poderia fazer muitos outros se minha saúde aguentasse e tivesse quem financiá-los.
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Ficou mais difícil encontrar quem banque seus filmes após as polêmicas que envolvem sua vida pessoal? Minha vida pessoal é ótima. Tenho uma esposa incrível, duas filhas maravilhosas. Mas a indústria cinematográfica mudou. Enquanto eu tiver financiamento, vou continuar fazendo filmes. É como andar de bicicleta, sei como fazê-los.
O senhor cogitava se aposentar. Mudou de ideia? Eu ainda tenho tantas histórias para contar. Mas não vai dar tempo. Talvez eu faça mais dois filmes, quem sabe. Quando eu morrer, deixarei para trás uma meia dúzia de ideias que não serão concretizadas.
Há alguns anos, o senhor quase rodou um filme no Rio de Janeiro. Ainda pensa nisso? Tivemos reuniões com produtoras brasileiras na época, mas não vingaram. Se eu tivesse uma ideia original, adoraria filmar no Brasil. Para os americanos, o Brasil é um clichê romântico. Nós conhecemos o país através dos filmes, da mesma forma que conhecemos Paris ou Nova York. Seria bom explorar um viés diferente.
Publicado em VEJA de 13 de setembro de 2024, edição nº 2910