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Super-heróis da Marvel são os novos (e poderosos) inimigos da China

Após anos de uma relação amigável – e muito lucrativa – país agora torce o nariz para o posicionamento político dos filmes do estúdio

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 12 Maio 2022, 16h39

Um detalhe aparentemente insignificante em Doutor Estranho no Multiverso da Loucura causou celeuma entre a Marvel e o governo chinês. Enquanto o herói vivido por Benedict Cumberbatch luta contra um monstro nas ruas de Nova York, aparece, na calçada, um totem com jornais do The Epoch Times, publicação vocal contra o Partido Comunista Chinês. O detalhe – o qual a Disney ainda não explicou a razão de estar em cena – é apontado como o motivo para a longa demora da censura chinesa em aprovar uma data de estreia para o filme no país. A essa altura, a esperança é que a superprodução não entre em cartaz por lá, o que pode causar à Marvel um prejuízo de 300 milhões de dólares – ou mais.

O boicote a Doutor Estranho é apenas a cereja do bolo de uma crescente briga ideológica. O último filme da Marvel a ser lançado na China foi Vingadores: Ultimato, em 2019, que arrebanhou por lá 629 milhões de dólares. Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis, primeiro filme da Marvel protagonizado por um herói chinês, vivido por Simu Liu, foi barrado por comentários críticos do ator sobre o próprio país. Viúva Negra, acredita-se, não passou pelo crivo por sua trama contra a União Soviética e, consequentemente, anti-comunista. Outra teoria ecoa no meio: todos podem ser parte de um grande boicote da China contra Chloé Zhao. A cineasta chinesa, contratada pela Disney para conduzir o filme Eternos, disse em uma entrevista que seu país é “guiado por mentiras por todos os lados”. Logo, Chloé acabou “cancelada” por sua terra natal. 

NO SET - Chloé Zhao instrui Madden: inspiração nos mangás -
NO SET DE ETERNOS – Chloé Zhao instrui Madden: inspiração nos mangás – (Sophie Mutevelian/Marvel Studios/.)

A relação do estúdio hollywoodiano e do gigantesco país oriental nem sempre foi assim – mas era de se esperar que chegaria a essa ruptura. No início dos anos 2010, a Marvel e outros estúdios americanos passaram a mudar seus roteiros para se encaixar no “padrão censura chinês”. A presença de atores chineses nos roteiros americanos aumentou, assim como gravações no país, e até edições específicas foram usadas na estratégia para conseguir uma vaga nas salas de cinema.  Além do escrutínio da censura, a China ainda limita a 34 o número de estreias internacionais, com a desculpa de que prefere proteger a produção nacional – antes, o número de filmes gringos a entrar em cartaz era limitado a 20.

Era de se imaginar que essa lua de mel chegaria ao fim. Defensora de pautas progressistas, como a bandeira LGBT – tema presente no segundo Doutor Estranho e que causa arrepio à censura chinesa–, a Marvel e outros estúdios se viram diante da questão: vamos editar nossos filmes e contratar profissionais pautados pelas premissas ideológicas da China? A resposta, cada vez mais, é não – mesmo que centenas de milhões de dólares sejam sacrificados. Que assim continue.

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