Na última semana, 55 000 pessoas foram aos cinemas brasileiros para assistir ao longa Nada É Por Acaso, protagonizado por Giovanna Lancellotti. Inspirado na obra homônima de Zíbia Gasparetto, escritora espírita que vendeu mais de 18 milhões de livros ao longo da carreira, o filme arrecadou 921 000 reais na semana de estreia, ocupando o terceiro lugar no ranking de mais vistos da Comscore entre os dias 17 e 20 de novembro. Embora fique longe dos blockbusters de super-heróis que encabeçam a lista, Pantera Negra e Adão Negro, o filme colocou o cinema nacional no pódio apostando no retorno de uma tendência que fez sucesso na última década: o chamado “cinema espírita”.
Popular na década passada, o filão ficou em banho-maria por anos, mas recobrou terreno com novas produções. Entre as mais recentes, Predestinado: Arigó e o Espírito do Dr. Fritz embolsou 4 milhões de reais em bilheteria com a história de José Pedro de Freitas, o Zé Arigó, médium famoso por suas cirurgias espirituais na década de 1950. Em outubro, o documentário Chico Para Sempre também estreou nas telas, marcando os vinte anos da morte de Chico Xavier. Para o ano que vem, a indústria do cinema espera ansiosa pela chegada de Nosso Lar 2, sequência do fenômeno de bilheteria de 2010 inspirado no livro homônimo psicografado por Chico Xavier.
Entre 2008 e 2011, o cinema espírita nacional viveu sua época de ouro. Lançado em agosto de 2008, Bezerra de Menezes — O Diário de um Espírito puxou a fila com um público de meio milhão de pessoas. Dois anos depois, em 2010, Nosso Lar arrecadou 21 milhões de dólares em bilheteria, sucesso também visto em Chico Xavier, que abocanhou 17 milhões de dólares globalmente. No ano seguinte, As Mães de Chico Xavier foi assistido por meio milhão de pessoas no Brasil.
Naquela época, o avanço do espiritismo no entretenimento refletia também o crescimento da doutrina na população brasileira: entre o censo de 2000 e o de 2010, o número de espíritas no Brasil cresceu 65%, indo de 2,3 milhões para 3,8 milhões — o número representa apenas 2% da população brasileira, mas foi suficiente para que o cinema, o mercado editorial e até a televisão surfassem na onda da doutrina, lançando uma série de filmes, livros e até novelas que abordam a temática. Passados mais de dez anos, o novo censo foi atrasado pela pandemia, mas deve ser divulgado ainda em 2022, revelando em que pé está a doutrina de Alan Kardec no Brasil — se depender das pistas dadas pela indústria do entretenimento, um crescimento não seria surpreendente.