‘Missão Impossível 7’: os segredos do frescor da franquia de Tom Cruise
Filme mostra o astro exibindo vigor e juventude — mas deixa no ar o que será da série sem o devotado ator
Um valioso item está prestes a ser trocado num trem em movimento, e o agente secreto Ethan Hunt (Tom Cruise) precisa recuperá-lo a todo custo. O que, no caso, significa fazê-lo sem economia de adrenalina: ao perseguir o comboio de moto, Hunt galga uma encosta íngreme entre os trilhos sinuosos — e, lá do alto, dá um salto para pousar de paraquedas em cima dos vagões em alta velocidade. A cena é uma das mais impressionantes do novo Missão: Impossível — Acerto de Contas — Parte 1, já em cartaz nos cinemas — embora, a essa altura do campeonato, sequências assim sejam tão típicas e esperadas com deleite pelos fãs. Lançada há 27 anos, a franquia conseguiu o raro feito de se manter fiel à sua essência sem deixar de se conectar à nova geração — ao contrário de Indiana Jones, que hoje empolga mais os nostálgicos, ou Velozes e Furiosos, que se assumiu como piada.
Boa parte do êxito se deve ao carisma e à dedicação de Tom Cruise. Conhecido por seu perfeccionismo, o astro se notabilizou por realizar cenas perigosas sem o auxílio de dublês. Para a gravação do lance da moto voadora, ele treinou adoidado: fez mais de 500 saltos de paraquedas, 13 000 de moto e um ano de base jumping (o salto de encostas rochosas). Para garantir o enquadramento perfeito, gravou a cena oito vezes, saltando com a motocicleta de uma encosta na Noruega e abrindo o paraquedas a apenas 150 metros do chão. Essa não foi a única cena arriscada: há várias outras, como uma espetacular perseguição de carros pelas vielas de Roma.
Mission: Impossible – 6-movie Collection
O enredo aposta num elemento curioso: o vilão é uma forma de inteligência artificial que dominou todos os meios de comunicação do mundo. Ou seja: esqueça os absurdos dispositivos tecnológicos que a trupe formada pelos agentes Benji Dunn (Simon Pegg), Luther Stickell (Ving Rhames) e Ilsa Faust (Rebecca Ferguson) está acostumada a usar. Agora, para escapar das garras da maligna IA chamada de “Entidade”, eles têm de retornar aos bons e velhos apetrechos analógicos — o que se revela uma sacada bem divertida. No cinema de efeitos digitais de hoje, adrenalina real é bem-vinda.
Mas como materializar uma ameaça virtual sem apelar para nerds chatos escrevendo códigos de computador em laboratórios, e sem abdicar das clássicas cenas de perseguições e lutas que todos amamos assistir? A saída é fácil: o enredo apela a capangas dispostos a cumprir ordens da inteligência artificial, incluindo no pacote o retorno de um personagem do passado, Gabriel (Esai Morales), que alimenta certa rivalidade com Hunt.
Apesar do aceno a um tópico tecnológico do momento, a trama não oferece nada além do que se vê em todo Missão: Impossível. Difícil, aliás, lembrar a história de algum dos filmes anteriores — mas Cruise, sabiamente, percebeu que esse detalhe é o de menos: o que vale é investir nas elaboradíssimas cenas de ação. Quem assiste às produções da franquia se torna uma espécie de voyeur das peripécias do astro.
No fundo, a verdade é que desejamos ver o incansável ator de 61 anos colocando a vida em jogo pelo prazer da audiência. Esse sétimo Missão: Impossível foi dividido em duas partes — a segunda deve estrear em 2024. E assinala uma encruzilhada: deverá marcar o fim da participação de Cruise, abrindo um vazio que só o futuro dirá se a franquia será capaz de superar.
Publicado em VEJA de 19 de julho de 2023, edição nº 2850
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