PRORROGAMOS! Assine a partir de 1,50/semana

Em Cartaz

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Do cinema ao streaming, um blog com estreias, notícias e dicas de filmes que valem o ingresso – e alertas sobre os que não valem nem uma pipoca
Continua após publicidade

Megalópolis: a odisseia de Coppola para tirar filme dos sonhos do papel

Novo longa do diretor é extravagante e difícil de digerir — mas é impossível ficar indiferente a sua mensagem antiautoritarismo

Por Raquel Carneiro e Jennifer Queen, de Cannes
Atualizado em 3 jun 2024, 16h45 - Publicado em 24 Maio 2024, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Da sacada de um enorme edifício, Caesar Catalina, interpretado por Adam Driver, observa a imensidão da cidade abaixo e grita: “Tempo, pare!”. Político, artista, arquiteto e físico quântico, ele almeja construir uma utopia particular — sendo assim, mandar no tempo se revela uma arma de manipulação preciosa. Catalina não é o único com ambições grandiosas no filme Megalópolis (Estados Unidos, 2024), nova e ousada aposta do diretor Francis Ford Coppola, exibido recentemente no Festival de Cannes — ainda sem data de estreia no Brasil. Nessa realidade futurista, tecnologias avançadas contrastam com a arquitetura e os modismos da Roma Antiga, mistura do ultrapassado e da inovação que vai além da estética para permear o roteiro. Ao longo de quase duas horas e meia, a produção, sobre poderosos que tentam impor aos demais sua visão de mundo, provoca, confunde, choca e oferece previsões nada otimistas para a humanidade. Ao fundo, cria paralelos entre os Estados Unidos de hoje e a república decadente que abriu espaço para o tirânico império romano no passado.

    O Cinema ao Vivo e as Suas Técnicas – Francis Ford Coppola

    Aos 85 anos, Coppola tem opiniões políticas contundentes — e sua obra é prova de que ele desconfia de qualquer um com muito poder. Possui também o vigor de um iniciante, ávido por trabalhar e por se aventurar criativamente. A combinação dessas duas facetas foi o combustível de Megalópolis. Orçado em 120 milhões de dólares, a extravagância cinematográfica foi rejeitada pelos grandes estúdios, que, apesar da assinatura de Coppola, optaram por investir em produções, por assim dizer, mais certeiras — como filmes rasteiros de super-­heróis. O diretor, então, vendeu sua vinícola na Califórnia para bancar o longa do próprio bolso. “Dinheiro não importa”, disse o cineasta em Cannes — sem deixar de ressaltar que sua família ainda possui o suficiente para viver de forma confortável.

    VETERANO - O mestre no set: sonho de 120 milhões de dólares pago por ele
    VETERANO - O mestre no set: sonho de 120 milhões de dólares pago por ele (MEGA/GC Images/Getty Images)

    O poderoso chefão – Mario Puzo

    Continua após a publicidade

    Ícone incontestável do cinema, Coppo­la fez parte de uma geração estrelada que moldou Hollywood nos anos 1970: a trupe de amigos iniciantes ainda contava com Steven Spielberg, George Lucas e Martin Scorsese. Entre eles, Coppola foi o primeiro a ganhar prestígio graças ao monumental O Poderoso Chefão (1972). Na mesma década, o diretor se aventurou no que seria o trabalho mais difícil de sua carreira até ali: o longa de guerra Apocalypse Now (1979), ambientado no Vietnã. Os bastidores foram caóticos — com direito até a um infarto do ator Martin Sheen, que adiou gravações. Quando entrou em cartaz, causou polêmica e deixou críticos confusos: não se sabia então que o filme se tornaria, com o tempo, outra obra-­prima aclamada do cineasta — nem que sua temática, sobre o imperialismo americano, se manteria atual por décadas a fio. Foi no set de Apocalypse Now que Coppola pensou no roteiro de Megalópolis pela primeira vez.

    Apocalypse Now [Blu-ray]

    Ao longo desses quarenta anos de planejamento aconteceu de tudo no caminho do filme: do 11 de Setembro, que cancelou a produção, afinal, não pegaria bem um filme criticando os Estados Unidos, até um recente embate de gerações que agitou os bastidores. Dias antes da estreia no evento francês, o longa foi tema de uma reportagem no jornal inglês The Guardian, que listou atitudes controversas de Coppola, desde gastar muito sem planejamento, passando por longos sumiços do diretor, até a preparação de uma cena de festa na qual ele dançou e deu beijos nas bochechas de figurantes. O climão, contudo, ficou só na internet: na sessão de gala da estreia e na coletiva de imprensa no dia seguinte, Coppola foi aplaudido e elogiado — até por quem nem gostou tanto assim de seu novo filme. De fato, Megalópolis não é fácil de digerir.

    Continua após a publicidade
    CLÁSSICO - Cena de Apocalypse Now: a semente para o roteiro nasceu ali
    CLÁSSICO - Cena de Apocalypse Now: a semente para o roteiro nasceu ali (Zoetrope Studios/Corbis/Getty Images)

    A conjuração de Catilina – Salústio

    Como sugere o nome do protagonista de Adam Driver, Caesar Catalina é inspirado no militar romano Lucius Sergius Catilina (108 a.C.-62 a.C.), que conspirou contra a república de Roma. Coppola aponta que os Estados Unidos de hoje correm o mesmo perigo. “O que está acontecendo em nossa república, nossa democracia, é exatamente como ocorreu com Roma”, disse o diretor, que ainda lamentou o crescimento da extrema direita e de “tradições fascistas” enquanto criticava Donald Trump. Sobre a possibilidade de Megalópolis ser seu último filme, ele garante não se preocupar com a idade avançada e a chegada da morte: “Não carrego arrependimentos. Vi minha filha ganhar um Oscar, produzi vinho, fiz meus filmes. Quando eu morrer, nem vou perceber”. É um diretor em poder de seu tempo.

    Continua após a publicidade

    Publicado em VEJA de 24 de maio de 2024, edição nº 2894

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    Apenas 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

    a partir de 35,60/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.