Marieta Severo e astro de ‘365 Dias’ estrelam drama de tom político
Filme brasileiro 'Duetto' retrata jornada de mulheres divididas entre passado, presente e futuro

Em 1965, a vida de Lucia (Marieta Severo) está um caos. Enquanto o Brasil, onde ela vive, adentra os primeiros momentos da Ditadura Militar, a mulher lida com a dor da perda de seu único filho e a necessidade de retornar ao seu país de origem, a Itália, para resolver o imbróglio em torno da venda das terras de sua família. A viagem à Europa é também uma viagem no tempo: Lucia deve encarar questões mal resolvidas do passado. Já sua neta, Cora (Luisa Arraes), que vai junto, se vê dividida entre dois homens, Carlo (Gabriel Leone) e Marcello (Michelle Morrone, astro da saga erótica 365 Dias), um cantor italiano que luta contra o fascismo. O drama familiar com pitadas políticas do filme Duetto, em cartaz nos cinemas, leva Marieta, 75 anos, de volta ao país onde ela se exilou na vida real, quando era casada com Chico Buarque e estava grávida da primeira filha do casal.
Apesar de não ter viajado de fato para a Itália por uma escolha da produção, que levou apenas Luisa Arraes e Gabriel Leone para a Europa, Marieta Severo voltou a fazer aulas de italiano para relembrar a língua que usa para contracenar com os atores Elisabeta de Palo e Giancarlo Giannini (que interpretam Sofia e Gino, a irmã e o ex-noivo de Lucia que estão casados). “A Lucia vai muito atrás do passado a partir da morte do filho dela. Ela quer resgatar a própria história, tentando reconstruir a vida de alguma forma, e ajudar na construção da vida da neta. Então foi impossível para mim não tocar nesses lugares da minha menina de 22 anos [ela mesma na vida real], assustada, tendo que aprender italiano no curso de parto [na época do exílio durante da Ditadura Militar no Brasil]. Então passei sim nesse lugar de uma história que fala de um resgate de um passado que aprisiona”, contou a atriz em entrevista a VEJA.
Questionada sobre o que sentiu ao revisitar dramaticamente a Itália, a artista avalia que a maturidade lhe rendeu uma nova visão sobre o país, após anos de terapia. “É muito diferente. É um sentimento visto de um ângulo diferente. Eu tenho 75 anos, tenho uma vida feita, né? E já fiz muita psicanálise, então também não senti necessidade de desfazer esses nós do passado”, completa.
Com conflitos familiares envolvendo a traição de Sofia e Gino com Lucia, que esconde alguns segredos do casal, Duetto transita entre a necessidade de uma idosa em resolver questões do passado, enquanto a jovem Cora tenta descobrir quem quer ser no futuro. O drama tocante revisita traumas identificáveis a qualquer família disfuncional (e qual não é?) que soterra mágoas por décadas pelo medo de se olhar no espelho ou para evitar temas espinhosos, como sonhos abandonados pelo caminho para priorizar o dinheiro. Uma viagem que faz o espectador olhar para dentro de si e questionar sobre as decisões que tomamos – e como tomamos – diante das intempéries da vida.