David (Jesse Eisenberg) e Benji (Kieran Culkin) são como água e vinho: primos criados juntos como irmãos, o primeiro é certinho e introvertido, o outro é intenso e explosivo. No filme A Verdadeira Dor, segundo longa de Eisenberg na direção, a dupla se encontra no aeroporto para uma viagem pela Polônia. Honrando o desejo da avó que morreu, eles vão visitar a casa dela em um vilarejo do país europeu. Eles também contratam uma agência especializada em turismo voltado para descendentes de judeus sobreviventes do holocausto – a avó em questão foi uma das poucas a sair viva do campo de concentração de Majdanek, onde, estima-se, 80.000 pessoas foram assassinadas pelos nazistas.
Ao longo dos dias de viagem, os dois primos, ao lado do peculiar grupo de turistas que os acompanha, tecem diálogos sobre família, trauma e o que seria a verdadeira dor – e como a humanidade deve se posicionar diante dela. David é do tipo contido, que não vê razão de sucumbir diante das tristezas da vida. Já Benji, emoção pura, desmorona com frequência, como numa viagem luxuosa de trem na qual ele se sente desconfortável ao pensar que, no mesmo trajeto, judeus foram levados sem nenhum conforto rumo aos campos de extermínio. Por vezes cômico, outras emotivas, o roteiro ganha força na dinâmica dos dois atores, enquanto Eisenberg dá espaço para o colega dominar a cena.
Culkin brilha com uma atuação de impacto e extremos. Ele vai da euforia à depressão em segundos, enquanto esbanja o charme e o humor que fizeram dele uma das principais atrações da série Succession. O longa, aliás, foi o primeiro projeto do ator após a produção premiada sobre uma família de ricaços desajustada. Estão no filme alguns dos trejeitos típicos de seu personagem Roman Roy – mas com um calor e um excesso de empatia que o caçula dos bilionários jamais conseguiria ter. A Verdadeira Dor está na programação do Festival do Rio e estreia no circuito nacional em janeiro.