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Filme sobre Silvio Santos estreia nos cinemas — mas ele não merecia isso

Estrelada por Rodrigo Faro, cinebiografia 'Silvio' é retrato caricato e pueril que tenta fazer uma homenagem séria, mas falha drasticamente

Por Kelly Miyashiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 12 set 2024, 18h17

Após passar sete dias no cativeiro nas mãos de sequestradores, Patricia Abravanel (Polliana Aleixo) retorna para casa — e seu pai, Silvio Santos (Rodrigo Faro), acredita estar novamente seguro com a filha em sua mansão no Morumbi, em São Paulo. Só que não: num lance surreal, um dos sequestradores da filha invade sua residência e faz a família Abravanel refém em um novo sequestro. Na mira do revólver de Fernando Dutra Pinto (Johnnas Oliva) e com medo de morrer, o empresário dono do SBT reflete sobre a própria vida, entre os erros e acertos que o levaram a se tornar a figura inescapável da TV nos domingos. A história aconteceu na vida real, mas o filme Silvio, lançado nos cinemas nesta quinta-feira, 12, imagina os diálogos que teriam se dado entre o apresentador e seu sequestrador na cozinha do dono do SBT em 30 de agosto de 2001

Estrelado por Rodrigo Faro — apresentador que voltou a atuar como ator após quinze anos apenas para o projeto — e dirigido por Marcelo Antunez, Silvio exibe a triste coincidência de ser lançado apenas quase um mês após a morte do apresentador, aos 93 anos, em 17 de agosto passado. Ironicamente, o apresentador não poderá conferir o resultado do filme idealizado como uma homenagem a ele ao revisitar sua história cheia de vitórias, mas também calcada em certas falhas como pai de família. Em duas horas intermináveis, o longa usa o sequestro de Silvio Santos como fio condutor de uma provável reflexão do comunicador sobre a própria trajetória. Acaba sendo, contudo, um retrato caricato que transforma um episódio sério em cômico, com atuações medíocres, diálogos sofríveis, um roteiro pouco palatável e uma montagem confusa.

O filme abusa da liberdade criativa e poética ao utilizar o episódio do sequestro como pretexto para especular outra coisa: que o empresário queria sobreviver porque precisava consertar as coisas com Cintia, sua filha primogênita e fruto do casamento com Maria Aparecida (Màrjorie Gerardi), união que notoriamente escondeu para não decepcionar as fãs que o viam como galã da TV. Em adição a isso, a trajetória de Silvio transcorre na tela de forma rasa e burocrática.

É impossível detectar uma boa atuação no filme: todos os atores parecem saídos de programas como A Praça É Nossa ou Zorra Total. A ambição da produção em escalar Rodrigo Faro para a tarefa de interpretar Silvio Santos — um trabalho periclitante por si só — revela-se, como era de esperar, um tiro n’água. Apesar do esforço, Faro não convence — e a caracterização com maquiagem e peruca beira o ridículo.

Com as constantes idas e vindas entre passado e presente, a montagem também se mostra confusa. Para completar o pacote, é entremeada de cenas que tentam humanizar o sequestrador Fernando Dutra Pinto excessivamente, colocando-o no lugar de criança admiradora de Silvio Santos.

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Mas o maior pecado em Silvio é, sem dúvida, o uso desenfreado de frases de efeitos. São policiais, filhas, políticos, o sequestrador e o próprio Silvio disparando uma metralhadora de platitudes manjadas que têm a pretensa função de realçar a importância do apresentador como fenômeno da comunicação popular, mas viram apenas um acessório narrativo pomposo e vazio. No meio da tensão de dezenas de policiais na sala de estar de Silvio, com rifles apontados para Dutra — que por sua vez tinha uma arma pressionada sobre a cabeça do apresentador –, uma paramédica que atendeu o sequestrador encontra calma e empolgação para dizer ao apresentador: “Minha avó é sua fã.” Se quiser saber mais sobre Silvio Santos, leia a Wikipedia, busque vídeos antigos no YouTube ou o que mais estiver ao alcance. Só não conte que aprenderá algo mais sobre ele com a nova cinebiografia. Silvio não precisava disso.

 

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