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Filme ‘O Poço 2’: tão ruim quanto um debate para a prefeitura de SP

Sequência do longa espanhol chega à Netflix sem cadeiradas, mas com muita violência e ideias políticas rasas

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 4 out 2024, 09h30

Uma mulher atormentada por uma tragédia do passado entra, por vontade própria, numa instalação vertical onde pretende refletir sobre sua participação no tal evento. Ela não sabe, porém, que o local é uma prisão violenta, dividida em níveis, na qual as pessoas enlouquecem ou morrem de inanição por causa da estranha distribuição da comida: diariamente, uma plataforma desce do nível 1 ao 333, o último. Cada nível abriga duas pessoas — que despertam de forma aleatória em outro andar a cada virada de mês. Os sortudos que acordam nos primeiros níveis se fartam do banquete, deixando pouco ou absolutamente nada para os que estão abaixo. A trama peculiar foi apresentada em 2019, no filme espanhol O Poço que ganha, nesta sexta-feira, a sequência simplesmente batizada de O Poço 2, na Netflix.

Enquanto o primeiro basicamente explicava a dinâmica do local para o espectador, a nova produção dirigida por Galder Gaztelu-Urrutia, e estrelada pela atriz Milena Smit — como a mulher em busca de redenção através do sofrimento –, agora, se propõe a explorar teorias políticas. Se o tal poço é bastante fundo, o mesmo não se pode dizer do roteiro da trama e de suas ideias. Como o longa anterior, O Poço 2 é uma mistura de terror gore, com muito sangue e cenas nojentas envolvendo comida, e uma metáfora social que pincela de tudo um pouco sem chegar a lugar algum — qualquer semelhança com os debates eleitorais para a prefeitura de São Paulo é pura coincidência. Estão na história uma seita religiosa, teorias extremas do comunismo e do neoliberalismo, tentativas de revolução e conversas errôneas sobre o que é desigualdade social.

Desta vez, um grupo autodeclarado ungido supervisiona todos os níveis, pregando a solidariedade e a consciência de que, se cada um comer só o que lhe é dado, então haverá comida para todos. Com infiltrados em vários níveis, os membros dessa trupe deixam as falas de paz e amor de lado quando, ao notar que um indivíduo não cumpriu a lei, descem até o rebelde e o matam brutalmente — ou aplicam castigos, como cortar um braço. Discorrer para além disso é entrar no campo minado dos spoilers. É também tentar explicar o inexplicável. Em busca de ser cult, o filme deixa pontas soltas, mostra grupos de personagens sem justificativa, e não economiza no falatório vazio. A viagem pelo poço é individual — e demanda estômago e um tanto de paciência para chegar ao fim com um pingo de sanidade: taí outra semelhança com os debates eleitorais — infelizmente, não só os de São Paulo.

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