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Entre o Ceará e Hollywood, o cinema de Karim Aïnouz faz escala na Argélia

Diretor brasileiro lança dois belos documentários rodados no país africano enquanto se prepara para conduzir filme com Kristen Stewart e Elle Fanning

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 Maio 2024, 20h53 - Publicado em 28 set 2023, 11h30

A vida toda, o diretor cearense Karim Aïnouz, 57 anos, se sentiu único e também deslocado. A sensação vinha, especialmente, de seu nome peculiar para os brasileiros. Em 2019, em uma viagem pessoal e íntima à Argélia, país de seu pai — a quem ele só conheceu aos 18 anos de idade –, o cineasta se surpreendeu ao passar pelo posto de imigração e, pela primeira vez na vida, não ser questionado sobre a grafia de seu nome. Na viagem, outro choque: encontrou no vilarejo de origem de sua família um “duplo” batizado de Aïnouz Karim. O momento retratado no documentário O Marinheiro das Montanhas, em cartaz nos cinemas, ativa uma dúvida na mente do brasileiro: e se ele tivesse nascido na Argélia, como seria sua vida? Seria como a de seu duplo? Eventualmente, ele teria curiosidade de visitar o Brasil para saber sobre seu lado materno? 

Com honestidade profunda e cenas que colocam o espectador na visão do diretor, o qual se mantém atrás das câmeras durante as filmagens, o documentário elogiado no Festival de Cannes chega ao Brasil acompanhado de outro filme de Aïnouz, feito por lá na mesma viagem, Nardjes A., sobre uma ativista argelina em protestos contra o governo local. Nessa busca por suas origens, a possibilidade de conexão com o pai distante que vive em Paris, na França, não se concretizou. “Eu entendi que o que meu pai deixou para mim foi esse país, foi a Argélia e sua história, e não ele, que foi apenas um pai biológico”, diz Aïnouz a VEJA. 

Os lançamentos coroam um ano prolífico para o diretor. Em maio, ele concorreu à Palma de Ouro no Festival de Cannes com seu primeiro filme em língua inglesa, Firebrand, estrelado por Alicia Vikander e Jude Law. Enquanto se preparava para produzir um segundo filme com estrelas hollywoodianas, no caso Kristen Stewart e Elle Fanning, Aïnouz, que mora na Alemanha, decidiu voltar ao Brasil para rodar o filme Motel Destino, com Fabio Assunção. “Foi meu primeiro trabalho no Ceará desde a morte da minha mãe”, conta ele sobre a matriarca brasileira, sua grande parceira de vida, que morreu em 2015. Fechando o ciclo de autodescoberta parental, o diretor agora colhe os frutos de tantas viagens. “Foi muito importante voltar ao Brasil, poder filmar no meu sotaque, na luz que eu conheço”, celebra. 

Com o fim da greve dos roteiristas em Hollywood, e, em breve, dos atores, Aïnouz deve voltar sua atenção para seu próximo projeto em inglês, uma adaptação do filme De Punhos Cerrados, de 1965, do diretor italiano Marco Bellocchio. “É sobre a dissolução de uma família. São oito personagens em uma casa, num vilarejo”, ele conta. Além de Kristen e Elle, também está no elenco o ator Josh O’Connor, que ganhou popularidade recentemente ao interpretar o príncipe Charles na série The Crown. “Precisamos terminar o casting do elenco para finalizar os trâmites de produção e financiamento”, diz. Do Ceará à Argélia, passando pela Europa e por Hollywood, o cinema de Karim Aïnouz promete ganhar mais e mais carimbos em seu passaporte. 

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