Enquanto escrevia o roteiro do filme Os Enforcados, o diretor Fernando Coimbra foi questionado por colegas sobre a escolha do ofício do protagonista, um herdeiro de uma família graúda envolvida com o jogo do bicho, no Rio de Janeiro. “Quem está fora da cidade não imagina a força que essa máfia exerce aqui”, disse o diretor a VEJA no Festival do Rio, onde o filme está sendo exibido. Quando, no fim do ano passado, o Globoplay lançou o documentário Vale o Escrito – A Guerra do Jogo do Bicho, Coimbra comemorou. “Para mim, foi providencial esse lançamento. Pois abriu uma porta para os absurdos desse universo a um público maior.” De fato, a produção serve como uma excelente introdução para Os Enforcados, que estreia em circuito nacional no começo do ano que vem.
A base do filme, porém, vem de uma inspiração mais distante: a trama bem brasileira bebe do clássico Macbeth, de William Shakespeare, no qual um casal poderoso ambiciosa chegar ao trono armando um atentado contra o rei. Filho de bicheiro, Valério (Irandhir Santos) é casado com a impetuosa Regina (Leandra Leal). Eles desfrutam de uma vida de luxo na Barra da Tijuca, com dinheiro vindo de jogos ilegais e lavagem de dinheiro. Quando o tio dele, interpretado pelo ótimo Stepan Nercessian, acaba na mira de milicianos, deputados e de outros envolvidos com o bicho, Valério é convocado a assumir os negócios, numa virada que conduz a história tragicômica, que mergulha nos absurdos risíveis do crime no Brasil.
O longa é o primeiro do diretor em território nacional depois do sucesso O Lobo Atrás da Porta, de 2013. A produção fez de Coimbra um nome cobiçado na gringa, onde ele conduziu episódios de séries como Narcos e Perry Mason, e do filme americano Castelo de Areia, com Nicholas Hoult e Henry Cavill. “Tenho me mantido com projetos lá e cá”, diz o cineasta, que faz mistério sobre produções encaminhadas no exterior, ainda sob sigilo. Ao que indica seu currículo de títulos feitos até agora, o futuro é nada menos do que promissor para Coimbra.