Cenas de nudez não são novidade na sua carreira. Como foi fazê-las agora, aos 61 anos, no filme A Substância em comparação ao passado? Ao aceitar um papel como este, de tanta vulnerabilidade e exposição, antes precisei me sentir em segurança. Um ambiente seguro traz liberdade. Saber que não haveria exageros, nem minha imagem seria usada do jeito errado, foi importante. Acho, aliás, que foi mais difícil para a Margaret Qualley.
Por quê? Porque no filme a Margaret representa o ideal de beleza feminina, e eu só tinha de parecer acabada — o que é mais fácil de fazer. Sério, parecer perfeita é uma pressão assustadora.
O que chamou sua atenção no roteiro sobre como essa pressão age nas mulheres? Para mim, esse é um filme sobre o quão difícil é perder o controle e não se aceitar como você é. Essa combinação leva ao desespero e aos excessos na tentativa de forçar mudanças.
Ter Coralie Fargeat, uma mulher na direção, em um filme de tanta exposição, foi diferente de filmar com diretores homens? Na verdade, a diferença foi o ponto de vista tão pessoal que a Coralie trouxe para o roteiro. Não foi melhor ou pior do que um homem na direção. O importante foi ler uma história com a qual eu me conectei.
Há algo que aprendeu com os anos em Hollywood e que identificou nesse roteiro? Eu aprendi que somos mais do que nossa aparência. Precisamos criar e dar continuidade a essa mudança cultural sobre padrões de beleza agonizantes, que limitam nossa percepção de valor pessoal. Isso vale para mulheres e homens.
Publicado em VEJA de 20 de setembro de 2024, edição nº 2911