Festival de Cannes homenageia o Brasil — e transforma país em protagonista
País terá destaque em área de negócio do evento e prevê acordos acima de 70 milhões de dólares em transações no mercado do audiovisual

Acontece de tudo um pouco no Palais des Festivals, prédio de seis andares que funciona como sede do luxuoso Festival de Cannes, que começa sua 78ª edição nesta terça-feira, 13, e vai até o dia 24. Enquanto jornalistas e convidados transitam pelas salas de cinema do local e celebridades desfilam com roupas glamourosas pelo tapete vermelho, ou conversam em coletivas de imprensa, o enorme subsolo do local se impõe como o lugar mais quente do evento. Trata-se do espaço dedicado ao Marché du Film. Como o nome indica, o Marché é o mercado onde filmes prontos – inclusive aqueles exibidos nas diversas mostras do festival, mas não apenas – ou em diferentes estágios de desenvolvimento são negociados com distribuidores do mundo todo. É o maior ponto de encontro da indústria cinematográfica mundial — e, neste ano, o Brasil estará no centro dos holofotes, eleito como país de honra.
Mais de cem empresas brasileiras vão participar do Marché du Film, em concomitância com a Temporada França-Brasil, que celebra os 200 anos de relações diplomáticas entre os dois países. São esperados mais de 15.000 profissionais da área, trocando experiências e discutindo o presente e o futuro do cinema. Ao todo, serão 300 exibidores de mais 90 países. Mas o que significa ser o país de honra? Significa que uma boa parte da programação do Marché vai destacar a indústria audiovisual brasileira, seus talentos criativos e seu compromisso com a colaboração internacional.
Em 2024, o programa Cinema do Brasil levou 68 empresas ao Marché du Film. Neste ano, serão mais de cem. No ano passado, foram contabilizadas mais de 1.000 reuniões de negócios, com 11,5 milhões de dólares em contratos firmados e expectativa de 61,9 milhões de dólares em transações nos doze meses subsequentes. Para 2025, a meta é superar esses indicadores. “É uma oportunidade incrível termos o Brasil como país homenageado durante o Festival de Cannes, no mesmo ano em que o país ganhou seu primeiro Oscar de Filme Internacional. O estande do Cinema do Brasil funcionará como uma embaixada do país. Mostrará a união de esforços dos produtores e dos governos em fortalecer cada vez mais a presença internacional do Brasil”, afirma André Sturm, presidente do programa Cinema do Brasil e do Sindicato da Indústria Audiovisual do Estado de São Paulo (Siaesp).

Na programação, estão previstos encontros com representantes do Mercado Europeu de Cinema (European Film Market, EFM), do Festival de Berlim, de Sundance, de Locarno, além de encontros de coprodução com diversos países.Também haverá painéis mais profundos sobre o mercado audiovisual brasileiro e apresentação de projetos novos.
Quais brasileiros estão na programação do Festival de Cannes em 2025
O Brasil também participa do Festival de Cannes em diversas seções. O Agente Secreto, dirigido por Kleber Mendonça Filho e estrelado por Wagner Moura, disputa a Palma de Ouro, prêmio máximo do festival. Ainda na seleção oficial, há O Riso e a Faca, de Pedro Pinho, coprodução Portugal-França-Brasil-Romênia, na seção Um Certo Olhar, e Para Vigo Me Voy!, documentário de Karen Harley e Lírio Ferreira sobre o cineasta Carlos Diegues (1940-2025), dentro da Cannes Classics.
Quatro curtas-metragens feitos no Ceará e dirigidos por duplas (cada um por um diretor do Brasil e outro estrangeiro) dentro do programa Factory são exibidos na abertura da mostra paralela Quinzena de Cineastas: Ponto Cego, de Luciana Vieira (Brasil) e Marcel Beltrán (Cuba), A Vaqueira, a Dançarina e o Porco, de Stella Carneiro (Brasil) e Ary Zara (Portugal), Como Ler o Vento, de Bernardo Ale Abinader (Brasil) e Sharon Hakim (França), e A Besta do Mangue, de Wara (Brasil) e Sivan Noam Shimon (Israel).
O curta Samba Infinito, de Leonardo Martinelli, passa na mostra paralela Semana da Crítica. A coprodução França-Colômbia-Brasil Culebra Negra, de Aurélien Vernhes-Lermusiaux, tem exibição na paralela ACID.

A participação brasileira é organizada pelo Ministério da Cultura em parceria com o Ministério das Relações Exteriores, por meio do Instituto Guimarães Rosa e a Embaixada Brasileira em Paris, e com a ApexBrasil, por meio do Cinema do Brasil – programa de internacionalização criado em 2006 pelo Sindicato da Indústria Audiovisual de São Paulo em parceria com a Apex (Agência Brasileira de Promoções de Exportações e Investimentos). O Cinema do Brasil também firmou parcerias com a Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo no âmbito e com a Spcine e a RioFilme no âmbito municipal. Tanto o Cinema do Brasil quanto a Spcine e a RioFilme terão estandes no Marché.