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As armas de James Gunn para salvar os heróis no cinema com Superman

Com a missão de resgatar a DC, o diretor tem sua prova de fogo

Por Thiago Gelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 11 jul 2025, 17h09 - Publicado em 11 jul 2025, 06h00

De cabelos espetados, óculos de grau retangulares e sempre cercado de elementos das histórias em quadrinhos, James Gunn, de 58 anos, é um autêntico nerd dos anos 1990 que poderia estar na plateia do nostálgico filme Superman, já em cartaz no país. No entanto, muito pelo contrário, ele está nos tapetes vermelhos, na cadeira de diretor do longa e no posto de co-CEO dos estúdios DC desde 2022, encarregado de supervisionar um universo cinematográfico inteiramente repaginado, do qual nove filmes e quatro séries já estão em produção. A pressão não é pouca, mas Gunn vem se revelando o homem certo no lugar certo: um legítimo fã de super-heróis que, quis o destino, tem agora em suas mãos a missão de salvar esse glorioso (e lucrativo) universo do entretenimento.

AMIGO NERD - Com fãs num evento em Londres: amante dos quadrinhos
AMIGO NERD - Com fãs num evento em Londres: amante dos quadrinhos (Kate Green/Getty Images)

Com o novo Superman, esse vingador anunciado tem agora sua grande prova de fogo. Para além de responder às expectativas puristas dos admiradores do Homem de Aço, o filme tem o desafio de demonstrar que um artista pode ocupar também um cargo executivo de liderança em Hollywood — e o principal: que o público não está cansado de ver super-heróis na tela. O prato de Gunn está transbordando, em suma, mas ele tem clareza do que é preciso para revitalizar a franquia da DC. “É fazer um filme decente”, afirmou Gunn em entrevista a VEJA (leia abaixo). Enquanto o herói salva a Terra na ficção, o diretor salva o gênero que lhe dá vida.

Nascido no Missouri, Meio-Oeste dos Estados Unidos, o cineasta cresceu fascinado pelas histórias de seres superpoderosos e pelo cinema de gênero barato, da fantasia ao horror. “Ele até aprendeu a ler com os quadrinhos da DC”, contou a VEJA o ator David Corenswet, novo rosto de Superman. Desde os 12 anos, Gunn gravava filmes caseiros sobre zumbis com os irmãos — um dos quais, Sean, atua em todas as suas produções profissionais desde então. Aos 30, recebeu 150 dólares para escrever o roteiro de um projeto que levava ao máximo sua excentricidade — e tudo mudou. Em Tromeo & Juliet (1996), do estúdio trash Troma, o romance shakespeariano é temperado com violência gráfica, conteúdo sexual e humor escatológico. O status de enfant terrible do cinema B foi imediato e, assim, Gunn brilhou em histórias satíricas como Seres Rastejantes (2006).

VIRADA - Com elenco de O Esquadrão Suicida: injeção de ânimo em franquia caída
VIRADA – Com elenco de O Esquadrão Suicida: injeção de ânimo em franquia caída (./Warner Bros)
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Como diz o papa do trash, John Waters, “é preciso muito bom gosto para entender o mau gosto”, e os grandes estúdios logo farejaram essa qualidade no novato Gunn. Em 2014, chegou o ponto de virada de sua carreira: a Marvel lhe confiou a criação de Guardiões da Galáxia, que equilibrava o bom humor e o ótimo gosto musical do cineasta com a fantasia do Universo Cinematográfico Marvel. Ao todo, a trilogia que se seguiu acumulou mais de 2,48 bilhões de dólares ao longo de nove anos.

Enquanto Gunn fazia a Marvel subir, os estúdios DC afundavam. Um universo liderado pelo Superman havia começado a se desenhar em 2013 com O Homem de Aço, de Zack Sny­der, que apresentava ao público a versão mais soturna do personagem até então. O desempenho foi decente, mas não chegou perto do fenômeno consagrado pela rival Marvel com Os Vingadores (2012). Da safra da DC, o único expoente a superar 1 bilhão de dólares em arrecadação foi Aquaman (2018), cuja sequência, quatro anos depois, nem passou dos 500 milhões. O CEO da Warner Bros. Discovery, David Zaslav, procurava a resposta para retomar a rentabilidade do filão e, em 2021, Gunn foi chamado para dirigir a sequência do malhado O Esquadrão Suicida — e o tornou sucesso de crítica. Em 2022, o diretor virou líder de uma nova DC reiniciada do zero, ao lado do produtor Peter Safran.

ORIGEM - Guardiões da Galáxia: saga de 2,48 bilhões fez sua moral explodir
ORIGEM - Guardiões da Galáxia: saga de 2,48 bilhões fez sua moral explodir (Marvel Studios/.)
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Ele carregou para o novo posto a mesma marca de antes: a de ser, antes de tudo, um fã que tem amor profundo pelos quadrinhos — e traduz isso nas telas de forma simples e honesta. É esse, afinal, o elemento que dá ao novo Superman uma graciosidade orgânica: no filme, Gunn mostra seu domínio do humor desbocado e seu traquejo na construção de realidades intrincadas, na qual coexistem todas as possibilidades da fantasia — incluindo, claro, um cão travesso com superpoderes chamado Krypto. Seu Superman é uma volta ao personagem clássico e carismático, inequivocamente virtuoso e desprovido de ironia — o que não significa que seja bobo. Em entrevistas gringas, Gunn teceu paralelos entre o herói e os imigrantes nos EUA, o que rapidamente incendiou a mídia trumpista e ergueu acusações exageradas de se estar diante de um “Superwoke”. O novo Super-Homem, contudo, não é panfletário — apenas clama pela gentileza exemplar que sempre foi essencial ao personagem. A bússola moral descomplicada faz o encantamento ser inevitável.

Se há algo de novo para Gunn no filme, é justamente essa sensibilidade moral. Em 2018, o humor ácido que o fez famoso quase lhe custou a carreira. Na mira do #MeToo, o cineasta foi criticado por postagens no Twitter que faziam piada sobre estupro, o 11 de Setembro, a aids e até o Holocausto. Em resposta, a Disney o demitiu, sem prever que os atores de Guardiões apoiariam seu líder, exigindo que ele fosse readmitido, e que mais de 350 000 fãs endossariam um abaixo-­assinado a seu favor. Gunn pediu desculpas públicas, retificou sua conduta e, um ano depois, voltou a trabalhar em Guardiões da Galáxia Vol. 3, que foi sucesso em 2023. “Parte da minha jornada de vida foi aprender a ser mais vulnerável e honesto”, diz ele. O destino de Superman nas bilheterias pode fortificar, ou não, outra certeza do cineasta: a de que as pessoas não estão fartas de super-­heróis, mas de filmes medíocres. O salvador do universo, quem diria, pode ser só um cara legal — e que ama seus personagens.

“É só fazer um filme decente”

O diretor James Gunn fala a VEJA sobre o novo Superman e a crise dos filmes de heróis no cinema.

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SINCERÃO - O cineasta hoje: “Aprendi a ser mais vulnerável”
SINCERÃO - O cineasta hoje: “Aprendi a ser mais vulnerável” (Neil Mockford/Filmmagic/Getty Images)

Seus filmes anteriores são mais cáusticos que Superman. Como é saltar disso para o herói mais benevolente da história? Existe um certo choque cultural, mas é divertido e não tão diferente assim. Parte da minha jornada de vida foi aprender a ser mais vulnerável, honesto e transparente com meus sentimentos, o que acabou afetando meu trabalho e o novo filme.

Como lida com as expectativas em cima de uma produção como Superman? Em Guardiões da Galáxia, tinha liberdade total, e talvez isso irritasse uma meia dúzia de caras. Com Superman, todos têm uma ideia do que o personagem deve ser. O que faço é olhar para as lições de seus criadores, Jerry Siegel e Joe Shuster, daí escolho o que quero de outras versões e junto tudo ao que é meu.

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Qual a linha editorial desse novo universo? Nenhuma. O importante é que cada filme seja único, assim como cada quadrinho tem as assinaturas do roteirista e do ilustrador. Não é diferente de filmes que se passam no mundo real. Anora e Feitiço do Tempo estão no mesmo universo nem por isso são iguais, sabe.

Como busca driblar a tal “fadiga de super-heróis” em seus filmes? O segredo é só fazer um filme decente. Não acredito nessa fadiga, acredito que o público cansou de filmes medíocres, os quais têm sido lançados aos montes nos últimos anos, sejam eles com heróis ou não. O desafio é fazer algo que convença os espectadores a ir ao cinema.

Publicado em VEJA de 11 de julho de 2025, edição nº 2952

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