A série Matéria Escura passa por diferentes mundos, muitos deles moldados pela pergunta “e se eu tivesse feito outra escolha?”. Você pensa nisso? Já pensei, claro. Por exemplo, e se eu não tivesse feito comerciais que me levaram a conhecer o Fernando Meirelles? Logo, e se não tivesse feito Cidade de Deus? Mas acho que eu provavelmente ainda seria atriz, talvez mais no Brasil que nos Estados Unidos, pois eu sempre amei estar em um set de filmagem.
Seu currículo tem várias produções de ficção científica, como Elysium e Assassinato no Fim do Mundo. Coincidência ou escolha? São felizes coincidências que surgiram e eu quis fazer. Gosto do gênero, mas o que me atrai são histórias voltadas para a construção dos personagens, suas emoções e como elas se conectam com o público. Aqui falamos de amor, família, encontro. São temas que pautam nossa vida.
Como sua nacionalidade brasileira entra nessas histórias? Tivemos a sorte nessa série de ter o autor do livro ativo nos bastidores como showrunner. Quando eu fui selecionada para o papel, ele falou: você é brasileira, então a Amanda também é. A partir daí, ele desenvolveu uma história para ela que não tem no livro.
Raramente o papel de uma médica é dado a uma atriz latina. Como vê essa evolução da indústria americana? Hollywood mudou bastante. Latinos eram resumidos a papéis estereotipados, de traficantes e assassinos, por exemplo. Hoje, temos múltiplas oportunidades. O que importa é a atuação, e não a etnia em papéis que funcionam para qualquer nacionalidade.
Ao se dividir entre dois países, o que perdeu e o que ganhou com a escolha? Eu resumiria isso na palavra saudade. Quando estou em Los Angeles, morro de saudade da minha família no Brasil. E, quando estou em São Paulo, sinto falta da vida que construí aqui e das pessoas que amo. Mas acho a saudade linda. Ela não é um sentimento, mas, sim, um estado de espírito. E isso me consola.
Publicado em VEJA de 3 de maio de 2024, edição nº 2891