Alejandro G. Iñárritu a VEJA: “Sucesso é algo subjetivo”
O diretor de 59 anos fala sobre o filme 'Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades'
Bardo é seu filme mais pessoal. Por que fazê-lo agora? Cheguei a uma idade em que me deu vontade de limpar o armário e colocar a casa em ordem.
Como foi reviver a dor de perder um filho? Foi um processo de cura, no qual olhei tudo por uma luz nova. Como disse Leonard Cohen (na canção Anthem), é através das rachaduras que a luz pode entrar. Assim, pude iluminar e ressignificar o que me causava dor.
Bardo tem um clima de sonho, que remete ao cinema do italiano Federico Fellini. Ele foi uma inspiração? Fellini é sempre uma inspiração. Assim como Luis Buñuel e Jean-Luc Godard, e a literatura latina, como Octavio Paz e Jorge Luis Borges. Mas a maior inspiração veio da cultura mexicana. No México, o político, o social, o privado, o religioso, a vida e a morte são uma coisa só em constante interação.
Como se sente com as críticas negativas? Fui elogiado por filmes como Babel (2006), sobre imigrantes pobres. Já a imigração de pessoas privilegiadas é um tema raro. Pode ser difícil para algumas pessoas assimilar as razões que levam alguém com posses a deixar o próprio país.
Como foi gravar no México após dois filmes nos Estados Unidos? Me senti numa realidade paralela. Foi como reencontrar um velho amigo, tive de me readaptar.
Como Silvério, o senhor também sofre com a síndrome do impostor? Todos temos essa voz que questiona nossa capacidade. No filme, ela revela a ilusão do sucesso. O sucesso é algo subjetivo, que tem mais valor para quem está de fora. Quem o experimenta nota que o valor da vida vai muito além dos aplausos.
Publicado em VEJA de 23 de novembro de 2022, edição nº 2816