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A resposta de diretor de ‘Som da Liberdade’ sobre polêmica com QAnon

Em entrevista a VEJA, o mexicano Alejandro Monteverde dá detalhes dos bastidores e reage a associação do filme com movimento conspiracionista

Por Kelly Miyashiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 10 Maio 2024, 08h46 - Publicado em 5 out 2023, 18h07

O filme Som da Liberdade, que conta a história de um agente federal que resgata crianças de tráfico sexual infantil, tem feito barulho nas redes sociais e lotado salas de cinemas do Brasil nas últimas semanas. O drama mistura cenas de ação para contar a trajetória de Tim Ballard, um agente da Segurança Nacional dos Estados Unidos que trabalha prendendo pedófilos consumidores de pornografia infantil. Após um dia tenso de trabalho capturando um criminoso e tendo que assistir o conteúdo perturbador, o investigador é inspirado por um colega a recuperar alguma vítima. O filme tem um tom nobre de denúncia contra o tráfico humano e o abuso sexual de crianças, mas acabou entrando no centro de mais uma guerra ideológica nos EUA — e agora no Brasil — após o movimento conspiratório QAnon usar o filme para promover uma de suas teorias infundadas, de que exista uma rede de tráfico sexual comandada por celebridades de Hollywood.

Em entrevista a VEJA, o diretor de Som da Liberdade, o mexicano Alejandro Monteverde, fala sobre a polêmica associação do filme com o QAnon e dá detalhes dos bastidores. Confira:

Som da Liberdade levou alguns anos até ser concluído. Vendo que ele se tornou um sucesso tão grande agora, sente vontade de ter feito algo diferente? A resposta é: claro! Sim, e não apenas neste filme, mas em toda a minha vida. Eu olho para trás pensando ‘e se eu fizesse isso de forma diferente agora’, mas não é possível voltar no tempo. Então eu tento nem explorar aquela porta, tento ver como o filme conseguiu chegar a tantos lugares como o Brasil? Não conseguiríamos estar no Brasil se não tivéssemos conquistado uma boa parte da América toda. Estou muito grato que a porta internacional se abriu para este filme e penso que se tivesse feito algo diferente, talvez nem tivéssemos acabado aqui.

O que pensa sobre movimentos conspiracionistas como o QAnon terem impulsionado a fama de Som da Liberdade? Isso é o que dizem por aí. Não sei quem são esses grupos. Não sei quão grandes eles são. Tudo que sei é que milhões de pessoas viram o filme. Então, quantas pessoas fazem parte desse grupo, quem sabe? Não há provas, eles são anônimos ou algo assim. Então, eu não sei o que isso realmente significa, mas o que há prova é a quantidade de pessoas que vieram ver o filme. 

O senhor é latino-americano. Se preocupou com forma que retrataria a imagem dos latinos no filme? Eu nasci e fui criado no México. Ainda estou aprendendo inglês, que continua sendo a minha segunda língua, meus filhos continuam zombando do meu inglês. Então, para mim, é muito importante a maneira como nós, hispânicos, mexicanos, somos retratados nos filmes em que já trabalhei. Como um cineasta mexicano, quando leio o roteiro, vejo como minha cultura é retratada em filmes. No meu primeiro filme, chamado Bella, na verdade, fui na direção oposta a este e mostrei o quão importante é o núcleo da base da nossa cultura, que é a família. Portanto, neste filme em particular, infelizmente em países que têm menos recursos, há maior fluxo de pobreza, e pobreza extrema equivale a muito mais crimes e abusos sexuais. Me informaram que um dos problemas do Brasil é a prostituição infantil. Essa é uma das coisas que estamos enfrentando no México, são grandes problemas de tráfico porque estamos na fronteira com os EUA, então, infelizmente. Sim, você sabe, o México e muitos países da América Latina servem de ninho deste nicho. Então tive que ter cuidado no filme para não estereotipar uma raça em detrimento da outra, mas realmente explorar dramatizando para explorar a verdade. 

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Os atores mirins tiveram algum apoio psicológico no set do filme, que tem cenas em que o abuso sexual fica implícito? Sim, o melhor apoio psicológico que poderíamos ter são os pais deles. Então foi muito importante que os pais conversassem com as crianças durante toda a filmagem. Também estávamos levando em conta cada caso de cada criança. Por exemplo, o garoto que tinha 6 anos, decidimos reter todas as informações deles. A maioria não sabia sobre o que era o filme, mas se o garoto ou garota tinha entre 11 e 14 anos, se os pais quisessem contar a eles sobre o que era o filme, eles poderiam contar, as crianças só sabiam que seu personagem foi sequestrado. Então essa foi uma das coisas mais importantes para garantir que a segurança psicológica das crianças estivesse muito, muito bem protegida. Mas eu trabalhei muito com as crianças e com o pai comigo o tempo todo. Então toda vez que ia direcionar os filhos, eu precisava de um pai ou de uma mãe ao meu lado porque eles conhecem o filho muito melhor.

Polêmicas

Outras três controversas também recaem sobre Som da Liberdade. O verdadeiro Tim Ballard — interpretado no filme pelo ator Jim Caviezel –, está sendo acusado de má conduta sexual por sete mulheres que aturam em suas missões no exterior pela Underground Operation Railroad, a ONG que Ballard fundou para realizar resgastes de supostas vítimas. Por causa das acusações, uma investigação foi aberta para apuração dos fatos e o agente foi afastado da própria ONG. Caviezel, por outro lado, é um dos motivos para a associação do filme com o QAnon, já que o astro de Paixão de Cristo (2004) é simpatizante do movimento conspiracionista, tendo participado de eventos do QAnon e dado entrevistas em que propaga teorias do grupo. O filme conseguiu ser finalizado com ajuda de uma campanha de financiamento coletivo e foi descoberto que um dos financiadores foi preso sob acusação de sequestrar duas crianças, mas um Grande Júri o absolveu por falta de provas, de acordo com o jornal americano USA Today.

Independentemente de tudo isso, o longa acumulou 17 milhões de reais em renda e 521.000 espectadores desde a estreia, em 21 de setembro, de acordo com dados divulgados pela Comscore, empresa que monitora o mercado no país. Os números foram impulsionados com ajuda de uma campanha de líderes religiosos e políticos conservadores que têm distribuído ingressos de graça para a população.

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