A indigesta ligação entre os heróis do cinema e a ascensão do fascismo
Criador de ‘Watchmen’, quadrinista Alan Moore atrelou o retorno da extrema-direita à infantilização promovida por filmes da Marvel e DC Comics
Criador de HQs respeitadas e políticas, como Watchmen e V de Vingança, o quadrinista inglês Alan Moore, 68 anos, voltou a alfinetar a cultura infantilizadora dos super-heróis — e sua colaboração para o cenário que ele hoje aponta como um erro de rota da vida adulta. “Eu disse isso em 2011, que o futuro de milhões de adultos seria afetado de forma drástica pela popularidades dos filmes do Batman. Pois aquele tipo de conteúdo infantilizado – que remete a tempos e a realidades simplórias – serve como um precursor do fascismo.”
Em entrevista ao jornal inglês The Guardian, Moore atrelou as eleições de Donald Trump, em 2016, ao auge dos super-heróis nas bilheterias. “Milhares de pessoas estão se aglomerando para ver histórias criadas há mais de 50 anos para entreter garotos de 12 anos de idade. Nunca achei que os super-heróis eram para adultos. Isso até os anos 80, quando eu tive minha conta de participação com The Watchmen”, disse ele sobre o período em que os quadrinhos passaram a se popularizar entre os adultos.
O gosto excessivo por tramas de super-heróis é um elemento que vira e mexe é cutucado por intelectuais, especialmente do meio artístico. Ao dividir a humanidade entre o bem e o mal, e alçar alguém ao posto de salvador da pátria, essas histórias ficam na superfície das muitas camadas de uma sociedade real — e fazem com que os indivíduos depositem sua fé em uma vida melhor em líderes messiânicos, geralmente pessoas de pontos extremos do espectro político. “No fundo, a maior parte das HQs não evoluiu para adultos de fato, elas são baseadas nas mesmas ideias de quando foram feitas para crianças”, completou o quadrinista.