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Educação em evidência

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O que as evidências mostram sobre o que funciona de fato na área de Educação? O autor conta com a participação dos leitores para enriquecer esse debate.
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Celular promove o desenvolvimento infantil? Fato ou fake?

O Fantástico, da TV Globo, iniciou uma série sobre o uso de celulares e tablets pelas crianças. Podemos confiar em pesquisas feitas com apenas 6 crianças?

Por João Batista Oliveira Atualizado em 23 abr 2019, 11h06 - Publicado em 23 abr 2019, 10h24

O Fantástico do dia 21 de abril aborda um tema “polêmico”: o uso de celulares e tablets pelas crianças. Primeiro de uma série de programas produzidos pela BBC, este episódio apresenta resultados de uma pesquisa em andamento comparando seis crianças de até um ano de idade – três usuárias de aparelhos eletrônicos e três que aparentemente não os utilizam.

O programa mostra as crianças realizando diferentes testes de habilidades motoras amplas e finas, e ressalta a superioridade do desempenho dos usuários dos tablets e celulares. Ao final do programa, o pesquisador responsável pelo estudo diz que esta é uma das áreas que vêm sendo estudadas – nas demais o uso desses estímulos também parece contribuir para o desenvolvimento de diferentes habilidades. Diz que são resultados preliminares e que, embora a amostra seja de apenas seis crianças, este estudo corrobora um outro estudo mais amplo que ele está realizando.

O programa chama atenção por três aspectos: foi produzido pela BBC de Londres, apresenta resultados altamente controversos e está baseado numa pesquisa com apenas seis crianças. Fato ou fake? Tem como saber?

Primeiro, cabe observar: o programa recebeu severas críticas em jornais como The Guardian, não por ser “polêmico”, como gostamos de utilizar o termo no Brasil, mas por ser equivocado.

Segundo, apresenta resultados controversos, e, ainda mais, na área de desenvolvimento motor, que é de relevância secundária, no caso.

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Terceiro por não ter rigor metodológico suficiente para merecer divulgação – ainda mais nesse nível.

O que vemos no programa sequer chega a ser um “fato”. Para ser considerado um “fato” científico, a comprovação precisa ser rigorosa. No caso, nada sabemos sobre o passado das três crianças que nunca usaram tablets, nem sobre as outras que os usam intensamente.

Para evitar essas dúvidas, pesquisas científicas precisam usar amostras aleatórias de participantes, um número de casos que permita fazer inferências seguras e rigorosos controles experimentais.

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Sem isso, são apenas estudos de caso – servem para levantar hipóteses ou alertar para limitações de outros estudos, mas não possuem valor de comprovação.

De fato, há evidências bem mais robustas que dizem exatamente o contrário no que diz respeito à relação entre uso intensivo de tablets e habilidades motoras.

Ademais, no mundo da ciência, uma andorinha não faz verão: a evidência precisa ser cumulativa. São necessários vários estudos, feitos em lugares, tempo, condições e por pesquisadores diferentes, para que a validade seja estabelecida.

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Também devem usar metodologias e instrumentos diferentes – em estudos do desenvolvimento, são essenciais as análises de impacto desses estímulos contínuos no cérebro. Também o impacto no longo prazo é parte essencial da tarefa de estabelecer e comprovar fatos científicos.

Existem milhares de estudos publicados sobre o tema. O mais importante deles – conhecido como o estudo ABCD – vem sendo conduzido sob a direção de Dimitri Christakis, do NICHD (National Institute for Child and Health Development), dos Estados Unidos, e um dos autores das recomendações sobre “tempo de tela” aprovadas pela Academia Americana de Pediatria.

As conclusões desse estudo, consistentes com o conhecimento científico acumulado até aqui, mostram os efeitos devastadores do uso de celulares, especialmente sobre a atenção, memória e linguagem – pilares do desenvolvimento cognitivo e da aprendizagem.

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Celulares fascinam as crianças – da mesma forma que o chocolate, açúcar, sexo, dinheiro, poder, falar mal dos outros – bem como pseudo-fatos e fake news fascinam os adultos.

Apps para crianças são desenvolvidos para viciar – eles usam estímulos que atuam diretamente nas áreas cerebrais que provocam a sensação de prazer, e o fazem de forma inesperada, contribuindo para a formação do vício. São um vício como outro qualquer, mas não deixam de ser um vício.

Do estudo do NICHD já saiu a famosa frase “children need laps, not apps”: um dos efeitos negativos mais graves desse novo vício é o afastamento das crianças do convívio com seus pais. Há evidências muito mais rigorosas e interessantes que a mídia pode mostrar, com melhor proveito para a sociedade.

Que tal desligar o tablet – ou a TV – e ler um livro com o seu bebê?

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