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‘Rocketman’: o que é fato e o que é ficção na cinebiografia de Elton John

Longa toma algumas liberdades criativas ao contar trajetória do britânico – principalmente em relação a datas e pequenos detalhes

Por Diego Andrade Atualizado em 7 jun 2019, 10h38 - Publicado em 7 jun 2019, 09h40

Filmes que retratam a vida de personalidades muito conhecidas podem deixar os fãs mais fervorosos decepcionados com o que veem na tela – o resto do público, enquanto isso, fica interessado em saber se os eventos mostrados realmente aconteceram daquele jeito. No caso de longas como Rocketman, que conta a história de um artista ainda vivo e que participou da produção do próprio filme, a curiosidade só cresce: teria Elton John realmente se casado com uma mulher, apanhado do antigo empresário (e namorado) e tentado tirar a própria vida?

O cantor já afirmou em entrevistas que não queria que a produção amenizasse a parte soturna de sua trajetória. A personalidade difícil, as relações complicadas com familiares e amantes, o vício em álcool e drogas – esses aspectos não somente aparecem na tela como constituem a essência da narrativa. Mas, por ser um musical com tons de fantasia, o filme dirigido por Dexter Fletcher toma algumas liberdades criativas, até em relação à linha do tempo da vida do cantor.

Confira abaixo uma comparação entre alguns eventos do filme e o que se deu de fato:

O pai distante

(//Divulgação)

Rocketman se propõe a explorar as relações complicadas – com familiares, amigos e casos amorosos – que Elton John (Taron Egerton) teve ao longo de sua vida. A mais problemática talvez seja a que teve com o pai, Stanley Dwight (Steven Mackintosh). O filme o retrata como uma pessoa fria e distante, que não apoia as ambições artísticas do cantor. Segundo o próprio músico, em entrevistas concedidas durante toda a sua trajetória, teria sido assim mesmo. Em 2011, ele afirmou ao jornal britânico The Sunday Times: “Meu pai nunca veio me ver tocar. Nunca. Ele era um homem duro e impassível. Ele desdenhou, se desapontou e finalmente ficou ausente.”

Em uma entrevista à revista americana Time, Sheila, mãe de Elton (interpretada no longa pela atriz Bryce Dallas Howard), conta sobre uma carta que Stanley enviou em que desencorajava as aspirações musicais do filho. Tanto na vida real como no cinema, os dois se separaram quando Elton ainda era adolescente, e ela depois se casou com Fred Farebrother (vivido por Tom Bennett).

De Reginald Dwight a Elton John

(//Divulgação)

Seu nome de batismo era Reginald Kenneth Dwight, e Elton John veio da combinação de dois nomes, como mostra o longa. A primeira parte foi “roubada” de Elton Dean, colega de uma banda que o cantor integrava antes da fama, a Bluesology. No entanto, a cena em que ele olha para um quadro dos Beatles e decide adotar o John por causa de John Lennon é uma liberdade narrativa de Rocketman. Na realidade, esse nome foi inspirado em Long John Baldry, músico dos anos 1960 que também foi membro da Bluesology.

Conhecendo a banda de apoio

Cena da famosa apresentação de Elton John no Troubadour, clube localizado em Los Angeles
Cena da famosa apresentação de Elton John no Troubadour, clube localizado em Los Angeles (//Divulgação)

No filme, Elton John fica nervoso por não possuir ainda uma banda que possa acompanhá-lo em seu primeiro show no Troubadour, famoso clube de Los Angeles, nos Estados Unidos. De forma muito conveniente, o produtor Ray Williams (Charlie Rowe) afirma que tomará conta disso, e o cantor conhece os músicos momentos antes da apresentação, quando chega ao local. Na realidade, porém, ele já tinha uma banda de apoio antes disso, formada pelo baterista Nigel Olsson e o baixista Dee Murray, com os quais se apresentava pela Inglaterra desde abril de 1970, quatro meses antes de tocar no clube americano.

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O ponto de partida

(//Divulgação)

Os shows no Troubadour em 1970 marcaram não apenas a estreia de Elton John no país americano, mas foram também o ponto inicial de sua jornada para o sucesso. O filme recria com certa fidelidade a noite crucial da primeira apresentação, mostrando o nervosismo do artista antes de subir ao palco e a reação elétrica do público. Mas toma algumas liberdades. Uma das músicas tocadas na cena foi Crocodile Rock, que na vida real só foi lançada dois anos depois. Além disso, a banda de apoio de Elton ainda era formada apenas por Olsson e Murray, não possuindo um guitarrista, como na versão do longa. Apenas em 1972 Davey Johnstone se juntou ao grupo.

Relação tóxica

(//Divulgação)

O primeiro relacionamento homossexual do cantor não foi dos melhores, como o filme mostra. Seu empresário e namorado, por certo tempo, John Reid (Richard Madden) é retratado como uma pessoa bastante manipuladora, e boa parte da relação dos dois é marcada por desavenças. Em entrevista à revista americana Time, Bernie Taupin, o compositor e melhor amigo de Elton, interpretado na cinebiografia por Jamie Bell, afirmou: “Não é do meu direito vilanizar personagens. Mas, ao mesmo tempo, há um grande teor de verdade naquele retrato”.

No longa, há uma cena em que Reid agride seu amante durante uma discussão. A mesma reportagem da Time afirma que houve relatos de agressões entre os dois, mas nada que tenha sido comprovado. O que se sabe é que o escocês já chegou a ser preso por dar um soco em um jornalista na Nova Zelândia – a dúvida que fica é se esse comportamento violento foi adaptado no roteiro para dramatizar ainda mais a relação entre os dois ou se isso realmente aconteceu e Elton John decidiu revelar ao mundo no filme.

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A tentativa de suicídio 

(//Divulgação)

Um dos momentos mais fortes do longa mostra Elton tentando cometer suicídio durante uma festa em sua casa. Após tomar uma grande quantidade de comprimidos em seu quarto, ele vai de roupão até a área da piscina, onde estão sua mãe, outros membros de sua família e amigos, e anuncia, antes de se jogar na água: “Minha próxima travessura será me matar”. Depois de ser levado para o hospital, a cena seguinte traz o famoso show do cantor no Dodger Stadium (Los Angeles). Realmente, essa apresentação aconteceu dois dias depois da tentativa de suicídio, que se deu de forma bastante similar ao que foi retratado em Rocketman. A exceção, aqui, é que na vida real o “anúncio” teve um tom mais direto e menos espetaculoso, como conta o jornalista Tom Doyle na biografia Captain Fantastic: A Espetacular Trajetória de Elton John nos Anos 1970: “Vou morrer em uma hora. Tomei um monte de soníferos”, disse o cantor durante o episódio ocorrido em 1975.

Casamento fracassado

(//Divulgação)

Nos anos 1980, Elton teve um casamento de quatro anos com a engenheira de som Renate Blauel (vivida no longa por Celinde Schoenmaker). Esse curto período de sua vida se dá em apenas algumas cenas na tela, mas em tempo suficiente para retratar o fracasso dessa união. O longa ainda mostra como ele estava em um dos seus piores momentos em relação ao vício em álcool e drogas quando os dois se conheceram, dando a entender que o casamento foi quase um ato de desespero por algo que pudesse “salvá-lo”. De fato, em uma entrevista ao Los Angeles Times em 1992, Elton relacionou o casamento aos seus vícios: “Mesmo sabendo que eu era gay, eu achava essa mulher atraente e pensava que ser casado me curaria de tudo que havia de errado na minha vida”. Como o filme também retrata, o remorso viria mais tarde. “Tê-la machucado é uma das coisas das quais eu mais me arrependo na minha vida”, contou Elton ao jornal australiano Sydney Morning Herald em 2007.

Aqui, Rocketman é bem fiel ao que se deu na vida real, com exceção de um detalhe. No filme, o matrimônio acontece após eles trabalharem juntos no álbum Victim of Love, lançado em 1979. Mas, na verdade, o enlace se deu em 1984, após trabalharem na gravação do álbum Too Low for Zero (1983).

O show que não aconteceu e a internação

(//Divulgação)

A cinebiografia inicia já com Elton em uma clínica de reabilitação, onde o cantor aparece falando sobre sua vida numa sessão de terapia em grupo – e isso é usado na narrativa para contar sua história. Ao fim do filme, o público descobre como ele chegou lá: em um ato de impulsividade, o cantor decide não se apresentar no Madison Square Garden (Nova York) minutos antes de o show começar. Em vez disso, ele pega um táxi e vai direto para a clínica, sem tirar a fantasia que ele iria usar na apresentação. Na vida real, Elton de fato cancelou um show no mesmo local em cima da hora, com o público à sua espera, e o motivo para o cancelamento foi atribuído a uma gripe. Isso, no entanto, ocorreu em 1984, e o pianista só foi para a reabilitação em 1990.

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