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O que é fato e ficção em filmes e séries baseados em casos reais
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O real e a ficção no filme vencedor do Oscar sobre pastores trambiqueiros

'Os Olhos de Tammy Feye', que deu uma estatueta de melhor atriz para Jessica Chastain, narra ascensão e queda de televangelistas famosos nos Estados Unidos

Por Marcelo Canquerino 15 abr 2022, 09h52
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  • A televisão americana viu florescer, entre os anos 1970 e 80, uma onda de programas cristãos protagonizados por pastores que acabaram se tornando celebridades. Dentre os mais famosos televangelistas da época estão Jim Bakker e Tammy Feye, casal que tem a trajetória de ascensão e queda contada no filme Os Olhos de Tammy Feye, disponível no Star+. Começando de forma modesta, em pregações em torno dos Estados Unidos, os dois conseguiram um programa infantil religioso na televisão e, em seguida, fundaram sua própria emissora, a PTL, além de criar um parque apelidado de “Disneylândia cristã”. Canastrões, eles vendiam religião, mas arrancavam dinheiro de fiéis para sustentar uma vida de luxos. Logo, o casal caiu em ruína após diversas polêmicas. O filme levou duas estatuetas no Oscar este ano, de melhor maquiagem e cabelo e melhor atriz para Jessica Chastain, que deu vida à Tammy Feye, enquanto o papel do seu marido ficou sob a responsabilidade de Andrew Garfield. A produção peca ao apresentá-la com ares de inocência, mas vale ressaltar que Tammy usufruiu das falcatruas do marido para sustentar uma vida glamorosa e rodeada de hipocrisia. Confira o que é real e o que é ficção no longa.

    O sumiço do carro que levou o casal a televisão 

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    Cena do filme Os Olhos de Tammy Feye. (Reprodução/VEJA.com)

    A maneira como Jim e Tammy foram parar na televisão foi bem diferente da retratada nas telas. No longa, o casal para em um hotel de beira de estrada durante sua rota de pregações pelos Estados Unidos e o seu carro simplesmente some — a dupla supõe que foi um roubo ou um reboque por falta de pagamento. Os dois começam uma prece e milagrosamente surge outro casal que assistiu ao sermão deles no dia anterior e oferece ajuda, que inclui apresentar Jim e Tammy a Jerry Falwell, responsável pela televisão local. Esse primeiro contato deu aos dois um programa evangélico infantil na emissora de Falwell. A história, porém, não aconteceu assim. O acidente com o carro, um Cadillac, ocorreu na Virgínia, quando o trailer do casal danificou o carro, e foi mencionado por Jim durante seus cultos. Um casal chegou a oferecer outro carro, mas eles não gostaram do modelo. Por outro lado, a contratação de Tammy e Jim aconteceu apenas em 1966 e nada teve a ver com o veículo. 

    Tammy Feye apoiava a causa LGBT 

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    Cena do filme Os Olhos de Tammy Feye. (Divulgação/VEJA.com)

    Assim como retratado pelo longa, a famosa televangelista foi uma das primeiras a apoiar, no meio evangélico, a comunidade LGBT e as pessoas portadoras do vírus HIV. Apesar de ir contra o marido e outros poderosos da TV cristã, Tammy sempre bateu de frente para defender que todos mereciam ser tratados com respeito. Um dos momentos mais marcantes do filme, inclusive, aconteceu na vida real. A pastora chamou para participar de seu programa Steve Pieters, ativista cristão que falava sobre a Aids. A cena do filme, que mostra uma conversa sincera entre os dois foi praticamente recriada a partir da entrevista real exibida em Tammy’s House Party. A pastora, inclusive, se tornou um ícone dentro do meio LGBT por suas atitudes, principalmente entre os homens gays. O filme se inspira em um documentário de mesmo que foi narrado pela drag queen RuPaul. 

    O envolvimento entre Tammy e o produtor musical Gary Paxton 

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    Cena do filme Os Olhos de Tammy Feye. (Divulgação/VEJA.com)

    Com o aumento das atribuições de Jim na emissora cristã, Tammy começa a se sentir cada vez mais negligenciada pelo marido. Em meio ao problema no casamento, ela se envolve com o produtor musical Gary Paxton, responsável por gravar seus discos gospel. No auge da segunda gravidez, o flerte com Paxton evolui para algo carnal, a bolsa da televangelista estoura e ela corre para o hospital. Ao saber do episódio, Jim afasta o produtor e faz Tammy pedir desculpas pela traição em rede nacional. Os acontecimentos mostrados no filme não aconteceram de fato, mas bebem da realidade. Apesar de Feye nunca ter admitido ter um caso com Paxton, a esposa do produtor disse, em entrevista ao Los Angeles Times, que a pastora estava apaixonada por seu marido — mas que essa paixão era unilateral. Os rumores do caso chegaram a Jim que, assim como no longa, afastou Paxton, mesmo ele dizendo nunca ter tido relações sexuais com Tammy. 

    A prisão de Jim Bakker 

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    Cena do filme Os Olhos de Tammy Feye. (Divulgação/VEJA.com)

    O império construído pelo casal televangelista começou a ruir quando foi descoberto que Jim pagou 287.000 dólares a uma mulher chamada Jessica Han para ela não acusá-lo de agressão sexual. A partir de então o governo começou a investigar a vida luxuosa dos dois e principalmente a origem de tanta riqueza. Jim Bakker foi acusado de fraudar os investimentos feitos por doadores da PTL, sua emissora, que acreditavam que o dinheiro era usado para espalhar a palavra de Deus e a ajudar os mais necessitados. Assim como na vida real, Tammy não foi acusada de nada, mas seu marido recebeu uma sentença de 45 anos após ser declarado culpado por 23 acusações de fraude e uma acusação de conspiração. A pena foi reduzida para oito anos após Jim recorrer à decisão. Apesar de não abordar com detalhes, o filme indica que ele foi solto após cumprir os anos na cadeia e retomou seu trabalho como televangelista — na ativa até os dias de hoje, vendendo pílulas abençoadas contra a Covid-19. Já Tammy, faleceu em decorrência de um câncer de cólon, em 2007.

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