O desastre nuclear japonês real que inspirou série fenômeno da Netflix
Lançada recentemente na plataforma, "Os Três Dias que Mudaram o Mundo" retrata a sequência de tragédias que levou ao acidente de Fukushima, no Japão
No dia 11 de março de 2011, um terremoto de magnitude 9.1 atingiu o Japão, causando um tsunami de proporções assustadoras. As ondas deixaram cerca de 18 mil mortos no país e desencadearam ainda mais uma tragédia: o acidente nuclear de Fukushima, retratado em detalhes nos oito episódios da minissérie japonesa Os Três Dias que Mudaram o Mundo, que integra hoje o ranking das mais vistas na Netflix. A produção é estrelada por Yakusho Koji, que interpreta um personagem inspirado em Masao Yoshida, o gerente da usina nuclear de Fukushima Daiichi.
Como mostra a produção, o desastre se iniciou com um tremor de seis minutos sentido em todo o país. Pouco depois, ondas de até 15 metros de altura atingiram a costa leste do Japão, carregando consigo casas, prédios, automóveis e tudo o que estivesse pela frente – até mesmo a usina nuclear. Segundo os relatos, três reatores funcionavam naquele dia na usina de Fukushima Daiishi. Com o terremoto, todas as linhas de transmissão de energia que a alimentavam foram danificadas, o que ativou geradores a diesel que assumiram a movimentação das bombas de resfriamento dos reatores.
O pior viria em seguida: pouco antes das 15h, a usina foi atingida por duas grandes ondas. Os muros de pouco mais de 5 metros não conseguiram conter a coluna de água, que tinha o triplo do tamanho, e as ondas inundaram imediatamente o subsolo do prédio, onde ficavam os geradores. Com o alagamento, eles pararam de funcionar, deixando o local sem energia para o resfriamento dos reatores, que superaqueceram rapidamente ao longo do dia. Com a iminência de um desastre, as autoridades evacuaram os moradores em um raio de 20 quilômetros da usina.
Às 15h36 do sábado, dia 12, uma explosão de hidrogênio atingiu o prédio de contenção do Reator 1, destruindo o teto e a cobertura. Com isso, vapor radioativo foi liberado na atmosfera e houve vazamento de água contaminada no Pacífico. Os núcleos dos reatores de Fukushima derreteram, e os reatores seguiram sendo resfriados por meses, deixando o país em estado de alerta durante esse período. Até então, não havia registros de mortes decorrentes do acidente nuclear – mas em 2018 o governo japonês confirmou o óbito de um trabalhador de Fukushima por câncer causado pela exposição à radiação.
No total, 160 mil pessoas foram evacuadas. Algumas cidades próximas, como Okuma e Futaba, permaneceram interditadas até 2019 e 2020, quando foram parcialmente reabertas, e a expectativa é que algumas regiões permaneçam em processo de descontaminação até 2050. Por isso, o acidente de Fukushima é até hoje considerado o desastre nuclear mais grave desde a explosão de Chernobyl, na Ucrânia, em 1985. É também a maior catástrofe japonesa desde as bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki, em 1945, durante a Segunda Guerra Mundial.