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A trágica viagem que deu origem a ‘Gabriel e a Montanha’

Filme recria com fidelidade o espírito aventureiro de Gabriel Buchmann, encontrado morto em um monte no Malaui em 2009

Por Lucas Almeida 15 nov 2017, 17h21

A história de Gabriel Buchmann ficou conhecida quando o jovem economista permaneceu desaparecido por 19 dias, até ser encontrado morto no Monte Mulanje, no Malaui. Oito anos após a fatalidade, o diretor Fellipe Barbosa, amigo de Buchmann, lançou o filme Gabriel e a Montanha, que recria os últimos 70 dias do brasileiro no continente africano.

Para a mãe de Gabriel, Fátima Buchmann, a produção conseguiu contemplar a experiência do filho e transmitir uma imagem de celebração da vida. “O Gabriel fez uma imersão pelos países que passou e foi muito feliz. Ele era um jovem com um grande futuro pela frente e a história tocou muitas pessoas. No final, o filme deixa uma imagem positiva e inspiradora sobre a importância de conhecer novos lugares e culturas”, afirmou em entrevista a VEJA.

Barbosa passou por um longo período de pesquisa antes da execução do filme. Ele entrevistou amigos e familiares, leu e-mails e anotações do economista, e refez toda a sua trajetória nos países africanos mostrados no longa. Com exceção dos protagonistas João Pedro Zappa e Caroline Abras, que interpretam Buchmann e sua namorada, Cristina Reis, o restante do elenco é composto pelas próprias pessoas que o economista manteve contato na África. Mas essa não é a única semelhança da história de Gabriel que pode ser vista no cinema. Veja como outros assuntos são abordados na produção.

Mochileiro

modo-de-viagem

Com poucos itens em uma mochila e uma quantia limitada de dinheiro, Gabriel viajou por mais de dez meses pela Europa, Ásia e África. O longa retrata o modo peculiar de conhecer novos lugares utilizado pelo economista. O livro Gabriel, as Montanhas e o Mundo (Autografia, 266 páginas, 50 reais), escrito pela jornalista Alícia Uchôa e pela mãe do economista, Fátima Chaves de Melo Buchmann, retrata o antigo costume de Gabriel.

Desde o período de faculdade, em que cursou Economia na PUC-Rio, o jovem gostava de fazer roteiros diferentes dos tradicionais, para conhecer outras realidades e culturas. Entre os locais visitados estavam uma tribo yanomami na Amazônia, cidades do interior da Bahia e pequenas províncias da China. Gabriel ficava em casas de famílias que conhecia no caminho e se locomovia com a carona de caminhoneiros. No caminho, ele pesquisou sobre desigualdade social e a importância de políticas públicas para a população, análise que seria usada para o mestrado.

Figurino local e futebolístico

figurino

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As roupas usadas por João Pedro Zappa no filme podem parecer estranhas para quem assiste, mas esse era o modo como Gabriel viajava. O figurino pode ser divido em camisetas de futebol e vestes compradas por onde passava. O economista andava com a camiseta da Seleção Brasileira e do seu time do coração, o Flamengo. Em grande parta da passagem pela África, se cobria apenas com lenços comprados em uma pequena tribo, como na imagem acima.

 

Chinelo original

havainas

Em uma das primeiras cenas do filme, entre o Quênia e a Tanzânia, Gabriel compra um calçado com solado feito de pneu, típico da região. O protagonista virou adepto do acessório e chegou a escalar o Monte Mulanje com ele. Para esquentar, colocava meias nos pés. O economista chegou a comentar sobre o calçado com a namorada, Cristiane Reis, mas não resistiu e pediu que ela levasse um par de chinelos Havainas novo para quando se encontrassem. “Os espinhos daqui são sinistros. Na savana eles atravessavam a sola do meu sapato o tempo todo”, revelou no e-mail.

“O Gabriel não gostava de andar com sapato fechado em lugar nenhum. Ele tinha costume de fazer trilhas descalço. No Himalaia, ele usou botas que comprei, mas doou para um caminhoneiro”, contou Fátima Buchmann a VEJA. Durante as gravações do filme, João Pedro Zappa ganhou seu próprio solado de pneu, mas não se adaptou bem à sandália. O ator, então, adotou o calçado original de Gabriel que foi emprestado pela família para a produção.

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‘Fugiu para a África’

Fugiu-para-África

Durante uma briga no filme, Cristina afirma: “Você fugiu para a África”, mas nada mais é comentado sobre o assunto. Fátima Buchmann contou que a partida do economista aconteceu após momentos turbulentos no Brasil. “O Gabriel tinha muitos amigos e, depois da faculdade, eles resolveram morar juntos. Alugaram um apartamento em conjunto, mas houve conflitos comuns de convivência. O Gabriel ainda estava iniciando um mestrado em Economia e o pai dele, Sérgio, havia morrido há pouco por causa de um aneurisma de aorta”, explicou. Apesar da situação, o economista já planejava realizar o mochilão há muitos anos. “O Gabriel não ‘fugiu para a África’, porque isso já era um sonho dele. A Cris é usada como um contraponto para mostrar a personalidade do Gabriel. Mas quando ele desapareceu, todos esses amigos vieram à minha casa me ajudar, como uma família”, contou Fátima.

 

19 dias

morte

Os registros da viagem de Gabriel puderam ser coletados por conta dos seus e-mails para amigos e parentes, os relatos dos moradores locais que conheceu no caminho, além das próprias anotações e fotos que estavam em sua câmera. Os últimos 19 dias de vida do economista, no entanto, permanecem pouco conhecidos. Como mostrado no longa, o brasileiro começou a subida ao Monte Mulanje com um guia no dia 17 de julho de 2009, mas o dispensou para conseguir chegar ao topo com mais rapidez. As dificuldades começaram na descida. Imagens da sua câmera mostram que o clima mudou e a montanha foi coberta por chuva e neblina. O jovem montou uma espécie de ninho e se cobriu com folhas para se proteger do frio. Ele ficou no local durante três dias até morrer de hipotermia, de acordo com os laudos legistas.

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Apesar de não aparecer no longa, foi um árduo processo até que o seu corpo fosse encontrado. Equipes de resgate descobertas por amigos de Gabriel no Canadá foram ajudar na busca, o Itamaraty mandou representantes ao local e até uma equipe de Bombeiros de Estados do Rio de Janeiro foi ao Malaui para a procura.

“Minha casa virou um quartel general com mais de dez pessoas noite e dia em vários computadores, contatando pessoas na África e jornalistas. Os amigos do Gabriel organizaram uma vaquinha pelo Paypal e com esse dinheiro de pessoas do Brasil e até de outros lugares do mundo, financiamos a viagem de voluntários e ajudamos nos custos de helicópteros que sobrevoavam o Monte para fazer a busca”, contou Fátima. Apesar da longa procura, o corpo de Gabriel foi encontrado por uma dupla de artesões locais que cortavam capim para fazer vassouras.

 

https://www.youtube.com/watch?v=w9cw1Ntrhqg

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