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O que é fato e ficção em filmes e séries baseados em casos reais
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A dramática vida do estilista Halston: o que é real na série da Netflix?

Produção retrata jornada de estilista esquecido pela história e sua relação com outras figuras famosas da cultura pop americana

Por Amanda Capuano Atualizado em 26 Maio 2021, 18h47 - Publicado em 26 Maio 2021, 15h07
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  • Roy Halston, ou apenas Halston, como preferia ser chamado, foi um dos nomes mais influentes da moda americana nos anos 70, mas teve um fim trágico: perdeu o direito ao seu próprio nome, morreu cedo e foi praticamente apagado da história. A vida do estilista ganhou as telas na série homônima da Netflix, que tem o badalado produtor Ryan Murphy entre seus criadores.

    Para transpor a história de Halston para as telas, os produtores usaram como base a biografia Simply Halston, lançada em 1991 por Steven Gaines. Não faltam, porém, elementos dramáticos em sua trajetória, que foi da ascensão meteórica, embalada por sexo e drogas, até uma derrocada dramática. Por expor o lado não tão belo da fama, a série não agradou os familiares do estilista, que acusam a Netflix de sensacionalismo — sem apontar, no entanto, o que exatamente contraria a realidade na produção.

    Para entender o que é verdade e o que é ficção, a equipe de VEJA vasculhou notícias e entrevistas da época, além do documentário e da biografia do estilista. Confira:

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    Chapéu para a mãe e pai abusivo

    Halston
    Pequeno Roy Halston entregando chapéu para a mãe (Netflix/VEJA.com)

    A infância de Halston (vivido por Ewan McGregor na vida adulta) é abordada rapidamente em flashbacks. Logo no primeiro episódio, o pequeno Roy faz um chapéu para a mãe. A produção dá a entender, e reforça mais a frente, que o pai do estilista era abusivo, e que ele fazia os adereços para alegrar a matriarca. De acordo com o obituário publicado pela revista People, seu primeiro chapéu realmente foi feito para a mãe, quando ele tinha apenas 7 anos. Já a imagem do pai abusivo vêm de declarações expostas na biografia Simply Halston, em que o homem é apontado pelos filhos como alguém de “temperamento difícil”. O autor relata que Halston se ressentia com o pai por “fazer a mãe infeliz”, mas também diz que o garoto cresceu “cercado de familiares que o faziam se sentir amado e seguro”.

    O encontro com a musa Liza Minelli

    Halston
    Liza Minelli (Krysta Rodriguez) e Halston (Ewan McGregor) em Halston, minissérie da Netflix (Netflix/VEJA.com)

    Um busca rápida no Google traz uma enxurrada de fotos e artigos sobre a relação de Halston e da cantora Liza Minnelli (Krysta Rodriguez). Como mostra a série, os dois eram grandes amigos e confidentes, além de parceiros de baladas no famoso Studio 54, mas não foi uma performance enérgica da canção Liza With a Z que os uniu. Os dois se conheceram por intermédio de Kay Thompson, avó de Liza, que era uma cliente do estilista. As duas faziam compras quando a avó resolveu levar a neta ao estúdio de Halston. “Nós nos demos bem instantaneamente e ele se tornou meu parceiro fashion”, contou Liza em 2001, em entrevista à Harper ‘s Bazaar. Halston desenhou o figurino de suas apresentações ao vivo, praticamente todo o seu guarda-roupa e, como mostra a série, o conjunto amarelo usado por ela em um dos casamentos. Ela também realmente tentou convencê-lo, sem sucesso, a ir para uma clínica de reabilitação, mas não se sabe se ele chegou a modificar o figurino de Liza em Cabaret, como aponta a produção.

    A ausência de Andy Warhol

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    Halston com quadros de Andy Warhol nas paredes da casa de Liza Minelli ao fundo (Netflix/VEJA.com)

    O artista Andy Warhol é citado brevemente na produção, que deixa subentendido que os dois se conheciam. A ausência é um dos pontos fracos da série. Na vida real, Warhol teve uma presença notável na vida do estilista. Liza, Bianca Jagger, Elizabeth Taylor e Warhol eram grandes amigo de farra no Studio 54, mas o pintor era, além de tudo, um parceiro artístico de Halston. Os dois se inspiravam mutuamente e fizeram uma série de colaborações ao longo dos anos — em 2014, o museu Andy Warhol exibiu a mostra Halston and Warhol: Silver and Suede, que relembrou o impacto da dupla na cultura americana. A amizade só acabou em 1987, com a morte precoce de Warhol — dois anos depois, em 89, a publicação póstuma dos diários do artista revelou detalhes íntimos dos problemas com drogas e farras de Halston, que faleceu pouco depois, em 1990.

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    Corpo na tubulação

    Halston
    Cena de Halston em que uma penetra tenta entrar na festa e acaba morrendo na tubulação (Netflix/VEJA.com)

    No quarto episódio da série, uma festa no Studio 54 acaba com Liza Minelli desmaiada no chão e uma mulher presa nos dutos de ventilação, enquanto tentava entrar de penetra na festança exclusiva. Mais à frente no episódio, revela-se que a mulher foi encontrada morta depois que a polícia fechou a festa, e vestia roupas de grife. Um documentário de 2018 com a participação de Ian Schragero, co-fundador do badalado clube, revelou que um corpo realmente foi encontrado nos tubos de ventilação depois de um noitada, mas era um homem vestido de black-tie. A reunião com ares de dramédia para contar a notícia a Halston na série é pura liberdade poética. Na verdade, não se sabe se eles estavam na festa que resultou na morte, embora seja provável, já que eram frequentadores assíduos do clube.

    A relação com Elsa Peretti

    Halston
    Elsa Peretti (Rebecca Dayan) com os frascos da fragrância de Halston, criados por ela (Netflix/VEJA.com)

    Assim como Liza Minelli, a italiana Elsa Peretti (Rebecca Dayan) também era uma das amigas mais próximas de Halston. Elsa começou a carreira como modelo, e logo virou o rosto da grife. Seu verdadeiro interesse, porém, era desenhar joias, e muitas de suas peças aparecem na série. Foi ela também quem criou a embalagem lendária do perfume de Halston, como retrata a obra. Em um dos episódio, ela cita seu contrato com a grife Tiffany & Co., que realmente existiu — ela viria a se tornr uma das designers mais importantes da história da marca. O relacionamento de Elsa e Halston funcionava entre tapas e beijos: os dois se inspiravam mutualmente, mas também competiam entre si, como mostra a produção. Em entrevista à Vanity Fair, Peretti contou que chegou a jogar um casaco de Halston no fogo porque ele queria conversar sobre roupas de madrugada. “Eu disse para ele que aquela amizade significava mais pra mim do que um casaco, e o joguei no fogo”.

    Em outra passagem da produção, Elsa diz a Halston que o ama. Ao que ele responde ressaltando que não gosta de mulheres, mas, caso gostasse, ela seria a escolhida. Em entrevista à Vogue, Rebecca Dayan, que interpreta a designer, reforçou a relação: “dizem que se ele fosse hétero, ela seria seu grande amor”.

    Revolução na moda setentista

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    Desfile de Halston na Batalha de Versalhes, evento que contrapôs alta costura americana e francesa (Netflix/VEJA.com)

    A série pinta que o estilista teria revolucionado a moda americana dos anos 70 e isso de fato aconteceu. Depois da chamada Batalha de Versalhes, evento beneficente que se tornou um embate entre estilistas americanos e franceses, o mundo passou a prestar mais atenção na alta costura dos Estados Unidos, e Halston era uma de suas faces mais proeminentes. O tecido ultrasuede, mostrado na produção, foi um grande sucesso e um dos responsáveis por massificar a moda, já que todos queriam um exemplar. O jornal Women’s Wear Daily, descrito como a “bíblia da moda americana”, escreveu que as roupas de Halston “definiram todo o estilo americano”. Designers como Isaac Mizrahi e Diane Von Furstenberg já apontaram o artista como uma influência. O próprio acordo fechado por ele com a JC Penney, um dos motivos de sua derrocada, foi um marco no modo de se produzir e consumir moda: nos anos que se seguiram, designers como Donna Karan, Calvin Klein e Ralph Lauren se associaram a lojas de departamento com coleções para o “dia a dia”.

    Victor Hugo, a criptonita venezuelana de Halston

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    Gian Franco Rodriguez como Victor Hugo, namorado controverso de Halston (Netflix/VEJA.com)

    Halston realmente teve um namorado venezuelano chamado Victor Hugo (Gian Franco Rodriguez), e muitos creditam a ele a decadência do estilista. A sobrinha Lesley Frowick contou à People que, em seus últimos anos de vida, Halston tolerava Hugo, mas ele era um problema. No documentário Halston, de 2019, o amigo Sassy Johnson diz que Halston reproduzia com Victor o comportamento do pai. “Ele recriou sua vida familiar com Victor sendo a figura disfuncional que mantém tudo fora do eixo”.

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    Enquanto a série pinta a relação como uma longa e persistente aventura sexual, Victor contou ao biógrafo de Halston que as transas aconteceram somente nos primeiros três meses. O autor também relata que Halston fez Victor assinar um acordo de confidencialidade que foi quebrado por ele: a cena em que Liza lê um artigo com revelações de que o estilista participava de orgias com garotos de programas é uma provável referência à quebra do sigilo. Não se sabe, porém, se Victor chegou a subornar Halston com fitas íntimas.

    A queda de um gigante

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    Conversa entre Halston e investidor que comprou seu nome (Netlix/VEJA.com)

    Halston foi um marco para a moda americana, mas alguns tropeços no caminho e sua morte precoce fizeram o estilista ser praticamente esquecido. Daniel Minahan, diretor da série, chegou a descrever o artista como “a pessoa mais famosa que você nunca ouviu falar”. Em 1973, no mesmo ano da Batalha de Versalhes, ele vendeu a marca por 16 milhões de dólares para a Norton Simon — mas não há comprovação de quem tenha feito isso no carro em meio a uma crise, é provável que o momento mostrado na série tenha sido dramatizado.

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    Anos depois, Halston fechou ainda um acordo bilionário com a JC Penney, momento em que ele titubeia no roteiro da série. Na vida real, o próprio anunciou o acordo na televisão, dizendo que sua visão era “vestir todas as mulheres da América”, sem muitas dúvidas, aparentemente. O movimento não foi bem recebido pela alta costura, mas a coisa piorou quando a Norton Simon foi comprada por Carl Epstein que, como mostra a produção, baniu o estilista da própria marca. Segundo Frédéric Tcheng, diretor do documentário, Epstein destruiu arquivos de foto e vendeu modelos lendários do estilista — ele nunca conseguiu recuperar seu nome, e foi impedido de usá-lo em suas criações até a morte, em 1990, em São Francisco, em decorrência de complicações da Aids.

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