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Em um trecho bem-humorado do filme Coração Valente, de Mel Gibson, a tropa escocesa vira-se de costas para provocar os ingleses em uma batalha e todos mostram a bunda.
A cena é engraçada, mas infelizmente não é verídica. No século XIV, época em que se ambienta a narrativa, o kilt, aquele saiote xadrez usado pelos escoceses, ainda não tinha sido inventado. A roupa só começou a ser usada no século XVII.
Mas a película de Mel Gibson acerta, ao menos, em mostrar uma coisa: os escoceses não costumam usar cueca por baixo do kilt.
Depois que o saiote tornou-se obrigatório como uniforme do Exército, os soldados foram obrigados a não usar nada por baixo do pano. Para se certificar de que a regra estava sendo cumprida, oficiais checavam embaixo da saia dos demais olhando em espelhos colocados no chão ou na ponta de um bastão.
“A gente não olhava direito”, diz o escocês Colin Pritchard, de 76 anos, percussionista na banda de gaita de fole Saint Andrew Society e que serviu ao Exército na juventude, em Edimburgo, na Escócia. Quando era escalado como oficial do dia, ele precisava conferir a vestimenta dos colegas.
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Segundo ele, a principal razão para que os escoceses não usem nada por baixo do kilt é a tradição. “Isso não é algo que a gente pergunte se deve usar ou não. Sempre foi assim“, diz Pritchard. Outro motivo é a facilidade. “Sem cueca, dá para fazer o número 1 e o número dois na linha de frente, sem grandes dificuldades”, diz.
Conta-se que, em 1815, depois da vitória contra as tropas de Napoleão Bonaparte na batalha de Waterloo, o imperador da Rússia, o czar Alexandre I, solicitou que os soldados escoceses se perfilassem em frente a ele no Palácio do Eliseu, a residência e o gabinete do presidente francês. Ele, então, levantou os kilts para se certificar de que o costume era verdadeiro, segundo o livro The God’s Doodle (O Rabisco de Deus, em tradução livre), do jornalista inglês Tom Hickman. O czar teria ficado particularmente impressionado ao levantar o kilt do sargento Thomas Campbell, que era muito alto. Quem contou o que aconteceu foi o próprio Campbell, em seu livro de memórias: “Ele teve a curiosidade de levantar meu kilt até o meu umbigo. Então ele não se decepcionou”.
Os espelhos no chão deixaram de ser usados nos quartéis até 1960, mas o costume seguiu. Muitos só consideram como “verdadeiros escoceses” aqueles que não usam nada por baixo.
Em 2010, a Scottish Tartans Authority publicou um decreto dizendo que não usar cueca com o kilt é algo infantil e pouco higiênico. Foi um chamado ao bom-senso. “Basta perguntar aos especialistas sobre os problemas que eles têm limpando os kilts. Temos ouvido várias histórias de horror”, disse o diretor da Autoridade, Brian Wilton.
A bronca, contudo, não serviu para muita coisa. Os fabricantes e vendedores de kilt reclamaram. “Dizer que não é higiênico está errado. A liberdade de movimento é saudável. Nós sempre dizemos aos nossos clientes que vestir nada embaixo do kilt se tudo está funcionando direito”, disse Ian Chistholm, porta-voz da Associação dos Fabricantes Escoceses de Kilt, para o jornal inglês Telegraph.
Em uma foto da rainha Elizabeth II, tirada em 2015, o príncipe Philip, então com 91 anos, apareceu sem cueca em uma cerimônia na Escócia. Philip, consorte da rainha, tem o título de Duque de Edimburgo, a maior cidade da Escócia.