Jair Bolsonaro desdenha de alianças, manifesta indiferença quanto a fontes de financiamento de campanha, dá de ombros a espaço no horário eleitoral, faz da ignorância de forma e conteúdo um ativo. O isolamento político ele busca tornar uma vantagem comparativa junto ao eleitorado cansado da tradicional guerra entre profissionais do ramo.
Parece convencido de que está, assim, capacitado a repetir o candidato que em 1989 saiu do nada e chegou ao Planalto a bordo de um partido insignificante e de um discurso tão inflamado quanto simplista o suficiente para fazer o eleitor acreditar na figura do heroico salvador. Além do malfadado desfecho, conviria a Bolsonaro prestar atenção em outros detalhes antes de se espelhar no exemplo de Fernando Collor de Mello.
Dois, em especial: o marketing e o dinheiro. Collor praticamente inaugurou uma nova fase nesse quesito. Durante todo o tempo, dos preparativos da candidatura à eleição, foi totalmente orientado pelo cientista político Marcos Coimbra, cujo instituto Vox Populi media as demandas do eleitorado para que Collor se adequasse passo a passo a elas. Do dinheiro cuidava desde os tempos do governo de Alagoas o notório tesoureiro Paulo César Farias, de habilidades conhecidas.
Donde, se Bolsonaro acredita que história e farsa possam se repetir, esteja ciente de que essa crença é fluida e pode se desmanchar no ar. Não é o único a transitar pelo terreno da ilusão, de mãos atadas ao autoengano. Henrique Meirelles, homem do mundo de vasta experiência no campo árido das finanças, talvez tenha um plano imperceptível a olho nu. Do contrário, anda acreditando no inacreditável: o apoio de seu partido. Se não for rechaçado na convenção, será abandonado na campanha.
E Marina Silva que acredita no poder da omissão sobranceira? Passou o período entre a atual campanha e a anterior “fazendo a egípcia”. Nada era com ela. Agora parece esperar que o eleitorado a acolha por força da lei da gravidade. Difícil. Política é habilidade, mas exige muita vocação para a estiva. No exercício de arregaçar as mangas, Geraldo Alckmin não faz feio, embora o faça à sorrelfa, de um jeito antigo baseado na crença de que um bom arco de alianças é meio caminho andado. O problema (e disso dão notícias várias coligações gigantescas que resultaram em amazônicos fracassos) é que nem sempre elas levam ao destino pretendido em matéria de votos.
Ciro é outro que põe a mão na massa. Só que, para infortúnio dele, o faz com a boca em trombones lesivos à civilidade. Havia prometido mudar, mas segue o mesmo, provavelmente fiel ao estilo “aonde vai o valente?”, que pode, de novo, não o levar à linha de frente.
Para concluir, o campeão no quesito crenças infundadas: o PT. Acreditou que poderia se safar sem autocrítica, continua acreditando na fantasia da candidatura-fantasma de Lula, na versão da perseguição política, na eficácia do aval do chefe a um candidato procurador, na quimera de uma recuperação sem dor, na esperança de que seu dom de iludir o salve da derrocada. À espera de um milagre, enfim.
Publicado em VEJA de 1º de agosto de 2018, edição nº 2593