PRORROGAMOS! Assine a partir de 1,50/semana
Imagem Blog

Dora Kramer

Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Coisas da política. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.

Lote na lua

É fantasiosa a ideia de que a eleição na Câmara definirá o rumo de Bolsonaro

Por Dora Kramer Atualizado em 4 jun 2024, 14h37 - Publicado em 8 jan 2021, 06h00

Francamente, alguém acredita que o rumo do governo e o projeto de reeleição de Jair Bolsonaro serão definidos pela presença de Baleia Rossi ou Arthur Lira na presidência da Câmara dos Deputados?

Os dados de realidade nem sempre são agradáveis e raramente se enquadram ao universo onde se batalha pela opinião do público. Portanto, há na plateia muita gente disposta a acreditar que com Rossi eleito o Brasil estará a salvo de Bolsonaro e cairá irremediavelmente sob o domínio do (des)governante de turno se o vitorioso for Lira.

Para frustração dos entusiastas dessas hipóteses, não ocorrerá uma coisa nem outra. Primeiro porque Bolsonaro não tem paciência nem competência para dominar a Câmara e, segundo, porque no campo das ideias os dois candidatos são muito parecidos.

As fabulações sobre submissão total de um e oposição ferrenha de outro servem para manter a chama acesa do debate acerca do destino de Bolsonaro, animam as torcidas, mas não resistem à luz da vida como ela é.

Continua após a publicidade

E na Câmara a vida real é assim: deputado gosta de fidelidade à palavra empenhada, da sensação de acolhimento político e/ou pessoal, da ocupação de espaços legislativos, da atenção materializada no acesso ao gabinete do presidente da Casa e de ser ouvido por ele como se fosse o único.

O jogo ali é parlamentar, cujas regras são muito diferentes das que regem a dinâmica eleitoral. Ou é crível que o apoio nominal dos partidos de esquerda a Rossi signifique chance de aliança desse campo com o centro daqui a dois anos? A direita contrária a Bolsonaro também não deixará de se unir ao centro independentemente da posição assumida na eleição da Câmara. A próxima presidencial será definida pela economia, pelo desempenho dos governantes na vacinação e, claro, pela arquitetura política dos pretendentes.

“É fantasiosa a ideia de que a eleição na Câmara definirá o rumo de Bolsonaro”

Continua após a publicidade

Às vezes a ligação de um tema ao outro até atrapalha. O caso de Rodrigo Maia ilustra isso: ainda que tivesse condições legais, ele declinaria num misto de gesto de desprendimento e consciência de que teria dificuldades para se reeleger. Por duas razões: ausência daqueles quesitos enunciados acima como os preferidos dos deputados e existência de projeto eleitoral para 2022.

Tais fatores conspiram contra o candidato de Maia, por muitos visto como títere dele, enquanto Lira, além de prometer compartilhar o comando com o coletivo, tem, no máximo, planos de se reeleger em 2023, o que o obriga a cumprir os compromissos agora assumidos com seus pares. Não digo que assim será, mas é assim que muitos deputados analisam o quadro para definir seus votos.

Será uma eleição disputadíssima porque as posições estão em aberto, a despeito de a contabilidade partidária dar larga vantagem a Baleia Rossi, hoje tido como dono de quase 280 votos contra cerca de 200 para Arthur Lira. Fala-se muito em traições, mas a denominação não corresponde aos fatos.

Continua após a publicidade

Os partidos decidiram formalmente os apoios, mas em todas as bancadas há divisões significativas de lado a lado. Os dissidentes no máximo atuam discretamente, embora não façam questão de se esconder, muito menos de firmar promessas explícitas. Os dirigentes das legendas tampouco se ocupam a sério em produzir ameaças de retaliações.

Isso tem a ver com a consciência geral de que há mais semelhanças a unir que diferenças a separar os dois oponentes quando se fazem projeções sobre a presidência de um e de outro. Ambos são conciliadores, não têm o perfil de um ferrabrás tipo Eduardo Cunha, assumiram posições similares em votações de temas caros ao campo ideológico ao qual pertencem e nada farão que contrarie o espírito geral da Casa.

Por exemplo, a tal pauta de costumes continuará sem andar a despeito da vontade de Bolsonaro, porque determinados retrocessos não passam na sociedade. O impeach­ment só depende formalmente do presidente da Câmara. Na prática é agenda submetida a condições políticas e sociais, como demonstrado pela gaveta de Rodrigo Maia onde dormem 58 pedidos de impedimento.

Continua após a publicidade

Existem diferenças, no entanto. A folha corrida de Lira com denúncias de peculato, lavagem de dinheiro, sonegação de impostos e improbidade administrativa é uma delas. Outra é que pega mal votar em candidato de Bolsonaro. Em tese, favorecem Baleia Rossi. Mas, se valem muito para o público externo, não chegam a mobilizar sensibilidades internas numa eleição em que o voto secreto é a alma do negócio.

Os textos dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de VEJA

Publicado em VEJA de 13 de janeiro de 2021, edição nº 2720

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

a partir de 35,60/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.