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A sangue-frio

Enquanto Bolsonaro perde consistência, as instituições acumulam forças

Por Dora Kramer Atualizado em 24 abr 2020, 10h38 - Publicado em 24 abr 2020, 06h00

Quanto mais apreço demonstra pelo autoritarismo, mais Jair Bolsonaro se enfraquece em seu modo burlesco de governar. Muito dessa desidratação muscular se deve ao sangue-frio das instituições na reação às repetidas agressões constitucionais cometidas pelo presidente.

A construção de um ambiente que inevitavelmente culminará em algum momento na decretação da falência total do poder do presidente é paulatina, mas inexorável. Enquanto Bolsonaro atua a sangue quente, obrigando-se a encenar recuos táticos, a reação a ele avança gradativamente, sem açodamentos. Bolsonaro perde consistência e as instituições acumulam forças, como convém ao bom combatente.

Reclama-se aqui e ali por demonstrações de repúdio mais incisivas, argumentando-se que declarações, manifestos, abaixo-assinados e posicionamentos em redes sociais não têm a eficácia necessária para conter o presidente.

De fato, nada disso é capaz de enquadrá-lo aos limites da normalidade, mas é de se perguntar o que nessa altura dos conturbados acontecimentos teria esse condão. O início de um processo de impeachment neste momento parece ser tudo o que Bolsonaro gostaria. Para “provar” que sofre ofensiva golpista e, assim, se autorizar a uma luta livre ao arrepio do respeito a regras.

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Fora do impedimento não há recursos possíveis para uma solução definitiva. No campo da legalidade e da racionalidade, a fim de que não se cometa a estúpida estratégia de levar a coisa para o terreno predileto, por familiar, de Jair Bolsonaro.

No atual cenário, o que se tem em termos de resistência ao arbítrio não é pouco

Respostas “à altura” são mais fáceis de propor do que de executar com eficácia. Nas atuais circunstâncias, o que se tem em matéria de resistência não é pouco. A começar pelo clima de mais que relativa unidade nacional onde antes imperava a dicotomia dos polos. Um passo da maior importância foi dado com a abertura de inquérito no Supremo Tribunal Federal para descobrir quem organizou o ato em prol de regime de arbítrio ao qual o presidente deu aval com sua presença. Não figura entre os suspeitos, mas a possibilidade de as investigações chegarem muito perto dele é algo concreto, assim como o prazo de trinta dias que a Câmara deu a Bolsonaro para exibir o teste da Covid-19. Ele vai enrolar, mas a cobrança mostra movimentação em jogo.

Se não lhe serve de alerta, as posições de governadores, prefeitos, entidades civis, além das repetidas derrotas no Supremo e no Congresso, deveriam servir. Uma das mais recentes deu a medida do apoio do presidente na Câmara, quando conseguiu reunir apenas setenta votos a favor do governo no pacote de ajuda a estados e municípios, num colegiado de 513 deputados.
É sabida a ineficácia da tentativa de cooptação individual de adesões. Rodrigo Maia tem respaldo na Casa e ainda sete meses de mandato. Contra os quais o berreiro da “conspiração” nada pode de efetivo. Nem mesmo eleger um aliado para o posto. É o preço do menosprezo à formação de maioria parlamentar.

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Se o presidente da República nada pode contra o presidente da Câmara, a recíproca não é verdadeira. Nas mãos deste está a espada do impeachment a pender sobre a cabeça daquele, na dependência do acúmulo de passivos. No momento produzidos com rude afoiteza de um lado e paciente destreza de outro.

Publicado em VEJA de 29 de abril de 2020, edição nº 2684

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