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1984 em feitio de nostalgia

A nova geração quer reeditar um momento que não volta, dando peso igual a situações diferentes

Por Dora Kramer 30 Maio 2017, 17h06

O ano é emblemático: 1984 da ficção de George Orwell e da campanha das Diretas Já. Carente de causas com posições e contraposições nítidas, desprovidas de nuances,  a nova geração (um pouco da velha também) entrou no modo nostalgia à deriva ao escolher como bandeira de luta a realização de eleições diretas como solução à crise instalada desde a demonstração de que Michel Temer fazia jus ao posto de vice-presidente em parceria com Dilma Rousseff. Dissimulado e venal tanto quanto.

Falta a esses ativistas da ocasião, substância e informação. E aqui não tratamos da obviedade expressa na Carta Maior: eleição com vacância depois de dois anos de cumprido o mandato original, é indireta. Falamos direta e cruamente de falta de memória histórica. A campanha de 1984 foi essencial porque vivíamos uma ditadura contra a qual a defesa das diretas era um ponto crucial. No entanto, os ponderados sabiam perfeitamente bem que a emenda Dante de Oliveira não passaria no Congresso. Se passasse, seria um problema, entrave à transição negociada pela oposição responsável

A despeito da presumida frustração popular, os comícios haviam criado o ambiente propício para a derrota do regime em seu habitat: o Congresso.   Tancredo Neves tinha um plano e, o minar a candidatura de Paulo Maluf o realizou. Somos filhos daquele ato que  o PT recusou-se a reconhecer e e hoje pretende patrocinar. Construímos o fim da ditadura pela vida indireta, do Congresso. Podemos trilhar caminho semelhante para marcar posição definitiva e efetiva contra a velha política patrimonialista, corrupta, sustentada pelo silêncio dos compadres.

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