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Dias Lopes

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O barba-azul glutão

A série The Tudors, disponível na Netflix, conta a história de Henrique VIII, o rei que comia demais, casou com seis mulheres, mandou decapitar duas, porém encaminhou a Inglaterra à hegemonia mundial

Por J.A. Dias Lopes Atualizado em 30 jul 2020, 22h08 - Publicado em 9 ago 2016, 22h23
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Frumenty: um dos doces favoritos do rei

Os pintores eram obrigados a retratá-lo mais magro, pois ele detestava ser gordo. Mas nunca conseguiram obedecer à ordem recebida, sob pena de Henrique VIII, rei da Inglaterra entre 1509 e 1547, parecer outra pessoa. O soberano que governou o país com mão de ferro, por 38 anos, era baixo e roliço. Na idade adulta, seu peso jamais baixou dos 100 quilos. Quando morreu, aos 56 anos de idade, o diâmetro da cintura alcançava quase 1,5 metro. Vaidoso, ele procurava em vão disfarçá-la. Ao levantar da cama de manhã, camareiros espremiam a barriga real com uma faixa de pano muito  apertada.

Entretanto, Henrique VIII não se notabilizou apenas como glutão. Também se tornou famoso pelo casamento com seis mulheres, duas das quais mandou decapitar e trocou por outra; por romper com o papa Clemente VII e fundar a Igreja Anglicana; e por encaminhar seu país à hegemonia mundial.

A obesidade não era por acaso. Embora se dedicasse ao esporte e praticasse caça, foi um dos maiores glutões de todos os tempos. Seu desjejum consistia em pão dormido, pois acreditava que esse alimento, quando assado no dia, causava acidez estomacal. Segundo os biógrafos, era indício de que sofria de problemas digestivos, provocados pelos excessos alimentares e etílicos.

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Seguiam-se opulentas porções de fiambre, ovos de várias elaborações e substancioso cozido, acompanhado de uma jarra de cerveja, que substituía a água, em cuja sanidade não confiava, nem quando fervida. Notório hipocondríaco, o rei era fanático por elixires e fármacos. Tomava vinho de Bordeaux macerado vinte e quatro horas com pimenta cubeba, que ajudaria na digestão, cardamomo, contra a flatulência, e alecrim, supostos protetores cardíacos.

A história do mais controvertido rei da Inglaterra, um tirano integral, está sendo reprisada com sucesso pela Netflix, na série The Tudors. O título veio do nome da dinastia a que pertenceu Henrique VIII. A Casa de Tudor assumiu a coroa inglesa em 1485, com Henrique VII, pai de Henrique VIII, e ficou no poder até 1603, quando morreu Elizabeth I, a filha do rei barba-azul com Ana Bolena, uma das duas mulheres a quem ele mandou decapitar – a outra seria Catarina Howard.

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Henrique VIII: a obesidade não era por acaso

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A série disponível na Netflix foi escrita e produzida entre 2007 e 2010 pelo inglês Michael Hirst. É bastante fiel à história, com algumas discrepâncias, como por exemplo não reproduzir o físico pouco atraente do soberano  comilão.

Henrique VIII revelava colossal apetite. Nas refeições diárias permanecia até três horas à mesa. Alimentava-se compulsivamente. Pegava a comida com a mão direita, seguindo o costume da época, às vezes tendo na esquerda uma faca ou uma colher, porque ainda não existia o garfo.

Entretanto, tinha o hábito higiênico de lavar as mãos com água perfumada, antes e depois de comer. Iam à mesa real bandejas repletas de comida, servidas por duplas de criados, que ali depositavam peças inteiras de veado, vitelo, cordeiro, porco, coelho, pavão, perdiz, pombo, passarinhos cantores (considerados iguarias) e, inclusive, carne de baleia.

Seguiam-se pratos como veado salteado na manteiga e acebolado, ao  molho de vinho tinto e ameixa, empadão de sardinha ou peixinhos de rio, salmão recheado e uma infinidade de receitas quase sempre gordurosas e pesadas. Muitos alimentos haviam sido modelados nos formatos de animais, plantas etc. Chegavam misturados, fossem doces ou salgados, cada um se servia como queria.

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O rei também se entregava aos doces, a começar pelo elementar frumenty, velha receita da cozinha inglesa à base de grãos de trigo, leite, gemas de ovos, açafrão, não raro especiarias aromáticas, além de mel na finalização. Inicialmente, era salgado e levava carne. Depois, virou doce. Henrique VIII ainda gostava da tortinha das damas de honra. Descobriu-a vendo o que comiam as acompanhantes da sua primeira mulher, a espanhola Catarina de Aragão, da qual se separaria para casar com Ana Bolena.

Ao perguntar para uma delas o nome daquele docinho de massa folhada, amêndoa, ovo, leite e noz moscada, a dama de honra deu de ombros. O rei suspirou ao prová-lo e se encantou com o sabor. Então, batizou-o de tortinha das damas de honra. A mulher a quem perguntou o nome do docinho conquistou na alcova o direito de ser malcriada: talvez fosse Ana Bolena, sua amante do momento.

Nos banquetes, Henrique VIII era capaz de ficar horas a fio sentado, até porque bebia descontroladamente e só parava quando se sentia nauseado. Gloria Sanjuán, no livro “Cocina de Reyes y Pobres” (Editorial Libsa, Madri, 2003), conta que nessas ocasiões Henrique VIII podia disputar o copo com alguns cortesãos convidados, “que acabavam junto com o rei, embaixo das mesas, embriagados e exaustos, até perderem o sentido”. O soberano aprendeu a beber e a ser bom de garfo na infância, com os preceptores.

Um biógrafo interpretou a precocidade como uma maneira de compensar a indiferença do pai, Henrique VII. O fundador da Casa de Tudor concentrava as atenções no primogênito Artur, herdeiro do trono. Queria que o segundo filho, o futuro Henrique VIII, entrasse para a Igreja Católica e conquistasse um alto cargo na hierarquia eclesiástica, como o cardinalato ou, quem sabe, ser eleito papa.

Para isso, o jovem príncipe estudou teologia por mais de uma década, além de música e línguas. A morte prematura do irmão, porém, alterou-lhe o destino. Em 1509, o jovem Príncipe de Gales sucedeu o pai e, ao ser coroado, adotou o nome de Henrique VIII.

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Autorizado pelo papa Júlio II, casou com a viúva de Artur, Catarina de Aragão, por quem já seria apaixonado.  Viveram juntos dezoito anos. Católico fervoroso, rejeitou oficialmente o protestantismo de Lutero e, por isso, recebeu do papa Leão X o título de “defensor da fé”. Dos cinco filhos que teve com Catarina de Aragão, apenas Maria sobreviveu. Mas, como se o preocupava com sobrevivência da Casa de Tudor e com a sua própria sucessão, queria um herdeiro homem.

A solução, a seu ver, era trocar formalmente de mulher. Apaixonado pela amante Ana Bolena, pediu ao papa Clemente VII para anular seu casamento. Como o pontífice se recusasse a atendê-lo, rompeu com o catolicismo romano e fundou a Igreja Anglicana, sobre a qual passou a ter poder absoluto.

O rei barba-azul foi excomungado por Clemente VII, porém seguiu em frente. Em 1533, ordenou que a Igreja Anglicana anulasse o seu casamento com Catarina de Aragão e casou com Ana Bolena. Três anos depois, acusou de adultério a segunda mulher e também mandou executá-la. Ela havia dado à luz a futura Elizabeth I, apelidada de Rainha Virgem “pela aversão ao matrimônio”, conforme se dizia.

Henrique VIII casou outras quatro vezes: primeiro com Jane Seymour, que morreu após lhe oferecer o tão aspirado herdeiro, o futuro rei Eduardo VI; a seguir, com Ana de Clèves; depois, com Catarina Howard, que igualmente acusou de infidelidade e mandou tirar deste mundo; e, por fim, casou com outra  dama da corte, Catarina Parr, que conseguiu o prodígio de sobreviver a ele.

Aos 44 anos de idade, Henrique VIII caiu do cavalo e nunca mais foi o mesmo. O acidente comprometeu a sua saúde. Paradoxalmente, alguns contemporâneos diziam que, socialmente, era homem educado e culto, falando e escrevendo em francês e latim, além do inglês, é claro. Mas, enquanto teve forças, permaneceu glutão e devasso.

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FRUMENTY – Rende 4 porções

INGREDIENTES

  • 1 xícara (chá) de grão de trigo integral
  • 2 gemas
  • 3 xícaras (chá) de leite
  • 1 pitada de açafrão
  • Mel para regar
  • Canela para polvilhar

PREPARO

1. Deixe os grãos de trigo de molho em água, de preferência de um dia para o outro. Escorra.

2. Em uma panela, cozinhe o trigo em água suficiente para que os grãos fiquem macios. No final, se for o caso, escorra o excesso de água.

3. Retire a panela do fogo e misture as gemas.

4. Incorpore o leite e a pitada de açafrão. Mexa  e retorne ao fogo (baixo), misturando seguidamente, até o preparado ferver e condensar.

5. Sirva quente, regado com mel e polvilhado com canela.

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