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Diário da Vacina

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
A repórter Laryssa Borges, de VEJA, relata sua participação em uma das mais importantes experiências científicas da atualidade: a busca da vacina contra o coronavírus. Laryssa é voluntária inscrita no programa de testagem do imunizante produzido pelo laboratório Janssen-Cilag, braço farmacêutico da Johnson & Johnson.
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Voluntários estão emocionalmente esgotados: abram os dados da vacina

Não há informações de quando será aberto o chamado duplo-cego da pesquisa da Janssen e quando os voluntários saberão se receberam vacina ou placebo

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 mar 2021, 12h33 - Publicado em 13 mar 2021, 12h21

13 de março, 10h: Há 14 dias a FDA, agência regulatória de medicamentos e alimentos dos Estados Unidos, autorizou o uso emergencial da vacina da Johnson & Johnson nesta pandemia. Órgãos sanitários canadenses também já aprovaram a aplicação do imunizante no país. A Agência Europeia de Medicamentos (EMA), responsável pelo aval no bloco da União Europeia, foi a terceira a dar sinal verde para o antígeno ser mais uma vacina no controle do vírus. Nesta sexta-feira, a Organização Mundial da Saúde (OMS) engrossou a lista e elencou a vacina da J&J como uma ferramenta segura e efetiva contra a doença e a inseriu entre aquelas que fazem parte do Covax Facility, consórcio para distribuir doses a países pobres e em desenvolvimento. Enquanto isso, nenhuma palavra sobre quando os mais de 45.000 voluntários em todo o mundo que se alistaram para os ensaios clínicos terão a oportunidade de saber se receberam, no ano passado, uma substância com o princípio ativo ou uma ampola com soro fisiológico.

No momento da mais acentuada curva de casos de Covid no Brasil, o novo epicentro de contágios em todo o mundo, estamos alijados de informação. Como voluntária da pesquisa científica em prol da vacina da Janssen, faço parte do grupo de 7.560 brasileiros que se disponibilizaram a ajudar os cientistas a desenvolver o imunizante e testar com nosso corpo a eficácia do produto e suas possíveis reações adversas. Os resultados foram muito positivos, e não houve registros de danos colaterais graves relacionados à vacina entre nós. Outra grande descoberta foi a eficácia de 87% contra formas graves da variante brasileira do vírus e de 81% contra quadros severos provocados pela cepa sul-africana. Há uma sensação de dever cumprido – e de alívio por termos ajudado a colocar de pé mais uma arma de controle do coronavírus.

Ainda assim, estamos, os voluntários, às cegas por não sabermos quando chegará a informação sobre se estamos ou não imunizados. Todos conhecemos pessoas que não resistiram à doença, que estão internadas, desenganadas ou felizmente que enfrentaram a Covid sem maiores contratempos. Nos sentimos no direito de saber desde já o conteúdo da ampola que recebemos. FDA, Canadá, EMA e OMS já disseram sim para a vacina. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) se reunirá com os executivos da empresa na terça-feira próxima e em breve também deve avalizar o uso emergencial do imunizante. O que mais falta para quebrar o duplo-cego?

O blog conversou com pessoas que chegaram a cogitar entrar na Justiça para saber de imediato se receberam a vacina verdadeira ou um placebo. O motivo não tem nada de egoísta: com voluntários em idade de vacinação e podendo receber a CoronaVac ou o imunizante desenvolvido pela parceria Oxford-AstraZeneca, é preciso saber se é o caso de abandonar a pesquisa clínica da Janssen e migrar para a vacina concorrente ou, por já estar imunizado, abrir caminho para que outras pessoas recebam as doses oferecidas pelo governo.

Como voluntária, também já recebi um sem-número de versões desencontradas sobre quando os dados da vacina serão disponibilizados: ora depois que traduzirem a documentação enviada a FDA, ora depois que a Anvisa disser que sim, ora em um genérico “futuro breve”, ora “em março”, ora “não temos essa informação”.

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Os americanos, cujo governo financiou importante parte da pesquisa de elaboração de um produto de dose única e fácil armazenamento, já estão recebendo normalmente a vacina da Janssen. Só nas últimas 24 horas, segundo cálculos do conselheiro sênior da Casa Branca para a Covid, Andy Slavitt, 240.000 doses deste imunizante foram aplicadas no país.

Estamos esgotados, abram os dados da vacina.

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