5 de dezembro, 8h06: Tenho plena confiança de que teremos várias vacinas, em um prazo relativamente razoável, para proteger a população contra o novo coronavírus. Reino Unido e França começam nas próximas semanas a imunizar seu povo e, no Brasil, como já sabemos, serão priorizados profissionais de saúde, idosos, indígenas, pacientes com comorbidades, pessoas que vivem em instituições psiquiátricas ou de repouso, professores e a população carcerária. Pode parecer egoísmo, mas se vacinas concorrentes ficarem prontas antes e forem distribuídas à população, nós, voluntários, ficaremos em nossos estudos clínicos até que o imunizante que estamos ajudando a desenvolver também fique pronto? Morreremos na praia?
Esta foi uma das primeiras perguntas que ouvi depois de anunciar que era voluntária nas pesquisas científicas do braço farmacêutico da Johnson & Johnson: “Se o governo de São Paulo prepara a CoronaVac para aplicar em seus residentes a partir de janeiro, você vai esperar a dose do seu estudo até o fim?” Confesso que fiquei sem resposta. Consulto o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que é uma espécie de conjunto de regras que recebi ao tomar a minha dose, no Rio, no dia 17 de novembro. Posso deixar o estudo no dia que quiser, na hora em que quiser, com ou sem motivo, com ou sem vacina concorrente.
O fármaco da Janssen-Cilag terá sua eficácia anunciada em breve – possivelmente quando chegarmos ao “número mágico” – e a tendência é que haja um pedido para uso emergencial junto à Anvisa, colocando mais um imunizante à disposição das autoridades sanitárias.
Para entender por que devemos ter o maior número possível de vacinas, ouvi a bióloga e diretora-presidente do Instituto Questão de Ciência, Natalia Pasternak. Ela virou uma espécie de oráculo nestes tempos tão difíceis. “A gente sempre soube que não ia ser possível ter uma vacina única para esta doença nem no Brasil nem no mundo. É um assunto que vai ter que ser muito bem comunicado para que a população entenda que uma vacina que precisa viajar para regiões muito remotas precisa chegar nesses locais com a eficácia ainda intacta. Pode ser a vacina que não tenha a maior eficácia, mas é a possível naquelas circunstâncias e para aquela região. Pode ser que tenhamos vacinas com eficácias diferentes dependendo da faixa etária, com a possibilidade de uma ser melhor para jovens e outra ser melhor para idosos”, disse ela ao blog.
8h31: É um estímulo para que nós, voluntários, continuemos firmes nas pesquisas. A vacina boa para meu vizinho pode não ser ideal para o meu pai idoso. Os estudos precisam e vão continuar.
Nota mental: A vacina experimental da Johnson & Johnson é de dose única. As demais não são. Mais um estímulo para que não abandonemos o barco.