26 de novembro, 16h10: O mundo nunca ansiou tanto por uma vacina. Já se foram mais de 171.000 brasileiros mortos pelo recém-descoberto coronavírus, e laboratórios de todo o planeta jamais investiram tantos recursos humanos e tanto dinheiro em tão pouco tempo para descobrir um imunizante. Por isso dá um gosto amargo saber que o episódio envolvendo a AstraZeneca abalou nossas esperanças – a de voluntários e a da população em geral – e a farmacêutica está sendo colocada contra a parede por ter omitido erros no estudo clínico que tem conduzido.
O anúncio de que uma vacina de baixo custo (até 4 dólares) e com eficácia de até 90% havia sido desenvolvida pela parceria entre a empresa e a Universidade de Oxford foi colocado em xeque por cientistas. Por que houve uma variação tão grande na imunização – 62% quando voluntários receberam duas doses do experimento e 90% com uma dose inteira e uma fracionada? E qual o motivo de uma dosagem menor ter resultado em uma cobertura imunológica tão mais alta? Os pesquisadores não souberam responder e admitiram que são necessários estudos adicionais para comprovar se o fármaco é tão bom quanto se espera. Criou-se uma pulga atrás da orelha dos voluntários: e se a corrida pela vacina embaralhou os olhos dos pesquisadores por procedimentos seguros?
Acredito que nós, voluntários, estamos entre os mais eufóricos para que tudo dê certo com o maior número de vacinas possível, mas é preciso dar tempo ao tempo. E passar segurança àqueles que, como eu, concordaram em se submeter a testes na maior pesquisa científica da nossa geração. A ansiedade pela aprovação emergencial de produtos para que pelo menos parte da população já possa ser imunizada mostrou que a pressa pode levar a resultados não muito confiáveis. E que a credibilidade de estudos clínicos pode evaporar de uma hora para outra.
Consultei o doutor Luis Augusto Russo, pesquisador principal do estudo do qual sou parte, para saber quando o fármaco da Janssen-Cilag vai poder ter sua eficácia aferida. Na melhor das hipóteses, em cerca de três meses, mas pode chegar a seis. E, no mundo ideal, só seria anunciada em definitivo a potência da vacina quando todo o processo de pesquisa for finalizado, dentro de 25 meses. Em dezembro de 2022.
17h46: Diante do importante revés do caso Oxford-AstraZeneca, recorro aos protocolos da vacina experimental da Janssen. Se eu fixar, para efeitos de cálculo, a data de 17 de novembro, quando recebi a dose, como “Dia 1”, no “Dia 29” farei uma nova bateria de exames, chamada de visita de segurança e imunologia para ver se desenvolvi anticorpos e no “Dia 71” serei testada novamente para saber se consegui mesmo ser imunizada. Entre abril e maio de 2021, no que seria a “Semana 24”, faria mais testes, assim como na “Semana 52”, na “Semana 78” e, por fim, da “Semana 104”, entre outubro e dezembro de 2022, quando finalmente os protocolos seriam abertos e nós, informados se tomamos a vacina de verdade ou um placebo. A sucessão de testes serve, por exemplo, para saber, caso tenha sido imunizada, por quanto tempo permanecerei livre do vírus.
Como a pandemia não nos permite esperar até 2022, os laboratórios querem que os fármacos sejam colocados em circulação em caráter emergencial – com os estudos clínicos ainda em andamento mesmo. É o que tem acontecido com outros laboratórios, como a Pfizer, que já entrou com pedido de emergência junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e a Sinovac, que fechou parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo. É o que provavelmente vai acontecer com o braço farmacêutico da Johnson & Johnson. O caminho é longo, mas também urgente.