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Diário da Vacina

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
A repórter Laryssa Borges, de VEJA, relata sua participação em uma das mais importantes experiências científicas da atualidade: a busca da vacina contra o coronavírus. Laryssa é voluntária inscrita no programa de testagem do imunizante produzido pelo laboratório Janssen-Cilag, braço farmacêutico da Johnson & Johnson.
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O dilema do voluntário: se recebi placebo, o mundo será vacinado e eu não?

É justo que todas as pessoas de fora dos estudos recebam prontamente vacinas e alguém que se propôs a ajudar a ciência se mantenha firme no placebo?

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 11 dez 2020, 13h25

10 de dezembro, 13h15: A Anvisa aprovou hoje a possibilidade de conceder autorização para o uso emergencial de vacinas contra a Covid-19. Depois de termos comido poeira na organização, encomenda e logística dos imunizantes, o país tenta agora sair da zona de rebaixamento e autoriza que estudos científicos que ainda estão na etapa final de testagem, a chamada fase 3, possam pedir aval para que as doses sejam aplicadas logo nos brasileiros. Se o mundo não tivesse em uma pandemia que já infectou quase 70 milhões de pessoas, o protocolo não seria este. A pesquisa da qual sou parte, por exemplo, previa que apenas ao final de 25 meses haveria uma resposta sobre a eficácia ou não da vacina. Agora, assim que conseguirem medir a eficiência do produto em um pequeno grupo, vão pedir à agência de vigilância sanitária brasileira autorização para que a vacina da Johnson & Johnson também seja colocada na praça.

Dito isso, relembro que pelo menos quatro vezes nas últimas três semanas me perguntaram quando eu pretendo abandonar a ideia de ser voluntária e tentar receber vacinas que certamente chegarão antes. O motivo de questionamento é mais do que justo, mas só me dei conta de que isso poderia acontecer cerca de uma hora depois de ter tomado a vacina experimental da Janssen-Cilag, no dia 17 de novembro. Há um risco nada desprezível (de 50%) de eu ter recebido um placebo, uma substância sem efeito nenhum, enquanto na outra metade dos voluntários tenham sido ministrados imunizantes verdadeiros capazes de produzir anticorpos contra a Covid-19. Na teoria, nem eu nem eles saberemos se nos demos bem, com um antígeno de verdade, ou mal, com uma ampola de soro fisiológico, até dezembro de 2022. Se eu tiver recebido placebo, é possível que o mundo seja vacinado e eu não? E que eu só possa ser imunizada quando acabar o estudo e enfim souber o conteúdo da dose que recebi?

É um misto de impasse ético com dilema de voluntário: é justo que todas as pessoas de fora dos estudos recebam prontamente vacinas e alguém que se propôs a ajudar a ciência se mantenha firme no placebo? O questionamento foi levantado pelo manda-chuva da imunologia nos Estados Unidos, Anthony Fauci. Não sabendo se faço parte do grupo que recebeu placebo ou daqueles que receberam a dose real, devo abandonar o projeto de ser voluntária quando a vacina concorrente bater à minha porta?

Vejam os danos colaterais da potencial saída em massa de inscritos em estudos clínicos: os cientistas perdem os dados de segurança, o acompanhamento que os permitirá saber a eficácia e manutenção da imunidade anti-Covid e a linha do tempo que autoriza medir efeitos futuros no organismo, por exemplo. Porque, pelo menos até agora, os estudos clínicos de laboratórios de todo o mundo ainda estão em processo, e as autorizações para comercialização são excepcionais e emergenciais (e justas) para baixar a curva de casos que teima em se manter nas alturas.

17 de novembro, 18h42: Uma médica me acompanha para ver se não terei nenhuma reação alérgica à dose de vacina experimental que acabei de tomar em uma clínica no Rio. Na conversa, ela me tranquiliza: assim que a vacina da Janssen for comercializada, nós, voluntários do estudo clínico do braço farmacêutico da Johnson & Johnson, receberemos a dose verdadeira caso, pela conspiração dos algoritmos, tivermos sido selecionados para o grupo do placebo. O mundo será vacinado. E eu também.

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