24 de dezembro: Moro há cerca de 30 anos na mesma rua, um local pacato habitado essencialmente por idosos. Antes da pandemia, ao sair para o trabalho, via um deles tomar sol, em uma cadeira de rodas, acompanhado de uma cuidadora. Este senhor, cujo nome vou omitir em respeito à família, foi a primeira vítima fatal da Covid-19 entre meus vizinhos. A esposa, que me viu crescer e brincar com seus filhos no início dos anos 1980, faleceu um mês depois. Também de Covid.
Na segunda-feira, uma amiga da minha mãe não resistiu e morreu aos 68 anos após aparentemente ter sido contaminada em um evento familiar. Os pais de duas amigas também foram levados pela doença e não conseguiram chegar a este Natal. Nenhum dos que viram seus familiares sucumbirem à doença que se aproxima das 1,8 milhão de mortes no mundo pode se enlutar apropriadamente. Nenhum acha que foi uma gripezinha. Nenhum acha sem propósito a ansiedade e a angústia por uma vacina. Nenhum tripudiou sobre o cadáver de um voluntário.
Tem sido frustrante como voluntária de um medicamento em potencial ver pessoas ao redor sucumbindo aos montes e outras celebrando como se o mundo ainda girasse na mesma rotação. As doses anti-Covid chegarão a nós no próximo ano, mas não há imunizantes contra o negacionismo ou contra os adoradores da cloroquina.
Não há o que comemorar em um ano que redimensionou nossos valores como seres humanos e que nos mostrou a exata medida de nossa fragilidade. Nesta véspera de Natal, minha solidariedade às famílias devastadas pela pandemia. Queria que, como voluntária, pudesse ter feito mais.