Dia 0: orgulho de ser voluntária
Os momentos que antecedem minha participação em um estudo clínico em busca da vacina contra a Covid-19
Telefonei pela primeira vez para o pesquisador e endocrinologista Luis Augusto Russo no dia 8 de setembro de 2020. Estava melancólica por passar quase um semestre trancada em casa na quarentena imposta pela pandemia e havia ouvido na TV suas explicações sobre as pesquisas em busca da vacina contra a Covid-19. ‘Promissor’ deve ter sido a palavra que mais se repetiu cada vez que o noticiário relatava a corrida de laboratórios de todo o mundo para a produção de um imunizante contra o novo coronavírus. Tudo era promissor. Mas não havia perspectiva palpável de quando a vacina, se comprovada como eficaz, chegaria à população brasileira.
Naquele dia pensei – e decidi logo de cara – me voluntariar para ser testada. Pedi para o doutor Russo me aceitar como cobaia no projeto de pesquisa dele. “Por favor, nunca use a palavra cobaia. Ela é ofensiva para quem se voluntaria de forma altruísta para participar de um estudo clínico”, me explicou o doutor Russo. Aprendido. Na pandemia de coronavírus, não somos cobaias. Somos voluntários, não remunerados, de uma pesquisa clínica que tenta produzir uma vacina contra a Covid-19. Acho que existe uma espécie de orgulho de ser voluntária.
Mais de dois meses depois do primeiro contato, enfim chegou o grande dia: 17 de novembro de 2020. É quando vou receber a dose de vacina (ou placebo). A sensação é diferente de tudo que já vivi como jornalista. Curiosidade profissional à parte, estou ansiosa e, confesso, com um pouquinho de medo. O experimento estava programado para começar às duas da tarde.