Um passeio pelo Pão de Açúcar, mas muito mais perigoso do que você imagina
A oferta e a demanda por açúcar estão deixando a humanidade doente. E o problema começa cedo - às vezes antes de a criança nascer
A palavra Pão de Açúcar nos remete imediatamente ao monumento natural e maior cartão-postal da cidade do Rio de Janeiro. Mas não é desse açúcar que iremos falar.
Há cerca de 1000 anos, na Índia, iniciou-se a ideia de cristalizar o líquido proveniente da cana-de-açúcar, dando origem ao açúcar de mesa. Com as cruzadas e a chegada dos europeus à Ásia, a iguaria ganhou novos paladares e se tornou objeto de desejo.
Época difícil, de quase ou nenhum conhecimento científico sobre os efeitos dos alimentos no corpo, em que, diante da carestia, os sabores da vida tinham de ser aproveitados em sua plenitude. Na Idade Média, a expectativa de vida não chegava aos 40 anos.
O açúcar “original” praticamente desparece no século XVIII, dando lugar ao refinado, palavra que é sinônimo de requinte e elegância, mas que é uma total insensatez para o nosso organismo. O paladar se satisfaz, assim como na presença das gorduras, mas abrem-se as brechas a um ingrediente de potencial viciante.
Até a ciência ter essa compreensão, porém, levaríamos séculos. No passado, açúcar foi usado até como remédio. Na Ilha da Madeira, por exemplo, ofereciam frutas com açúcar cristalizado para prevenir o escorbuto, doença causada pela carência de vitamina C bastante comum nos marinheiros daquela época, que navegavam meses sem uma oferta alimentar adequada.
Mas, se antes só existiam os bolos simples, doces e balas artesanais, agora as indústrias exibem todo o seu arsenal de cores e sabores, misturando o refinado ao industrializado. Entra o artificial e sai o natural. Sai o caseiro e entra o marqueteiro.
A vida também muda. E, com a falta de tempo, a sociedade acaba optando pela praticidade e pelo prazer de se alimentar com o que está à mão. Eis o domínio do açúcar.
Começamos a escalar uma montanha perigosa e, se continuarmos com o consumo exagerado, provavelmente não chegaremos ao topo.
Essa caminhada, por incrível que pareça, começa no útero. Um estudo recente, que avaliou pacientes por 50 anos, observou que, entre mães que consumiam açúcar durante a gestação, seus filhos apresentavam maior risco de desenvolver diabetes e hipertensão na vida adulta. Se a oferta continuasse sendo feita às crianças até o terceiro ano de idade, essa chance mais do que duplicaria.
Mas a pergunta é: para que tanto açúcar? Crianças e gestantes não precisam e não devem consumir doces, balas, refrigerantes e outras guloseimas. Será que nunca foram informados disso?
Imagine uma droga que pudesse ficar exposta à altura dos olhos das crianças e disponível em todos os lugares. Já repararam como estamos cercados de açúcar? Nos supermercados, nas padarias, nas sorveterias, nas bancas de jornais e até nos caixas das farmácias!
Hoje, em todo e qualquer lugar, há uma grande oferta de doces e sabores com preço baixo e uma tentação incontrolável para muitos. Não precisa o mínimo esforço para consumi-los.
O empenho da sociedade para ao menos minimizar os excessos será longo. Uma solução imediata, a ser tomada dentro de casa, é: evitar comprar e oferecer (e desde cedo).
Na doce caminhada por uma trilha mais natural encontramos frutas, ar puro, água cristalina, sombra e paz. Se realmente queremos escalar a montanha da vida, precisaremos de saúde. Do contrário, só de bondinho ou maca.