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O cirurgião bariátrico e pesquisador na área de obesidade Cid Pitombo reflete, em seus textos, sobre alimentação, movimento, ganho... e perda de peso
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A tempestade digital: por que a desinformação é um tipo de doença

Colunista reflete sobre como a internet se tornou um ambiente propício para confundir a cabeça das pessoas e seu cuidado com a saúde

Por Cid Pitombo
4 nov 2024, 11h31

Não sei se todos aqui se lembrarão do lançamento do BlackBerry. Era um celular com um sistema de mensagens parecido com o atual WhatsApp. A empresa que o lançou, ao pensar no nome do aparelho, fez uma referência aos piratas. “BlackBerry” era a denominação dada à bola de ferro preta que ficava acorrentada no tornozelo dos bandidos da época. E a analogia foi perfeita. Assim como eles, já era esperado que as pessoas ficariam presas a essa nova mídia e não iriam mais a lugar algum sem ela.

Com o iPhone e as redes sociais, então, a revolução nos hábitos digitais se consumou de vez. A internet, que, em tradução literal, seria uma rede interligada de informações, acabou se tornando somente uma rede, como se fosse de pesca. E nós nem percebemos quando e se fomos pescados.

O Instagram, uma das mídias sociais mais populares do planeta, tinha como objetivo inicial fornecer uma plataforma em que as pessoas pudessem compartilhar fotos instantâneas. Logo percebeu o amplo universo que poderia alcançar e é, hoje, uma ferramenta multifuncional com vídeos e outros recursos, permitindo que pessoas se conectem e compartilhem interesses semelhantes (às vezes com lucrativas intenções por trás).

Atualmente, somos pescados pela rede, estamos acorrentados aos smartphones e, quase sempre, somos persuadidos de que tudo isso é o melhor para nossa vida e a das nossas famílias. Mas pensamos assim baseados no quê? Nessa nebulosa realidade, mergulhamos na era da desinformação, em que coexistem tentativas deliberadas e instrumentalizadas de manipular e confundir as pessoas nesse ambiente.

Entre as fake news e a picaretagem de influencers que querem ganhar seguidores e dinheiro, torna-se cada vez mais difícil, para nós médicos e profissionais de saúde, lutarmos contra esse fenômeno.

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A balança do que é informação correta e científica e o que não passa de achismo ou marketing está totalmente desequilibrada. Pesa mais o que não tem embasamento, mas tem engajamento. A credibilidade do influenciador ou profissional está ligada ao seu número de fãs. Quanto maior esse número, que pode até ser comprado, mais ele ganha confiança.

O paciente fica preso a essa rede e, para agravar a situação, sente-se seguro nela. Números de likes valem mais do que ciência.

Está se tornando impossível mensurar e reduzir o dano que toda essa desinformação tem causado à prevenção e ao tratamento das doenças. Nós, entidades médicas, agências reguladoras e órgãos governamentais estamos deixando essa imensa tempestade ser formada na nascente do rio e, quando ela chegar às cidades, não teremos condições para controlar os estragos.

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Falamos tanto de mudanças climáticas… Talvez devamos incluir essa tempestade na lista de problemas a enfrentar.

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