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Mesa, escola e bola

A desigualdade na qualidade do ensino ainda domina o jogo

Por Cristovam Buarque Atualizado em 9 ago 2024, 09h19 - Publicado em 9 ago 2024, 06h00
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  • Brasil está distante de atingir as metas da ONG Todos Pela Educação
    Poucos terminam o ensino médio com o conhecimento necessário para pleitear ingresso no superior (Washington Alves/Agência Estado/VEJA/VEJA)

    O presidente Lula demonstra indignação com a realidade das famílias sem comida farta à mesa nem diploma universitário na parede. Daí sua ênfase no ProUni, nas cotas, no Fies, na abertura de universidades públicas e no apoio às particulares. Graças a ações como essas, o Brasil mudou o perfil racial e social da população com acesso ao ensino superior. Porém, a desigualdade educacional conforme a renda e o endereço do aluno não diminuiu. Apesar dos avanços na democratização da educação, aumentou a distância entre pobres e ricos quando comparamos a qualidade do ensino.

    Além da persistência do analfabetismo pleno ou funcional entre as pessoas de baixa renda e os afrodescendentes, a educação de base com excelência continua restrita aos alunos que podem pagar boas escolas ou aos poucos que conseguem matrícula em raras escolas públicas de qualidade, quase todas federais. Apesar do substancial aumento nas matrículas do ensino fundamental, o mesmo não ocorreu com a frequência, a assistência, a permanência e o aprendizado em si. Poucos terminam o ensino médio com o conhecimento necessário para pleitear ingresso no superior. Raríssimos obtêm vaga nos disputados cursos de boas universidades. A exclusão continua ao longo dos estudos e até mesmo depois de formados.

    “A bola permite que a elite do futebol não decorra do elitismo social. O Brasil precisa ‘redondear’ suas escolas”

    A desigualdade não desaparecerá enquanto o acesso a escolas de base com qualidade continuar restrito. Universidade para todos é uma ilusão demagógica se o sistema educacional não superar a divisão entre “escolas senzala”, para a maioria pobre, e “escolas casa-grande”, para a minoria rica. O entorno do presidente precisa perceber que os produtos da mesa são comprados, mas a educação universitária é conquista de cada indivíduo, desde que tenha acesso à escola pública de qualidade. A mudança necessária não está em políticas que aumentem as vagas para ingresso no ensino superior. Está em garantir a universalização do egresso oriundo de escolas com a máxima qualidade para todos.

    O Brasil já fez esse movimento com o futebol: a bola redonda e as regras do jogo permitem que a elite futebolística não decorra do elitismo social; os craques chegam pelo talento, não pela renda da família. Mais do que vagas no ensino superior, o Brasil precisa “redondear” suas escolas: todas com a mesma qualidade suficiente para cada brasileiro ter o mapa que lhe permita buscar sua felicidade e as ferramentas que o ajudem na construção de um país melhor.

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    Aqueles que, por vocação, desejarem continuar poderão usar a persistência e o talento para levar o Brasil a um Prêmio Nobel, tanto quanto a bola redonda leva nossos melhores jogadores à Copa do Mundo. Quando isso acontecer, teremos produtividade para criar renda nacional suficiente e estrutura distributiva eficiente que permitam a cada família comprar o que precisa para a mesa. Até lá, felizmente temos bolsas, cotas e financiamentos como forma provisória de reduzir a penúria e evitar a condenação permanente do Brasil.

    Ocorre que a maioria pobre, que jamais aceitaria ver seus filhos condenados a jogar com bolas quadradas e os filhos dos ricos com bolas redondas, aceita que as escolas com qualidade sejam reservadas aos que podem pagar. Talvez por isso, apesar de sua indignação diante da desigualdade social, o presidente Lula nunca tenha se convencido a definir uma estratégia para “redondear” as escolas.

    Publicado em VEJA de 9 de agosto de 2024, edição nº 2905

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