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A solidão da USP

Não faz parte das ambições do país ter as melhores universidades

Por Cristovam Buarque Atualizado em 6 set 2024, 20h38 - Publicado em 6 set 2024, 06h00
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  • Foto aérea do Campus da Capital (Butantã) - USP
    Foto aérea do Campus da Capital (Butantã) - USP (Jorge Maruta/Jornal da USP/Divulgação)

    Em recente debate sobre “autonomia universitária”, no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, os professores Simon Schwartzman e Arlindo Philippi Jr. perguntaram por que o Brasil tem “apenas a USP entre as 100”, em vez de “algumas entre as cinquenta melhores”. Considerando nossa relevância demográfica e econômica, com 8 milhões de alunos no ensino superior, deveríamos estar em melhor posição. Sabe-se que sem autonomia para pensar e ensinar fica impossível um sistema universitário de qualidade.

    Uma razão fundamental de nosso atraso é que não faz parte das ambições nacionais estarmos entre os países com as melhores universidades do mundo. Optamos por termos muitas, mas não as melhores universidades; por massificar o número de alunos, e não por solidificar a qualidade da formação. Nós nos concentramos na meta de superar a injustiça de que só a elite econômica tem diploma universitário. Decidimos facilitar o acesso ao diploma, ignorando que a injustiça decorre do indecente descuido com a qualidade e a equidade na oferta de educação de base.

    “Há 10 milhões de analfabetos que saberiam ler e escrever se tivessem estudado no momento certo”

    No lugar de buscarmos escolas de máxima qualidade para todos, preferimos aceitar a desigualdade na base e compensar a injusta aberração social deixando de oferecer a mesma chance para todos e levar em conta o mérito do talento e do esforço de cada um. Determinamos que não é possível a mesma chance para todos e abolimos a exigência de mérito. Adotamos a autonomia sob a forma de autocentrismo para servir à própria comunidade acadêmica, e não ao país e à humanidade. O professor José Fernando Perez lembrou que nossas universidades só aceitam reitores que sejam da própria universidade e perdem a chance de ter dirigentes melhores. As universidades em posições melhores no ranking são mais ligadas à realidade, levam em conta as necessidades da população e as demandas do mercado. Não são prisioneiras de recursos apenas de governos, recebem doações, vendem serviços e ganham por patentes que desenvolveram.

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    A mais decisiva razão por estarmos atrás no ensino superior é o descuido histórico com a educação anterior à universidade. Todos os países com ensino superior de qualidade recebem nas universidades alunos bem preparados na base. As nossas desprezam até mesmo o problema que mais lhes afetam: a má qualidade da educação inicial, o imenso contingente de jovens que não terminam o ensino médio e aqueles que terminam sem qualidade. Ignoram, enfim, os cérebros desperdiçados entre os 10 milhões de adultos analfabetos, que saberiam ler e escrever se tivessem estudado no momento certo. Talvez em nome da justiça social nossas universidades prefeririam aceitar analfabetos do que participar de esforço pela erradicação do analfabetismo.

    Não temos mais universidades entre as melhores porque não temos essa meta e achamos que elas estão bem, apenas carecem de mais dinheiro público para gastá-lo com autonomia, sem reformar a estrutura. Sobretudo porque não contamos com alunos preparados, falando idiomas, que conhecem as bases das ciências e da matemática, buscando o ensino superior por vocação, e não por falta de um ofício e de conhecimento básico para enfrentar a vida.

    Publicado em VEJA de 6 de setembro de 2024, edição nº 2909

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