PRORROGAMOS! Assine a partir de 1,50/semana
Imagem Blog

Cristovam Buarque

Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

A educação da educação

O olhar exclusivo para os testes de avaliação é ruim

Por Cristovam Buarque Atualizado em 29 nov 2024, 12h37 - Publicado em 29 nov 2024, 06h00

Um dos passos positivos da educação a partir do final do século XX foi a adoção de práticas de avaliação como o Ideb e o Enem, no Brasil, e os testes de avaliação internacional do Pisa. Passamos a avaliar as escolas em função do número de alunos aprovados para ingresso na universidade. Os governos comemoram o aumento total do número de matriculados no ensino superior e as escolas exibem cartazes com fotos dos ex-­alunos aprovados. Não se avalia, contudo, o impacto da educação de base sobre os que não chegam ao ensino superior. É como se o propósito da avaliação de todo o sistema educacional fosse saber o sucesso de um vestibular, sem importar como ficaram os que não ingressaram, nem para que serviu entrar. Como se só importasse quantos chegam a uma ponte, sem considerar quantos não chegaram a ela e quantos alcançam o outro lado, nem qual o destino seguido depois pelos que conseguiram atravessá-la.

A avaliação da educação não tem levado em conta quantos não se matriculam no ensino fundamental, quantos abandonam a escola e ficam para trás no analfabetismo pleno ou funcional, quantos não concluem o ensino médio com qualidade e vivem despreparados para o mundo contemporâneo. A educação de base não tem sido avaliada como plataforma para lançar o jovem no mundo em que viverá, buscando sua felicidade pessoal e sua participação na construção de um mundo melhor. O que tem importado, insista-se, é quanto aumentou o número de alunos no ensino superior.

“É como se só importasse quantos chegam a uma ponte, e não quantos alcançam o outro lado”

As escolas não são avaliadas para saber se cada aluno concluiu sua educação de base sabendo falar, entender, escrever, criticar na língua portuguesa; se ficou fluente em pelo menos um idioma estrangeiro; se recebeu noções de oratória, para saber se expressar na vida social e profissional; se está preparado para entender o mundo ao conhecer ciências, história, geografia, filosofia; se aprendeu noções e conhecimentos que lhe facilitem deslumbrar-se com as artes; se adquiriu consciência necessária para se solidarizar com a humanidade; perceber a necessidade de desenvolvimento sustentável e solidário com a natureza e com os seres humanos; se adquiriu habilidade para o desempenho de um ofício que lhe permita emprego ou empreendedorismo para assegurar renda satisfatória; ser capaz de continuar aprendendo mesmo depois da escola; e, para os vocacionados, o conhecimento necessário para disputar vaga nos melhores cursos das melhores universidades.

A avaliação da educação precisa ser educada para deixar de ser apenas uma régua estatística. É fundamental levar em conta não apenas quantos ingressam, mas quantos concluem os cursos, quais as necessidades do curso, qual o efeito da formação na inserção profissional do aluno na sociedade e o valor do que aprendeu para ajudar a construir o país, sobretudo qual o seu preparo para se reciclar profissionalmente ao longo da vida.

Continua após a publicidade

É preciso educar a avaliação para que sirva ao seu verdadeiro papel: indicar se a educação está oferecendo a cada pessoa, desde a infância, o mapa para sua vida pessoal e para suas atividades sociais na direção de aumentar o grau de riqueza, liberdade, justiça, civilidade no país onde vive. Não há outro caminho para encaminhar um Brasil mais justo.

Publicado em VEJA de 29 de novembro de 2024, edição nº 2921

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

a partir de 35,60/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.