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Por que a obrigação de ser feliz só nos deixa mais doentes

Psiquiatra sueco lança livro que questiona idolatria da felicidade e investiga razões por trás do boom de ansiedade e depressão. Leia trecho exclusivo

Por Anders Hansen (tradução: Paula Diniz)
1 jul 2024, 12h29
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  • Você provavelmente vai se sentir triste de vez em quando. Talvez sofra de ansiedade leve, ou seja ocasionalmente tomado por um pânico total e absoluto. Quem sabe, em algum momento da vida, a realidade tenha parecido tão sombria que você mal conseguiu sair da cama.

    Pensando bem, isso tudo é um pouco estranho, pois dentro do crânio temos uma maravilha biológica tão avançada que deveria ser capaz de lidar com, bem… qualquer coisa.

    O seu cérebro, incrivelmente dinâmico e em constante mudança, consiste em 86 bilhões de células com pelo menos cem trilhões de conexões. Estas criam redes intrincadas que controlam todos os órgãos do corpo enquanto processam, interpretam e organizam um fl uxo infi nito de impressões sensoriais.

    O cérebro pode armazenar uma quantidade de informação equivalente a onze mil bibliotecas repletas de livros — essa é a dimensão do que a nossa memória consegue de fato reter. Ainda assim, dentro de uma fração de segundo, o cérebro pode pinçar as informações mais relevantes — mesmo que tenham sido armazenadas há décadas — e relacioná-las com o que você está passando no momento.

    Então, se o seu cérebro é capaz de tudo isso, por que não consegue dar conta de uma tarefa simples como a de nos fazer sentir fantásticos o tempo todo? Por que ele parece insistir em dar uma rasteira nas suas emoções? Esse mistério se torna ainda mais enigmático quando consideramos que vivemos em uma era de abundância sem precedentes, que teria impressionado quase qualquer rei, rainha, imperador ou faraó da história.

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    Hoje, vivemos mais, somos mais saudáveis que nunca e, se em algum momento nos sentirmos um pouco entediados que seja, todo o conhecimento e o entretenimento do planeta estarão sempre a apenas alguns cliques de distância. Ainda assim, mesmo que vivamos melhor do que nunca, muitas pessoas parecem estar sofrendo.

    Raro é o dia em que não há uma reportagem alarmante sobre o aumento de casos de problemas de saúde mental. Na Suécia, um em cada oito adultos faz uso de antidepressivos. A Organização Mundial de Saúde estima que 284 milhões de pessoas no mundo têm transtorno de ansiedade, enquanto 280 milhões sofrem de depressão. Teme-se que, em questão de anos, a depressão gere mais mortes do que qualquer outra doença.

    Então, por que nos sentimos tão mal mesmo quando tudo vai bem? Essa é uma pergunta que vem me atormentando ao longo da minha carreira. Será que 284 milhões de pessoas têm uma doença no cérebro? Um em cada oito adultos carece de certos neurotransmissores?

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    Por que nos sentimos tão mal mesmo quando tudo vai bem? Essa é uma pergunta que vem me atormentando ao longo da minha carreira. Quando percebi que não podemos simplesmente começar do ponto onde estamos, mas também é preciso fazer um balanço de onde estivemos, eu deparei com uma nova maneira de pensar.

    Felicidade não é a cura

    felicidade-cura

    Uma abordagem que não só proporciona uma compreensão mais profunda de nossa vida emocional, mas também descortina novas maneiras de melhorá-la. Acredito que a razão de nos sentirmos mal mesmo quando tudo vai bem é que esquecemos que somos seres biológicos.

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    É por isso que neste livro analisaremos nossa vida emocional e nosso bem-estar a partir de uma perspectiva neurobiológica, explorando os motivos de o cérebro funcionar dessa maneira. Tendo atendido milhares de pacientes, pude observar em primeira mão como esse conhecimento pode ser
    valioso.

    Isso nos dá uma visão mais profunda do que precisamos priorizar para nos sentirmos o melhor possível. Também nos ajuda a aprofundar nosso autoconhecimento, o que, por sua vez, nos torna mais gentis com nós mesmos.

    * Anders Hansen é um psiquiatra sueco e autor de Felicidade Não É A Cura, livro prestes a sair pela Editora Intrínseca

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