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O legítimo cavaleiro do dragão, recém-descoberto em manuscritos medievais

Uma entrevista com o estudioso Emanuele Arioli, que desvendou e recompôs em livro uma lenda perdida do universo do Rei Artur e a Távola Redonda

Por Diogo Sponchiato Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 12 ago 2024, 16h24

Esqueça a série de TV A Casa do Dragão! Nem que seja por um tempo. E conheça o verdadeiro Cavaleiro do Dragão, saído diretamente de manuscritos da Idade Média até então perdidos. Um guerreiro destemido que marca presença no circuito de histórias do mítico Rei Artur e enfrenta uma besta alada bem peculiar.

Este é Segurant, o protagonista de uma narrativa descoberta e reconstruída pelo paleógrafo franco-italiano Emanuele Arioli, cujo trabalho de detetive foi tema de uma reportagem de VEJA.

Em Segurant – O Cavaleiro do Dragão, publicado pela Editora Vestígio, o pesquisador reúne fragmentos dispersos, traduz os textos do francês antigo (inclusive para o português) e reconta uma aventura escrita entre os séculos XIII e XV. Aventura que tem um valor histórico e literário e, com vocação para atrair novos leitores, também ganha adaptação para os formatos de HQ e livro infantojuvenil.

Segurant - O Cavaleiro do Dragão

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Com a palavra, o autor.

Quando e como foi seu primeiro contato com a lenda de Segurant? E em que momento você percebeu que estava diante de um relato até então perdido?

Meu primeiro contato com a lenda de Segurant aconteceu em 2010, em um manuscrito conservado na Biblioteca do Arsenal, em Paris. Um copista medieval havia escondido vários episódios dessa lenda no meio de uma coletânea de profecias. Mas o manuscrito estava incompleto: ele parava no meio de uma frase. Então, formulei a hipótese de que não se tratava de episódios isolados, mas dos restos de um romance perdido.

Seguindo essa pista, conduzi uma investigação de dez anos pela Europa. Assim, encontrei 28 manuscritos e fragmentos da lenda de Segurant, conservados em sete países. Não só consegui provar que se tratava realmente de um romance perdido que fez um enorme sucesso na época, mas também consegui reconstruir quase todo o texto, cuja tradução publiquei em várias línguas.

Qual foi o momento ou a tarefa mais desafiadora nessa missão de reconstruir a narrativa de O Cavaleiro do Dragão?

A tarefa mais difícil ocorreu na biblioteca de Turim, que sofreu um terrível incêndio em 1904. Lá, trabalhei no meio de milhares de manuscritos carbonizados. O texto era ilegível a olho nu. Então, recorri a uma tecnologia de ponta, a imagem multiespectral, que consiste na elaboração computacional de fotos tiradas com diferentes comprimentos de onda, do infravermelho ao ultravioleta.

Foi assim que consegui ler esses manuscritos e descobrir um episódio-chave da lenda de Segurant: sua luta contra o dragão! Foi muito emocionante encontrar essa peça no meio dos manuscritos queimados. E, depois, foi preciso estudar em detalhes todos os fragmentos encontrados e entender o lugar de cada um deles nesse imenso quebra-cabeça cujas peças estavam espalhadas pelos quatro cantos do mundo.

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O paleógrafo Emanuele Arioli em ação na biblioteca (Foto: Editora Vestígio/Reprodução)

Por que o leitor contemporâneo deveria ter contato com essa história medieval? Qual é o seu valor literário?

A lenda do rei Arthur era a mais famosa da Idade Média: era amada em toda a Europa por suas histórias maravilhosas e épicas. Hoje, conservamos poucos desses romances medievais, e a minha descoberta revela uma parte totalmente desconhecida desse universo.

Seu protagonista nos impressiona por sua modernidade: Segurant é um herói atípico da Távola Redonda, vive aventuras rocambolescas e persegue um dragão que é apenas uma alucinação! Mais do que o Cavaleiro do Dragão, Segurant é o Cavaleiro sem Dragão! Ele já tem vários traços de Dom Quixote, o fidalgo que era louco pela cavalaria até perder a razão e perseguir quimeras. Três séculos antes dele, Segurant já era um herói moderno.

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