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Adultizadas, compulsivas e anabolizadas: um retrato da tirania da estética

Escritor francês compõe em novo livro uma caricatura um tanto real das pressões e desejos que aprisionam o corpo feminino

Por Diogo Sponchiato Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 27 out 2025, 16h30

Na infância, Elisabeth Vernn participava de concursos de mini-miss, uma carreira moldada e conduzida pela obsessão da mãe. Na adolescência, Elisabeth Vernn se rebelou e começou a comer e a engordar compulsivamente. No início da vida adulta, Elisabeth Vernn se revoltou mais uma vez e passou a injetar esteroides para virar uma obra de arte musculosa.

Esses são os três atos da trajetória de uma americana de classe média cujo corpo – e as aspirações e metamorfoses pelas quais ele passa – governa os holofotes, as angústias e a trama de Flórida, o novo romance do escritor francês Olivier Bourdeaut, recém-publicado no Brasil pela Autêntica Contemporânea. 

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Flórida, de Olivier Bourdeaut (Tradução: Monica Stahel; Autêntica Contemporânea; 216 páginas) (Capa: Autêntica/Reprodução)

A história se passa no ensolarado estado do título, ressoando outro ativo exportado e globalizado pelo sonho americano. O palco onde a protagonista, Elisabeth Vernn, um dia uma criança presa à atmosfera da indústria de modelos mirins, se transformará numa rata bombada de academia, insuflada por anabolizantes e a perspectiva de estampar um ensaio fotográfico.

Muito abaixo da superfície, essa é a jornada de uma mulher em busca de libertação. E inadvertidamente refém de sucessivas prisões. A jaula é seu corpo. Pelas grades o que se vislumbra é a tirania da estética, hoje tão amplificada pelas redes sociais.

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Elisabeth Vernn concentra e personifica um emaranhado de desejos, frustrações e dores de inúmeras outras mulheres que vivem no mundo além das páginas. Porque esse drama é bem real. E começa cedo.

Com a palavra, Olivier Bourdeaut.

Olivier-Bourdeaut
O escritor francês Olivier Bourdeaut, autor de ‘Flórida’ (Foto: Sandrine Cellard/Reprodução)
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Qual foi o insight por trás do livro? Houve algum episódio que o inspirou a escrever Flórida?
Após uma noite de bebedeira, enquanto assistia à televisão, acabei caindo em um documentário sobre mini-misses. Para ser sincero, no início aquilo era tão absurdo que comecei a rir do ridículo. Mas logo senti outra coisa: um incômodo. Percebi os olhares que as meninas trocavam com suas mães. E se, às vezes, as pequenas pareciam felizes por estarem ali, vi também algumas mini-misses aterrorizadas — pela situação, evidentemente, mas também pelos olhares de suas mães. Foram esses olhares, ao mesmo tempo aterrorizados e aterrorizantes, que me deram vontade de escrever este livro.

É o lado aterrorizante da busca pela beleza…
O romance é também uma história de vingança. A vingança é um combustível poderoso que, infelizmente, conduz a um beco sem saída. Durante a juventude, Elisabeth tenta se vingar da mãe por sua insistência obsessiva. O instrumento dessa vingança será o próprio corpo — esse corpo que foi, ao mesmo tempo, a origem de sua humilhação e o meio de sua queda. Seu corpo e sua vingança acabam se tornando prisões.

Entre a adultização das crianças e o uso de esteroides para moldar o corpo, o que mais o assusta na ditadura estética?
Sou a favor da liberdade, desde que se trate de um adulto. As pessoas maiores de idade fazem o que quiserem da vida e do corpo. No entanto, vestir meninas pequenas como mulheres sensuais e provocantes me apavora. Elas entram em um mundo que não é feito para elas. Precisam lutar, competir com outras vítimas. É algo profundamente doentio para começar a vida, e pode desestruturar toda uma existência. É o que acontece com Elisabeth, minha protagonista, que tem o azar de vencer o primeiro concurso de mini-miss em que participa. Depois dessa vitória, o resto de sua vida será apenas uma sucessão de fracassos.

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Você acredita que essa cultura do culto ao corpo, alimentada pelas redes sociais, é um dos fatores que levam tantas pessoas à ruína mental hoje?
Acredito que sim, que pode ser uma das explicações. Nas redes sociais, as pessoas comparam suas vidas reais a vidas artificiais — filtradas, multicoloridas — e passam a achar que sua própria existência é triste, cinzenta e sem graça. Não faz bem para o moral pensar que se tem uma vida sem interesse, que a própria existência é insignificante em comparação à dos outros.

Em que medida a literatura pode ser um antídoto para esse fenômeno?
A meu ver, a literatura não deve denunciar, mas descrever. É a descrição — e só ela — que provoca uma reação. Aliás, no caso da minha protagonista, Elisabeth Vernn, alguns leitores acharam-na insuportável. Mas a grande maioria entendeu que sua infância a havia tornado incontrolável. Cada leitor reage como quiser. Essa é a força da literatura: suscitar reações opostas.

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