7 leituras para entrar no clima de desafio da COP30
Livros recém-lançados ajudam a entender e a refletir sobre as questões e dilemas ambientais que serão discutidos no encontro global
Das estratégias para negar e menosprezar o aquecimento global ao impacto das agressões ao meio ambiente e a inúmeras comunidades, uma leva de novos livros esmiúça, na análise investigativa ou na ficção, alguns dos desafios mais prementes hoje – muitos deles em pauta na COP30, em Belém do Pará.
Mercadores da Dúvida
Autores: Naomi Oreskes e Erik Conway
Tradução: Fernando Santos
Editora: Quina
Páginas: 512
Finalmente publicado no Brasil, o livro escrito pela reputada dupla de historiadores da ciência escancarou como a indústria do cigarro recrutou cientistas para tentar contrapor o crescente corpo de evidências sobre os danos à saúde causados pelo tabagismo desde os anos 1960. Ao plantarem dúvidas na imprensa, nos governos e na sociedade, as empresas conseguiram turvar o debate, mesmo cientes dos perigos associados ao cigarro. E essa mesmíssima estratégia – inclusive com muitos dos mesmos agentes – foi adaptada ao combate a outros eventos confirmados por pesquisas, como a chuva ácida e o buraco na camada de ozônio. Mais recentemente, o lobby e a contranarrativa supostamente científica têm sido dirigidos aos esforços de contenção do aquecimento global. Uma obra que nasceu clássica e urgente.
Orbital
Autora: Samantha Harvey
Tradução: Adriano Scandolara
Páginas: 192
Editora: DBA Literatura
Seis astronautas dividem uma estação espacial internacional viajando pelas órbitas do nosso planeta. Oriundos de diferentes países, eles enfrentam, em comum, as peculiaridades de viver em outra gravidade e realidade, centenas de quilômetros distantes de sua Terra natal. Dividem sua rotina, assim, entre experimentos científicos, reparos técnicos, refeições empacotadas e os sentimentos de quem perde entes queridos ou mesmo o convívio com os filhos em prol de uma missão. No romance vencedor do Booker Prize de 2024, a escritora britânica tece uma meditação com descrições exuberantes e poéticas do globo terrestre visto lá de cima – imagens que suscitam não só uma apreciação estética, mas também a preocupação com a nossa única morada no universo, ao menos por enquanto.
O Global e o Planetário
Autor: Dipesh Chakrabarty
Tradução: Artur Renzo
Editora: Ubu
Páginas: 352
O historiador indiano propõe uma revisão da escrita da história humana. Para ele, os registros do nosso percurso até aqui devem incluir também a história do planeta e de nossas interferências nele. O professor argumenta que há uma distinção entre “global” (um termo ligado à geopolítica e ao homem) e “planetário” (que nos remete ao fato de que a humanidade não existe apartada da natureza). Na obra, Chakrabarty, considerado um baluarte do pensamento pós-colonial, usa sua própria experiência crescendo na Índia, um país afetado pela exploração ambiental, para criticar a busca por progresso a qualquer custo, e aprofunda a tese que vem defendendo desde 2009: precisamos nos lembrar de que fazemos parte de um ecossistema planetário. (Chloé Pinheiro)
A Trama das Árvores
Autor: Richard Powers
Tradução: Carol Bensimon
Editora: Todavia
Páginas: 648
Esse romance, vencedor do Prêmio Pulitzer, é uma rara peça literária que coloca as árvores como legítimos personagens do enredo, e elas acompanham a vida, as alegrias e as dores de indivíduos, famílias e gerações humanas – que, por sua vez, ajudam a contar parte da construção dos Estados Unidos. A obra do consagrado escritor americano, que passou a morar próximo a uma reserva natural, também é uma das poucas a mergulhar nos dramas e dilemas dos ambientalistas, em meio a guerras e guerrilhas contra empresas e governantes. Sem pretensões de didatismo ou ativismo, a narrativa faz despertar nosso olhar para as árvores através de algo um tanto quanto humano: o poder de conceber e entrelaçar histórias fascinantes e angustiantes.
Nossos Índios, Nossos Mortos
Autor: Edilson Martins
Editora: Letra Capital
Páginas: 288
Depois de 50 anos de sua primeira publicação, o livro do jornalista brasileiro, até então esgotado, ganha uma nova edição. Ali estão reunidos artigos e reportagens que saíram em grandes veículos da imprensa na década de 1970 sobre a vida e o extermínio de povos indígenas no país. A causa, claro, continua atual. A suposta onda do progresso, da qual muitas aldeias tentaram fugir, arrebanhou terreno por meio do garimpo, da extração de madeira e da agropecuária – movimentos que resultaram em desmatamento, destruição da biodiversidade e a desintegração de etnias e grupos originários com tradições únicas e um papel crucial na preservação do meio ambiente. Ao longo das páginas, entre textos e fotos, conhecemos um Brasil que demorou a acordar diante da violência contra as terras e culturas indígenas.
Doce Amargo
Autor: João Marcos Mendonça
Editora: Nemo
Páginas: 184
Nos dez anos do rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana (MG), o quadrinista mineiro nos apresenta uma graphic novel sobre o “maior desastre ambiental do Brasil”. Em tom biográfico, a obra acompanha como a tragédia repercutiu na rotina de sua família, mesmo morando em outra cidade, e na vida de milhares de outras pessoas que perderam parentes, casas, empregos e inclusive a saúde. Doce Amargo retrata o cenário de caos e as tentativas de reparação que sucederam ao episódio que colocou a empresa responsável pela barragem na Justiça, além de expor o legado destruidor da invasão da lama tóxica pelo Rio Doce e suas vizinhanças. Uma advertência para que não negligenciemos nunca mais as operações que podem colocar o meio ambiente e a sociedade em clima de pesadelo.
Nave Chamando Terra
Autor: Martín Blasco
Tradução: Joca Reiners Terron
Editora: FTD
Páginas: 112
Estamos em um futuro em que uma Nave, que também é um sistema de inteligência artificial, conduz, ao longo de uma centena de anos, uma tripulação de seres humanos até outro lugar habitável no universo. A Terra entrou em colapso ambiental e geopolítico, e essa jornada pelo espaço, inclusive intergeracional, busca encontrar e instalar uma colônia de renascimento para a humanidade. Acontece que uma das especialistas em voo percebe que a IA está fazendo movimentos e experimentos autônomos, escapando das ordens prévias de comando. Pior: teria suprimido tentativas de contato da Terra. É a partir daí que a trama vira um suspense em que a ideia de heróis e vilões se dilui entre humanos e máquinas. O livro do escritor argentino, um dos grandes nomes da literatura infantojuvenil contemporânea, instiga reflexões sobre o planeta e as tecnologias que queremos ter.
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