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Coluna da Lucilia

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Uma mão lava a outra

Jamais esqueçamos do sentido saudável dessa expressão

Por Lucilia Diniz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 10h46 - Publicado em 5 Maio 2023, 06h00
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  • A OMS, Organização Mundial da Saúde, escolheu o dia 5 de maio para lembrar a importância da higiene das mãos. As campanhas relativas à data, que faz parte do calendário da entidade desde 2009, são voltadas para os profissionais de cuidados médicos. No entanto, nos últimos três anos, a importância desse hábito se tornou cada vez mais presente para todos. Cartazes lembrando o passo a passo para uma lavagem eficiente se espalharam por toda parte, e frascos de álcool em gel se tornaram um acessório comum.

    A língua portuguesa, e não só ela, está cheia de expressões que dizem respeito às mãos. Isso é mais do que compreensível: boa parte do nosso cotidiano passa por elas, desde o momento em que tateamos no escuro para desligar o alarme que nos desperta até a hora que apagamos a luz da cabeceira para dormir.

    Se precisamos de uma ajuda, pedimos uma mão; se algo se consegue fácil, dizemos que foi obtido de mão beijada. O que está perto está à mão, já um lugar distante é fora de mão. Se uma obra de arte tem o estilo claro de alguém, é porque se nota a mão de quem a criou. Um bruto tem mão de ferro; uma pessoa delicada, mãos de fada. Quando a cozinheira é muito boa, dizemos que é de mão-cheia; se tentamos copiar uma receita e erramos, dizemos que não acertamos a mão. As mãos nos alimentam, nos conduzem. Elas tocam tudo.

    “Água limpa não é um recurso garantido a todos de maneira uniforme no Brasil”

    Não à toa, neste ano, a OMS resolveu destacar, na campanha, a necessidade de ação conjunta para a adoção da higiene das mãos, dirigindo-se às organizações da sociedade civil. Com isso, pretende nos lembrar de que juntos, de mãos dadas, podemos mais do que sozinhos. Uma mão lava a outra, e as duas lavam o rosto, já ensinava o ditado.

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    Como em tudo o que diz respeito a grandes ações, a desigualdade também deixa sua marca nessa questão. Um paciente de um país em desenvolvimento tem mais que o dobro de risco de adquirir uma infecção hospitalar do que um paciente de um país rico. A medida mais simples para minimizar esses riscos é — adivinhe — lavar as mãos.

    Dito assim, parece simples, mas só em 1847 um médico percebeu a importância do gesto. Observando os casos de mães que sofriam de febre pós-parto no Hospital Geral de Viena, Ignaz Semmelweis concluiu que lavar as mãos podia salvar vidas. Naquela época, ainda se acreditava que eram vapores o que causava as doenças. Demorou mais três décadas até que Louis Pasteur, usando um microscópio, conseguisse provar de vez que elas eram ocasionadas por germes e determinasse que a higiene era obrigatória para preservar a saúde. Parece incrível, mas ainda existe por aí quem desconheça isso.

    Porém não é só por desinformação que se alastram vírus e bactérias. Água limpa não é um recurso garantido a todos de maneira uniforme. No Brasil, quase metade da população não tem acesso à rede de esgoto, e 16%, à rede de água. A meta do novo marco legal do saneamento é ambiciosa, pretendendo quase zerar esse déficit nos próximos dez anos.

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    Para que isso aconteça, porém, é preciso que aqueles em condição de impulsionar o saneamento ponham a mão na consciência e, ao contrário do que conta o episódio bíblico, não lavem as mãos como Pôncio Pilatos.

    Publicado em VEJA de 10 de maio de 2023, edição nº 2840

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